E, como prometido, Justin Sun comeu a banana mais cara do mundo
O empresário chinês de criptomoedas cumpriu a promessa de comer a obra de Maurizio Cattelan que comprou por 5,8 milhões de euros. A performance, ambiciona, vai inscrever-se na história da arte.
Era uma performance mais do que previsível: comer a banana mais cara do mundo. Pouco tempo depois de o empresário chinês de criptomoedas Justin Sun ter comprado Comedian (2019), a obra de Maurizio Cattelan, num leilão da Sotheby’s em Nova Iorque, o próprio revelou, na rede social X, a intenção de ingeri-la. A compra por 6,2 milhões de dólares (acima de 5,8 milhões de euros) desta peça que consiste numa banana colada à parede com fita adesiva ultrapassou em muito a base de licitação inicial, situada entre um milhão e 1,5 milhões de dólares, provocando ondas de choque no mercado da arte.
Sun cumpriu sua promessa na sexta-feira numa conferência de imprensa realizada no Peninsula Hotel, em Hong Kong. Deu duas dentadas na banana, segundo a descrição do Art Newspaper, e declarou sobre Comedian: “Comê-la numa conferência de imprensa também pode tornar-se parte da história da obra de arte.” Traçou um paralelo entre esta obra de arte conceptual e os NFT, ou criptoarte. “A maior parte dos seus objectos e ideias existe como propriedade intelectual e na Internet, por oposição a algo físico.”
O que Justin Sun comprou, como qualquer coleccionador de arte conceptual, “foi essencialmente um documento de uma acção que é efémera”, explica o historiador de arte Pedro Lapa ao PÚBLICO. “Quando a banana apodrece, compra-se outra e volta-se a colar na parede.” Nada que não se repita em várias exposições e museus por esse mundo fora, lembra, numa situação que começou a ocorrer na arte em meados do século XX. “Se quisermos recuar até à fonte original, podemos chegar aos ready-mades de Duchamp, ao urinol de 1917, que durante muito tempo foi comprado e deitado fora a cada nova exposição.” A partir de 1964, foram produzidos 13 ready-mades em edições de oito, numerados e assinados.
Tal como o urinol, a banana e a fita adesiva são produzidas em massa, estando disponíveis no mercado em larga escala. Os documentos que registam a apresentação de uma obra de arte conceptual podem ser mais ou menos descritivos, acrescenta Pedro Lapa, que já dirigiu o Museu de Arte Contemporânea do Chiado e o Museu Colecção Berardo (actual MAC/CCB), ambos em Lisboa. Podem, por exemplo, especificar que tipo de banana deve ser usado, da Colômbia ou da Madeira, bem como mencionar a cor da fita adesiva ou altura a que a fruta deve ser colada na parede. Neste caso, a fita é cinzenta.
O empresário usou também a rede X para expressar sua "gratidão" para com Shah Alam, o vendedor de frutas, imigrante do Bangladesh, que vendeu por 25 cêntimos a banana fresca incluída no leilão da Sotheby's. Ofereceu-se para comprar 100 mil bananas na sua barraca de rua do Upper East Side, em Manhattan, para ajudar Shah Alam. Mas, revelou o The New York Times, o imigrante não é o dono da pequena banca, onde ganha 12 dólares à hora em turnos de 12 horas. O objectivo do empresário chinês seria que as bananas fossem distribuídas de forma gratuita a partir daquele ponto de venda. “Mostre um documento de identificação válido para reclamar uma banana, enquanto durar o fornecimento.”
Não foi a primeira vez que a banana de Comedian foi comida. Em 2019, foi ingerida pelo artista nova-iorquino David Datuna, que documentou o acto numa série de vídeos partilhados na rede social Instagram. “É uma performance. Chama-se Artista com Fome”, afirmou. Na descrição que os acompanhava, escreveu ainda: “Adoro o Maurizio Cattelan e gostei muito da instalação. Muito deliciosa.”