As tensões diplomáticas sobre a crise climática chegaram esta semana às negociações da cúpula do G20, no Rio de Janeiro, Brasil. Fontes afirmam que as 20 principais economias mundiais alcançaram um frágil consenso sobre o financiamento climático - um dossier que não obteve grandes progressos nas conversações das Nações Unidas (ONU) que decorrem na COP29 em Bacu, Azerbaijão.
Os chefes de Estado chegaram ao Rio de Janeiro no domingo para a cimeira do G20 e vão passar esta segunda e terça-feira a discutir questões que vão desde a pobreza e a fome à reforma das instituições mundiais. As conversações devem agora também abordar a questão da escalada da violência na Ucrânia após um ataque aéreo russo mortal no domingo.
Enquanto a cimeira COP29, em Bacu, no Azerbaijão, tem como objectivo mobilizar centenas de milhares de milhões de dólares para o clima, os líderes do Grupo das 20 maiores economias, a meio mundo de distância, no Rio de Janeiro, estão a segurar os cordões à bolsa.
Os países do G20 representam 85% da economia mundial e são os maiores contribuintes para os bancos multilaterais de desenvolvimento que ajudam a orientar o financiamento do clima.
“Um resultado positivo na COP29 ainda está ao nosso alcance, mas exigirá liderança e compromisso, nomeadamente por parte dos países do G20”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, aos jornalistas no Rio de Janeiro, citado pela agência AFP.
António Guterres, que participará no G20 a partir desta segunda-feira, expressou preocupação com o estado das negociações da COP29 em Bacu e pediu aos líderes do G20 que façam mais para combater as mudanças climáticas. “As atenções estão naturalmente viradas para o G20. Eles são responsáveis por 80% das emissões globais”, justificou Guterres.
“Agora é o momento para a liderança pelo exemplo das maiores economias e emissores do mundo”, disse António Guterres, exortando líderes do G20, reunidos no Rio de Janeiro, a salvarem as negociações sobre o clima que decorrem no outro lado do mundo, no Azerbaijão.
Simon Stiell, responsável da ONU para o clima, escreveu uma carta aos líderes do G20 no sábado, implorando-lhes que actuem no financiamento do clima, incluindo o aumento das subvenções para as nações em desenvolvimento e o avanço das reformas dos bancos multilaterais de desenvolvimento.
As mesmas lutas que têm atormentado a COP29 desde o seu início na semana passada tornaram-se centrais nas negociações do G20, de acordo com diplomatas próximos das conversações do Rio.
Sim às contribuições, mas voluntárias
A COP29 tem de definir um novo objectivo para o montante de financiamento que os países desenvolvidos, os bancos multilaterais e o sector privado devem canalizar para os países em desenvolvimento. Os economistas disseram na cimeira que deveria ser de, pelo menos, 1 bilião de dólares.
Os países ricos, especialmente na Europa, têm afirmado que um objectivo ambicioso só pode ser acordado se a base de contribuintes for alargada de modo a incluir alguns dos países em desenvolvimento mais ricos, como a China e os principais produtores de petróleo do Médio Oriente.
No sábado, as discussões de uma declaração conjunta do G20 no Rio de Janeiro esbarraram na mesma questão, com os países europeus a insistirem na contribuição de mais países e os países em desenvolvimento, como o Brasil, a resistirem, disseram diplomatas próximos das conversações à Reuters.
O Brasil espera que a cimeira de dois dias do G20 dê destaque à questão climática na declaração final da reunião. Marina Silva, ministra do Ambiente do Brasil, disse que é “fundamental” que os participantes do G20 “façam o dever de casa” e façam com que as negociações da COP29 avancem, segundo a AFP.
No entanto, na manhã de domingo, os negociadores chegaram a acordo sobre um texto que menciona as contribuições voluntárias dos países em desenvolvimento para o financiamento do clima, mas não as considera obrigatórias, segundo dois diplomatas.
Trump visto como um obstáculo
O avanço permanece ofuscado pelo retorno ao poder do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que supostamente está se preparando para retirar novamente os Estados Unidos do Acordo de Paris, subscrito em 2015 por quase 200 países para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius.
A eleição de Trump põe em dúvida a quantidade de dinheiro que o mundo pode reunir para enfrentar as alterações climáticas, possivelmente sem o apoio dos Estados Unidos, da maior economia do mundo.
Trump está a planear rever a legislação climática histórica aprovada pelo presidente cessante, Joe Biden, que visitou a floresta amazónica no domingo, a caminho do Rio.
O sucesso não só da COP29, mas também da próxima cimeira da ONU sobre o clima, a COP30, que terá lugar em Belém, no Brasil, no próximo ano, depende de um acordo ambicioso sobre o financiamento do clima.
Um ponto central da estratégia do Brasil para a COP30 é a “Missão 1.5”, um esforço para manter viva a meta do Acordo de Paris de limitar a subida dos termómetros globais a 1,5 graus Celsius. A ONU estima que as metas actuais dos diferentes países causariam um aumento de temperatura de pelo menos 2,6 graus Celsius.
Os países em desenvolvimento argumentam que só podem aumentar os seus objectivos de redução das emissões se os países ricos, que são os principais responsáveis pelas alterações climáticas, pagarem a factura.
“É tecnicamente possível atingir o objectivo de 1,5 graus Celsius, mas apenas se for conseguida uma mobilização maciça liderada pelo G20 para reduzir todas as emissões de gases com efeito de estufa”, afirmou o primeiro-ministro das Bahamas, Philip Davis, na COP29, na semana passada.