Mais de 60% das vítimas em casas de abrigo não saem por falta de recursos financeiros

Estão em causa casos de “mulheres com muito baixos rendimentos”, muitas vezes já em situação de exclusão social, que não têm capacidade financeira para fazer um contrato de arrendamento.

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Mais de seis em cada dez vítimas de violência doméstica acolhidas em casas de abrigo não conseguem sair por falta de recursos económicos Nelson Garrido
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Mais de seis em cada dez vítimas de violência doméstica acolhidas em casas de abrigo não conseguem sair por falta de recursos económicos, alertou uma responsável da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.

“Cerca de 62% das pessoas que estavam acolhidas estavam ainda porque não tinham capacidade financeira para fazer um contrato de arrendamento”, referiu a chefe do Núcleo de Prevenção da Violência Doméstica e Violência de Género daquela comissão.

Em declarações à Lusa no final da conferência “Combate à Violência Contra Mulheres e Violência Doméstica”, que decorreu em Cascais, Marta Silva sublinhou que estes dados são referentes a 2023, mas disse temer que em 2024 “a tendência será” para piorar.

Segundo Marta Silva, estão em causa casos de “mulheres com muito baixos rendimentos”, muitas vezes já em situação de exclusão social. “Permanecem acolhidas nas casas de abrigo, não tanto porque a questão de risco ainda se mantém, mas porque não têm alternativas habitacionais”, alertou.

Acrescentou que são mulheres que “perderam o emprego, com vínculos muito precários, baixos salários” e alertou que “a crise da habitação ainda vitimiza mais quem já está numa situação de muito elevada vulnerabilidade”.

Marta Silva explicou que a lei prevê que estas pessoas possam permanecer numa casa de abrigo por um período máximo de um ano e salientou que “a maior parte não fica acolhida muito para além de um ano”. Ainda assim, frisou que “um ano numa vida de uma pessoa adulta é imenso, numa criança é brutal”.

Revelou, por outro lado, que há “alguns casos mais problemáticos”, que têm surgido na sequência de outras dinâmicas sociais, nomeadamente com “vítimas migrantes refugiadas”, que aumentam o tempo de permanência. Embora não seja uma maioria, Marta Silva admitiu que há “muitos agregados que ficam mais de um ano um ano e meio, 2 anos institucionalizados”.

Alertando tratar-se de “um processo de revitimização”, a responsável pediu empenho por parte do Governo em encontrar outro tipo de alternativas que afastassem o agressor da vítima sem obrigar a que seja a vítima a ser afastada da sua casa, do seu trabalho ou do contacto com família e amigos, ainda que isso, num primeiro momento, garanta a sua segurança.

Propôs uma actuação com duas linhas de intervenção: uma que passe pelo afastamento do agressor, com a sua saída da casa onde ocorre o crime e, em segundo lugar uma intervenção ao nível de políticas de habitação que garantam que as vítimas de violência doméstica “conseguem com os ordenados que têm, fazer um arrendamento”.