Mário Soares, uma celebração que só os extremos não partilham
Teresa de Sousa, jornalista do Público deste a fundação, que com Soares partilhou o exílio em Paris e acompanhou de perto o seu percurso desde os alvores da revolução é a nossa convidada.
Mário Soares nasceu faz neste sábado 100 anos. A efeméride está a ser celebrada um pouco por todo o país. Se no seu tempo de vida esteve longe de ser uma figura histórica consensual, hoje é considerado por amplas camadas da opinião como uma figura central do Portugal democrático. A sua competência como primeiro-ministro por três vezes é discutida e discutível. A sua visão da liberdade, da democracia pluralista e parlamentar, o seu combate contra os extremos da política, fossem da esquerda radical ou da direita que a quis proibir nos dias quentes de 1975, ou a sua visão sobre a necessidade e integração de Portugal na Europa são alicerces fundamentais do país que se fez depois de Abril de 1974. Sem o seu combate e a sua tolerância, o país seria muito provavelmente diferente do que é. Seria seguramente pior.
Mário Alberto Nobre Soares nasceu em Lisboa em 1924 e ainda antes de fazer 20 anos estava já na linha da frente dos movimentos oposicionistas contra o Estado Novo de António de Oliveira Salazar. Licenciou-se em direito, mas a luta pela liberdade ficou sempre à frente de uma carreira como jurista ou como académico. Foi preso doze vezes pela PIDE e passou os últimos quatro anos da ditadura no exílio. Pelo meio, construiu o Partido Socialista a partir de uma base de republicanos de velha cepa e socialistas moderados. No 25 de Abril, o partido estava ainda cru e incapaz de dispor de uma rede pelo país. Mas em 1975, muito por obra de Soares, ganhou as eleições para a Assembleia Constituinte, liderou o combate contra a deriva esquerdista das ruas ou dos círculos militares e esteve do lado dos vencedores do 25 de Novembro. Mas, mesmo nessa condição, opôs-se aos radicais da direita que queriam empurrar os comunistas para o mar.
Soares, como todos os grandes homens, esteve longe de ser perfeito. Os seus erros, as suas fraquezas, as suas debilidades executivas ficaram por demais provadas na sua carreira. Mas a sua imagem de lutador, de defensor das liberdades, de obstáculo intransponível a todas as tentações autocráticas, da esquerda ou da direita, prevaleceu. Se não passa no teste para herói pelo que governou, é-o sem dúvida pelo legado de tolerância, pluralismo e liberdade que deixou ao país. Numa altura em que os populismos e as demagogias de pendor nacionalista e autoritário voltam a emergir, Mário Soares é um exemplo tão necessário como o foi no Processo Revolucionário em Curso. Na altura contra as pulsões da esquerda revolucionária, hoje contra a direita retrógrada e revanchista.
Teresa de Sousa, jornalista do Público deste a fundação, que com Soares partilhou o exílio em Paris e acompanhou de perto o seu percurso desde os alvores da revolução é a nossa convidada para nos falar de Mário Soares. Em 2011, quando a crise do Lehmann Brothers e a austeridade da "troika" obscureciam o horizonte, Teresa de Sousa e Mário Soares escreveram o livro Portugal tem Futuro.
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