Efeito Trump: milhares de migrantes aceleram travessia do México rumo aos EUA

Caravanas de homens, mulheres e crianças estão a sair diariamente de Chiapas, junto à fronteira com a Guatemala, lançando pés aos mais de 3200 quilómetros de caminho. Canadá já está em alerta máximo.

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Caravana de migrantes a sair de Tapachula no dia das eleições americanas Daniel Becerril / REUTERS
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Tapachula, a cidade mais a sul do México a menos de 10 km da fronteira com a Guatemala, está transformada numa plataforma giratória de migrantes. Todos os dias chegam e saem milhares de pessoas oriundas da Venezuela, Colômbia, Peru, Equador, Honduras, Salvador, Guatemala e Haiti — mas também da Ásia — que procuram chegar aos EUA antes da tomada de posse de Donald Trump como Presidente dos EUA, a 20 de Janeiro de 2025.

Só na terça-feira passada, dia das eleições americanas, cerca de 2500 pessoas — homens, mulheres e crianças — puseram pés a caminho integrados numa caravana a que chamaram Menino Jesus (ou Divino Menino) para percorrer os 3200 km que os separam da fronteira norte, debaixo da vigilância apertada das autoridades mexicanas. No mesmo dia, outro contingente de cerca de 300 imigrantes indocumentados saiu de Tuxtla Gutiérrez, também no estado de Chiapas.

“Saímos em caravana hoje, 5 de Novembro, porque as eleições vão acontecer e para evitar enfrentar Trump e as suas leis, que ele quer mudar como racista que é, e precisamos de nos antecipar, dizia à agência EFE Nelson Mejía, migrante das Honduras, que levou a imagem da Virgem de Guadalupe para o acompanhar na viagem. Lamentou que, no México, as promessas de obtenção de autorização de trânsito no país sejam “mentiras”, já que há muitas pessoas que estão no país há dez meses a tentar obter documentos, ou pelo menos um agendamento no CBP One para conseguir autorização para entrar nos EUA, sem sucesso.

O CBP One é uma ferramenta digital criada pela administração Biden que permite agendar uma entrevista num dos oito pontos da fronteira americana e ali obter uma autorização humanitária para residir dos EUA. Temem que Trump acabe com ela, agora que o ex e futuro Presidente nomeou para futuro responsável pela imigração o “czar das fronteiras” Tom Homan, dizendo que “será o responsável por toda a deportação de estrangeiros ilegais de volta para o país de origem”.

Milhares de pessoas deslocadas de diferentes países da América Latina continuam a chegar ao México todos os dias e, só entre Janeiro e Julho deste ano, o Comité Internacional de Resgate (IRC) registou mais de 700 mil detenções de pessoas em movimento, refere a Agência EFE. Desde o final de Setembro, Tapachula testemunhou um aumento significativo na chegada de migrantes: cerca de 1700 pessoas chegam por dia à cidade e procuram o refúgio Jesus Bom Pastor dos Pobres e do Migrante “em busca de um lugar seguro e de comida”, contou o coordenador do abrigo, Herbert Bermúdez, ao Diario del Sur, do estado de Oxiaca.

O site deste jornal praticamente só tem notícias relacionadas com os migrantes, tal é o impacto local do fenómeno. Esta cidade concentra actualmente o maior número de migrantes no México, segundo o periódico. Esta é, porém, uma realidade que atravessa todo o país, de sul a norte.

No domingo, a Europapress noticiou o resgate de mais de 250 migrantes que estavam dentro de um camião no Norte do México e, na véspera, outros 74 migrantes foram resgatados no estado de Oaxaca. Em vários media locais, há relatos de detenções, confrontos, desaparecidos e mortes.

No sábado, ao chegar ao istmo de Tehuantepec, a caravana Menino Jesus foi dispersada, conta o El Universal. Centenas de migrantes concordaram com a sua transferência para centros de regularização de migrantes, enquanto outras centenas procuraram refúgios em abrigos católicos e muitos outros se dispersaram em pequenos grupos, seguindo a sua caminhada. Estão exaustos, mas insistem em chegar à Cidade do México, conta o jornal. Pelo meio, pelo menos 15 pessoas estão desaparecidas. “Não sabemos onde eles estão”, disseram alguns migrantes às autoridades de imigração.

Na sexta-feira, vizinhos da zona leste de Tuxtla Gutiérrez bloquearam uma estrada com pedras e paus para exigir a retirada do Instituto Nacional de Migrações localizado naquele ponto, onde se concentram centenas de migrantes. “Pedimos segurança nos nossos bairros e recuperação dos espaços públicos”, “chega de lixo, maus cheiros, drogas e insegurança”, clamavam os moradores da zona, segundo o Diario del Sur. No mesmo dia, os Médicos Sem Fronteiras anunciaram a retirada do istmo de Tehuantepec, já no estado de Oaxaca, por motivos de segurança.

A nova vaga de imigração lançou também um alerta vermelho no Canadá. “Estamos em alerta máximo”, disse à AFP um porta-voz da Real Polícia Montada do Canadá, sargento Charles Poirier. “Todos os nossos olhos estão voltados para a fronteira para ver o que vai acontecer (...), porque sabemos que a posição de Trump sobre a imigração pode impulsionar a migração ilegal e irregular para o Canadá”, acrescentou.

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