Koyo Kouoh, “uma surpresa”, será a próxima curadora da Bienal de Veneza

Pela primeira vez a Bienal de Veneza terá uma mulher nascida em África a liderá-la. Foi uma inesperada decisão do novo presidente, já escolhido pelo Governo de Giorgia Meloni.

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Koyo Kouoh vive e trabalha entre a Cidade do Cabo, Dakar e Basileia Jared Siskin/PMC/Getty Images
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A suíço-camaronesa Koyo Kouoh será a curadora-geral da próxima Bienal de Arte de Veneza, que terá a sua 61.ª edição em 2026, anunciou esta terça-feira a organização. Koyo Kouoh, a primeira mulher de origem africana a liderar aquela que é uma das mais influentes bienais do circuito internacional, confirma a tendência da instituição veneziana para “concentrar-se em regiões do mundo que permaneceram periféricas ao panorama internacional da arte contemporânea durante demasiado tempo”, notava o jornal La Reppublica.

Mas a escolha, que seguiu a recomendação do novo presidente, Pietrangelo Buttafuoco, “é para muitos uma surpresa”, continua o diário italiano, “porque está em estreita linha de continuidade com o seu antecessor [no cargo], Roberto Cicutto", que não foi confirmado pelo Ministério da Cultura do Governo de Giorgina Meloni, de direita radical. Cicutto, que abandonou a direcção da Fundação Bienal de Veneza em Março de 2024, indicou como comissário da última edição da bienal o brasileiro Adriano Pedrosa, que escolheu o mote Estrangeiros em Todos os Lugares como tema da exposição que encerrou em Novembro.

Pietrangelo Buttafuoco, jornalista e escritor, é conhecido pela sua vinculação a movimentos de extrema-direita e autor de uma biografia de Silvio Berlusconi. Sobre Kouoh, e citado no comunicado desta terça-feira, declarou: "A nomeação de Koyo Kouoh como directora do sector das artes visuais é o reconhecimento de uma visão na aurora de um dia cheio de novas palavras e novos olhares. A sua perspectiva de curadora, de académica e de figura pública influente vai ao encontro das inteligências mais refinadas, mais jovens e mais disruptivas. Com ela, a bienal confirma o que oferece ao mundo há mais de um século: ser a casa do futuro."

Se a Bienal de Arquitectura de Veneza já tinha sido liderada por uma mulher da diáspora africana na Europa — Lesley Lokko, curadora da 18.ª Exposição Internacional de Arquitectura, nasceu na Escócia e tem as suas origens familiares no Gana —, esta é a primeira vez que a Bienal de Arte de Veneza terá uma mulher nascida em África a liderá-la. Recorde-se que, em 2105, Okwui Enwezor, que nasceu na Nigéria, foi o primeiro curador de origem africana a dirigir o evento.

Kouoh, que vive e trabalha entre a Cidade do Cabo, na África do Sul, Dacar, no Senegal, e Basileia, na Suíça, assinala igualmente o comunicado de imprensa, é actualmente directora-executiva do Zeitz Museum of Contemporary Art Africa (Zeitz MOCAA), na Cidade do Cabo, cargo que ocupa desde 2019 e acumula com o de curadora-chefe da mesma instituição. Foi aí que juntamente com a zimbabuana Tandazani Dhlakama, assinou a exposição When We See Us – A Century of Black Figuration in Painting, apresentada no MOCAA entre 2022 e 2023, e que chegou ao Kunstmuseum Basel este ano. Sobre esta exposição, o crítico do PÚBLICO José Marmeleira escreveu: “Para os espectadores, qualquer que seja a sua origem, ver pela primeira vez trabalhos de muitos dos artistas presentes será uma experiência inesquecível e irrepetível.”

Do seu currículo, faz parte a direcção artística da RAW Material Company, um centro artístico em Dacar do qual foi curadora. Participou nas equipas curatoriais da documenta 12 (2007) e da documenta 13 (2012), a exposição internacional de arte contemporânea que se realiza a cada cinco anos na cidade alemã de Kassel, e que rivaliza com Veneza no calendário internacional da arte contemporânea.

Koyo Kouoh comentou a sua nomeação com estas palavras: "A Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza é o centro de gravidade da arte há mais de um século. Artistas, profissionais de arte e de museus, coleccionadores, negociantes, filantropos e um público sempre crescente convergem para este local mítico de dois em dois anos para sentir o pulso do Zeitgeist.”

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