Serralves e a Cinemateca condensam a obra de Manoel de Oliveira num só livro

Catálogo raisonné do realizador de Aniki-Bóbó é apresentado este sábado no Porto, na Casa do Cinema, e na segunda-feira em Lisboa, na Cinemateca. Uma vida inteira em 850 páginas.

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Fotografia de rodagem de Francisca, 1981 Joaquim Gabriel Lopes
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Uma extensa filmografia com 56 títulos, numa obra que começou no tempo do mudo, atravessou o século do cinematógrafo e abraçou ainda a tecnologia digital no dealbar do século XXI faz a súmula da vida de Manoel de Oliveira (1908-2015), que agora ficará também registada num só livro. Trata-se do catálogo raisonné da obra do realizador de Douro, Faina Fluvial (1931) até O Velho do Restelo (2014), editado pela Fundação de Serralves e pela Cinemateca Portuguesa, e que este sábado, às 15h30, vai ser lançado publicamente no auditório da Casa do Cinema Manoel de Oliveira (CCMO), na fundação portuense.

Na sessão – que, na próxima segunda-feira, dia 9, será replicada na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa – participam os autores da iniciativa, António Preto, director da CCMO, e José Manuel Costa, ex-director da Cinemateca, e também estará presente o sucessor deste último, Rui Machado.

Esta é uma iniciativa inédita no panorama editorial nacional no que à Sétima Arte diz respeito. “No contexto português, é certamente o primeiro catálogo raisonné dedicado à obra de um cineasta”, confirma ao PÚBLICO António Preto, justificando a ambição da iniciativa com a extensão, a longevidade e a relevância, tanto nacional como internacional, da obra de Oliveira.

O director da Casa do Cinema e o ex-director da Cinemateca são, de resto, dois dos quatro autores dos ensaios que abrem o extenso volume de perto de 850 páginas, ao lado dos críticos e ensaístas Bruno Roberti e Mathias Lavin.

“Pareceu-nos importante que houvesse uma abertura a pontos de vista diferenciados, e também de fora do país, neste momento em que a obra de Oliveira está fechada, o que justifica a existência de um catálogo raisonné”, nota António Preto.

E a escolha dos olhares estrangeiros recaiu sobre um italiano e um francês, “dois dos países que tiveram mais peso e mais importância naquilo que foi a reflexão crítica sobre a obra do Oliveira”, acrescenta. Bruno Roberti, crítico, professor e historiador do cinema italiano, acompanhou muito de perto o desenrolar da obra do cineasta português – dedicou-lhe mesmo o livro Manoel de Oliveira. Il Visibile dell’Invisibile (Fondazione Ente dello Spettacolo, Roma, 2012); Mathias Lavin, crítico, teórico de uma geração mais nova e professor na Universidade de Poitiers, escreveu a primeira tese em França sobre o cinema do realizador de Vou para Casa, com o título La Parole et le Lieu: Le Cinéma selon Manoel de Oliveira (Presses Universitaires de Rennes, 2008).

História crítica

Uma segunda secção do catálogo reúne os dados filmográficos da obra de Oliveira, revistos, corrigidos e transcritos directamente a partir dos filmes. “Houve um esforço de revisão minuciosa e de estabilização das fichas técnicas, algo que parece simples e evidente, mas que está longe de o ser”, nota o director da CCMO, lembrando casos de pessoas que trabalharam num dado filme, mas cujo nome não aparece creditado.

Segue-se uma série de imagens recolhidas também a partir dos suportes fílmicos originais; e uma selecção de textos críticos publicados à época da estreia dos filmes ou posteriormente, que fazem a sua história crítica e mostram como cada obra “foi sendo recebida ao longo do tempo, em Portugal e lá fora”, explica António Preto.

A terceira parte do catálogo contém a biografia de Manoel de Oliveira, a sua filmografia activa e passiva e uma selecção de fotografias de rodagem, além ainda de uma extensa bibliografia (livros, catálogos, artigos, trabalhos académicos, etc.) e de uma síntese dos principais prémios, homenagens, retrospectivas e exposições.

Em 2025, o catálogo raisonné de Manoel de Oliveira terá também uma versão em língua inglesa.

A sessão de lançamento, este sábado à tarde, no Porto, será seguida, pelas 17h, no auditório do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, de uma leitura-performance pela actriz Leonor Silveira, figura central na filmografia de Oliveira das últimas décadas, coreografada pelo francês Jérôme Bel, no programa paralelo à exposição patente na Casa do Cinema, Tendo em linha de conta os tempos actuais, que revela a obra plástica de Jean-Luc Godard (1930-2022).

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