Favorece o populismo quem, conscientemente, ignora o elefante na sala

Ser de esquerda não pode significar enfiar a cabeça na areia quando se trata de temas mais sensíveis de gerir. E a segurança é um deles.

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Reconheço que as afirmações que proferi foram um momento menos feliz. Não refletem o que quis dizer e muito menos o que penso. Deveria ter sido mais claro na minha comunicação. Aceito e reconheço isso.

Mas não posso aceitar ser condenado por uma frase menos feliz. Humanismo, solidariedade e inclusão são valores que muito prezo e que têm pautado a minha conduta pessoal, profissional e política. São valores que fazem de mim um homem de esquerda. Mas ser de esquerda não pode significar enfiar a cabeça na areia quando se trata de temas mais sensíveis de gerir.

E a segurança é um deles. Conciliar este valor com a solidariedade, entreajuda e políticas públicas sociais é o elefante que temos na sala e que muitos, conscientemente, teimam em ignorar. É essencial que a esquerda tenha a coragem de encarar este elefante, fazendo-o sem tabus ou preconceitos, com respostas e soluções. Continuar a ignorar é entregar questões estruturais à direita e ao populismo. Sabemos bem que a política, tal como a natureza, tem horror ao vazio.

Quem, como eu, conhece bem as áreas metropolitanas sabe que acumulámos nos nossos territórios reservatórios de descontentamento onde começam, agora, a despontar sinais de revolta. Este não é um debate só nosso: atravessa toda a Europa.

Se é verdade que combater o populismo exige firmeza, também é verdade que exige respostas. E faltará ao PS quem faltar a este debate. Não basta rasgar as vestes. Sabemos bem que os eleitores do populismo não surgem de geração espontânea. São produto das falhas e omissões de muitos de nós, decisores políticos e públicos. São resultado da incapacidade de escutar as necessidades reais das pessoas.

Em Loures, onde nasci, vivo, trabalho, tenho as minhas filhas a estudar e sou responsável político, temos bem consciência da importância do tema e da necessidade de encontrar o justo equilíbrio de uma resposta solidária, inclusiva e responsável.

Nunca enfiei a cabeça na areia. Tenho uma estratégia clara que há três anos coloquei em prática e cujos resultados falam por si: com responsabilidade, eu e a minha equipa cumprimos o que nos propusemos. Só depois de o fazer é que podemos pedir que também cumpram com o município. É com humanismo e proximidade que trabalhamos pela inclusão.

Na área da habitação, estamos a reabilitar mais de 1200 fogos (quase 50% do total do parque habitacional), vamos construir perto de 300 novas casas e implementámos várias medidas de apoio à habitação jovem. Temos, hoje, centenas de histórias bem-sucedidas de pessoas e famílias devidamente integradas na comunidade. O jogo do empurra de responsabilidades, em que cidadãos não pagavam a renda acusando a câmara de não arranjar as casas ou em que a autarquia assumia não proceder a obras de melhoria devido ao não pagamento de rendas, é passado. Essa realidade, em Loures, acabou. E isso deve-se a um esforço coletivo. Câmara, juntas de freguesia, munícipes e associações, juntos, temos encontrado respostas, com responsabilidade e compromisso.

É com as pessoas que trabalhamos. Temos parcerias com diversas comunidades, com ganhos claros, sobretudo em termos educativos. Conscientes de que as refeições escolares são as únicas refeições diárias para algumas crianças, isentámos o pagamento de refeições no pré-escolar, no 1.º e 2.º ciclos também para as crianças do escalão B do abono de família (sendo que somos dos poucos municípios do país a fazer isso).

Estes são apenas alguns exemplos daquilo que temos feito pela dignidade e qualidade de vida das pessoas do nosso concelho. Temos reforçado o sentimento de comunidade e fortalecido os laços de confiança entre aqueles que fazem parte da mesma comunidade.

Estou onde sempre estive: autarca, à esquerda, a trabalhar para o bem-estar e segurança da minha comunidade. Sempre sem enfiar a cabeça na areia.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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