Hezbollah faz “ataque defensivo” em resposta à violação de tréguas israelita

O Hezbollah assumiu ter efectuado ataques, mas alega terem sido uma resposta “defensiva” às violações do acordo de cessar-fogo por parte de Israel. Netanyahu promete resposta “enérgica”.

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Um ataque israelita perto do Sul do Líbano, a 2 de Dezembro. O acordo de cessar-fogo começou a 27 de Novembro ATEF SAFADI / EPA
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O Hezbollah assumiu ter efectuado um “ataque de aviso defensivo” contra uma posição militar israelita, na zona disputada de Shebaa Farms, esta segunda-feira, e justifica o acto com as repetidas violações do cessar-fogo por parte de Israel, nomeadamente através de ataques aéreos e bombardeamentos no Líbano.

Os militares israelitas, por sua vez, afirmaram que o Hezbollah lançou dois mísseis, mas não há vítimas a registar. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que Israel responderia “energicamente” ao ataque do Hezbollah.

A Agência Nacional de Notícias do Líbano (NNA) já tinha informado que as forças israelitas tinham disparado dois projécteis de artilharia contra a cidade de Beit Lif, no distrito de Bint Jbeil, no Sul do Líbano. Não foram, no entanto, registados feridos em nenhum dos incidentes, disse a NNA, mas um outro ataque israelita feriu várias pessoas na cidade de Talousa.

As autoridades libanesas afirmaram também que os ataques israelitas no Sul do Líbano mataram pelo menos duas pessoas esta segunda-feira, numa altura em que a ideia de um cessar-fogo, após mais de um ano de hostilidades entre Israel e o grupo armado libanês Hezbollah, parece cada vez mais frágil.

A trégua, que entrou em vigor a 27 de Novembro, estipula que Israel não realizará operações militares ofensivas contra alvos civis, militares ou outros alvos estatais no Líbano. O Líbano, por sua vez, deverá impedir quaisquer grupos armados, incluindo o Hezbollah, de realizar operações contra Israel.

As duas potências já trocaram acusações de infracções e, na segunda-feira, o Líbano afirmou que as violações se tinham tornado mortais.
Uma pessoa foi morta num ataque aéreo israelita à cidade de Marjayoun, no Sul do Líbano, a cerca de 10 km da fronteira Norte de Israel, informou o Ministério da Saúde libanês.

O departamento de segurança do Estado libanês afirmou que um ataque de um drone israelita matou um dos seus membros, enquanto este se encontrava em serviço em Nabatieh, a 12 km da fronteira. A segurança do Estado considerou que o acto se tratou de uma “violação flagrante” da trégua. O exército libanês afirmou, também, que um drone israelita atingiu um bulldozer do exército no nordeste do Líbano, perto da fronteira com a Síria, ferindo um soldado.

O exército israelita não respondeu imediatamente às perguntas sobre os incidentes em Marjayoun e Nabatieh. Emitiram, contudo, um comunicado que confirmava o ataque a um dos veículos militares que operavam perto das infra-estruturas militares do Hezbollah no Vale de Bekaa, no Líbano, e veículos militares perto da fronteira com a Síria.

O exército israelita reconheceu que um soldado libanês foi ferido num dos ataques e afirmou que o incidente estava a ser analisado. O presidente do parlamento libanês, Nabih Berri, aliado do Hezbollah e principal interlocutor de Beirute nas negociações de cessar-fogo, disse que o Líbano tinha registado até agora, pelo menos, 54 violações israelitas.

Em comunicado divulgado pelo seu gabinete, Berri instou a comissão encarregada de controlar o cessar-fogo a iniciar “urgentemente” os trabalhos e a “obrigar” Israel a pôr termo às violações e a retirar as tropas do território libanês. O acordo de cessar-fogo estipula que um mecanismo de controlo, acolhido pela Força de Manutenção da Paz das Nações Unidas no Líbano e presidido pelos Estados Unidos, “acompanhará, verificará e ajudará a garantir a aplicação” do cessar-fogo.

O ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Gideon Saar, negou que o seu país tenha violado as tréguas, afirmando que o problema reside no facto de o Hezbollah ter deslocado armas e atravessado para Sul do rio Litani, desafiando o acordo imposto na semana passada.

“Israel está empenhado na aplicação bem-sucedida do cessar-fogo, mas não aceitaremos um regresso à situação existente a 6 de Outubro de 2023. Se ocorrerem violações, Israel aplicará [o pacto]”, disse em comunicado.

A emissora pública Kan e outros meios de comunicação israelitas informaram, esta segunda-feira, que o enviado dos EUA Amos Hochstein, que mediou o cessar-fogo, já teria avisado Israel sobre as alegadas violações.


Tradução: Leonor Alhinho