Roménia alvo de “agressivos ataques híbridos russos” durante campanha eleitoral

Calin Georgescu, apoiante do Kremlin e anti-NATO, pode sair vencedor da segunda volta das presidenciais romenas, no domingo. Resultados surpreendentes levantam suspeitas sobre intervenção externa.

Foto
Calin Georgescu venceu a primeira volta das presidenciais na Roménia Alkis Konstantinidis / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
03:36

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Documentos revelados esta quarta-feira pelo Conselho de Segurança da Roménia indicam que o país foi alvo de “agressivos ataques híbridos russos” durante as últimas semanas, em período de campanha para as eleições legislativas e presidenciais, ambas marcadas pela ascensão da extrema-direita.

Os romenos vão voltar às urnas para a segunda volta das eleições presidenciais no próximo domingo, 8 de Dezembro, das quais poderá sair vencedor Calin Georgescu, candidato de extrema-direita, apoiante do regime de Vladimir Putin e anti-NATO.

Ainda que as sondagens atribuíssem a Georgescu apenas cerca de 5% das intenções de voto, o candidato independente acabou por alcançar uns inesperados 22,9% dos votos e vencer a primeira volta das presidenciais, a 24 de Novembro, levantando questões sobre como conseguiu essa subida drástica.

Um pouco atrás ficou a candidata do União para Salvar a Roménia, Elena Lasconi (centro-direita), com 19%, seguida pelo primeiro-ministro, Marcel Ciolacu, do Partido Social Democrata, que partia como favorito — resultados expressivos quanto à insatisfação generalizada com os partidos tradicionais romenos (os sociais-democratas e o Partido Liberal).

Num dos documentos agora revelados, os serviços secretos romenos concluem que Georgescu foi amplamente promovido na rede social TikTok, através de bots, algoritmos de recomendação e publicidade paga, que terão contribuído para tornar virais os seus vídeos. O candidato ultranacionalista não declara qualquer custo da sua campanha eleitoral, feita quase exclusivamente nas redes sociais, sem sede ou apoio partidário.

As suspeitas de uma possível interferência por parte do TikTok na campanha já levaram a Roménia a pedir uma investigação à Comissão Europeia e os eurodeputados a apelarem a que Shou Zi Chew, director executivo da plataforma detida pela chinesa ByteDance, fosse chamado a prestar esclarecimentos.

Quanto à alegada intervenção russa, os serviços secretos da Roménia detalham que os dados de acesso de utilizadores romenos aos sites oficiais das eleições do país foram divulgados em plataformas russas de cibercrime. No total, foram identificados mais de 85 mil ciberataques dirigidos a vulnerabilidades dos sistemas informáticos.

A Rússia já negou qualquer interferência nas eleições presidenciais romenas, assim como Calin Georgescu, que quer acabar com o apoio romeno a Kiev, nega ter recorrido às redes sociais para obter qualquer vantagem nas eleições.

“Os ataques continuaram de um modo intensivo, incluindo no dia das eleições e na noite seguinte”, lê-se num dos documentos divulgados pelos serviços secretos. “Os métodos e a dimensão da campanha levam-nos a concluir que o responsável dispõe de recursos consideráveis, próprios de um Estado atacante.”

Já na semana passada, a Autoridade de Regulação das Comunicações da Roménia (Ancom) tinha pedido a suspensão do TikTok em território nacional até que fosse concluída uma investigação a suspeitas de manipulação do processo eleitoral pela plataforma.

Num período eleitoral agitado, a Roménia também realizou eleições legislativas no passado domingo, 1 de Dezembro, dando a vitória ao líder do Governo, o Partido Social Democrata. As eleições ficaram marcadas pelo crescimento do antigo partido de Calin Georgescu, o Aliança pela União dos Romenos (AUR), de extrema-direita. O país, um regime semipresidencialista, aguarda agora pela segunda volta das presidenciais para conhecer o próximo executivo.

Georgescu foi expulso do AUR por ser considerado demasiado radical, depois de assumir posições pró-Kremlin e anti-NATO, aliança de que a Roménia faz parte desde 2004, além de tecer elogios à Guarda de Ferro, movimento fascista criado na década de 1920 no país. O actual líder do AUR, George Simion, ficou em quarto lugar na primeira volta das presidenciais e já apelou ao voto em Georgescu na segunda volta.