FPF vai investigar suspeita de lavagem de dinheiro do PCC em Portugal
Em causa está uma investigação do jornal PÚBLICO, que dá conta de tentativas de branqueamento de capitais e de financiamento criminoso também em transferências de jogadores.
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O Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) decidiu instaurar processos para averiguar eventuais ilícitos relacionados com o envolvimento de uma organização criminosa brasileira no futebol português, o PCC. Uma medida que decorre da investigação conduzida pelo jornal PÚBLICO e divulgada neste domingo.
Em causa estão suspeitas de esquemas de lavagem de dinheiro por parte do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma organização criminosa brasileira com dezenas de membros já instalados em Portugal e que, depois de abordagens a outros clubes, tomou conta dos destinos do Fafe, emblema da Liga 3.
Face à publicação da notícia, que denuncia financiamentos de origem criminosa não apenas em clubes, mas também em transferências de jogadores, o CD decidiu que na próxima reunião vai abrir processos na Secção Profissional e na Secção Não Profissional, com vista ao apuramento de eventuais irregularidades.
De acordo com o que o PÚBLICO apurou, empresários suspeitos de ligações ao PCC, no Brasil, tentaram adquirir várias sociedades anónimas de clubes portugueses no último ano, tendo falhado as entradas no capital do Varzim, Vilaverdense e Felgueiras antes de se instalarem em Fafe.
No centro destas negociações com os clubes tem estado o agente de jogadores brasileiro Ulisses de Souza Jorge, dono da sociedade UJ — Football Talent, sediada em Portugal e com filiais no Brasil. O empresário foi o responsável pela transferência do defesa brasileiro Éder Militão, do FC Porto para o Real Madrid a troco de 50 milhões de euros, um negócio que está sob investigação das autoridades portuguesas.
Como, na qualidade de agente de jogadores, está impedido de integrar o capital de uma SAD, Ulisses Jorge sugeria o nome de quatro sócios para encabeçarem a operação, tendo também sido acompanhado, em várias reuniões com clubes portugueses, pelo brasileiro Christiano Lino de Menezes, investigado pelas autoridades brasileiras como um importante quadro do PCC — esteve, de resto, vários anos preso por tentativa de assalto ao Banco do Brasil, na Baía, em Agosto de 2010.
Das várias abordagens realizadas resultou um acordo com o Fafe, realizado directamente com o presidente do clube, Jorge Fernandes, que havia sido condenado no final de Outubro a uma pena suspensa de prisão de três anos e a pagar uma multa de 45 mil euros por um crime de falsificação de documentos e dois de auxílio à imigração ilegal.