Número de crianças recrutadas por gangs no Haiti aumenta 70%

Estes grupos, que controlam cerca de 80% da capital, Porto Príncipe, atacam regularmente civis, apesar do envio, este ano, de uma missão multinacional de apoio à segurança apoiada pela ONU.

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Várias pessoas levam os seus pertences ao saírem dos bairros onde residiam, após ataques de gangs Ralph Tedy Erol / REUTERS
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O número de crianças recrutadas por grupos armados no Haiti aumentou 70% no espaço de um ano e estas constituem quase metade dos elementos dos gangs no país caribenho assolado pela violência, alertou a Unicef.

“Este pico sem precedentes, registado entre os segundos trimestres de 2023 e 2024, mostra um agravamento da crise de protecção da criança”, declarou no domingo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em comunicado. “Actualmente, quase metade dos membros dos grupos armados são crianças”, acrescentou.

Desde o final de Fevereiro que o Haiti, país pobre mergulhado em anos de crise, enfrenta um recrudescimento dos ataques de grupos armados, acusados de assassínios, raptos e violência sexual em grande escala.

Estes grupos, que controlam cerca de 80% da capital, Porto Príncipe, atacam regularmente civis, apesar do envio, este ano, de uma missão multinacional de apoio à segurança, liderada pelo Quénia e apoiada pela ONU.

Sob a liderança de Jimmy Chérisier, apelidado de “Barbecue”, antigo polícia que se tornou chefe de um gangs, a maioria destes grupos armados formou este ano uma coligação com o objectivo de assegurar a saída do impopular primeiro-ministro Ariel Henry, que se demitiu em Abril.

Após semanas de luta pelo controlo do Governo, o sucessor, Garry Conille, acabou por ser demitido pelo Conselho Presidencial de Transição, que nomeou para o lugar Alix Didier Fils-Aimé.

De acordo com a Unicef, a escalada da violência, a pobreza generalizada, a falta de acesso à educação e o quase colapso dos serviços essenciais estão a alimentar o recrutamento em massa de crianças.

“As crianças haitianas estão presas num círculo vicioso: são recrutadas por grupos armados que alimentam o seu desespero, e o número está constantemente a aumentar”, afirmou a directora-geral da agência das Nações Unidas, Catherine Russell, citada no comunicado.

“Esta tendência inaceitável deve ser invertida, garantindo que a segurança e o bem-estar das crianças é uma prioridade para todas as partes”, acrescentou a Unicef.