John Podesta, o enviado especial para o Clima dos Estados Unidos, tentou tranquilizar o resto do mundo sobre a continuidade da acção contra as alterações climáticas nos Estados Unidos, mesmo depois de Donald Trump tomar posse como Presidente, em Janeiro de 2025. “O apoio aos projectos de energia limpa é bipartidário, embora não seja essa a ideia que transpira nos media”, afirmou Podesta, no primeiro dia da conferência da 29.ª Conferência da Convenção das Alterações Climáticas das Nações Unidas, em Bacu, no Azerbaijão (COP29).
“Estou confiante em que os Estados Unidos vão continuar a reduzir as suas emissões [de gases com efeito de estufa], em benefício dos EUA e do resto do mundo. As mudanças que fizemos não vão ser todas revertidas. Não vamos voltar para um sistema energético da década de 1950, de maneira nenhuma!”, afirmou Podesta.
Admitiu, no entanto, que o resultado das eleições presidenciais de 5 de Novembro foi uma grande decepção. “Mas o trabalho para conter as alterações climáticas vai continuar nos EUA”, declarou. O pacote legislativo lançado pela Administração de Joe Biden conhecido como the Inflation Reduction Act (IRA, na sigla em inglês) disponibilizou muitos milhões de dólares em subsídios e isenções fiscais para o desenvolvimento de projectos de energia verde, criação de empregos e inovação, e isso não se anula de um momento para o outro.
“Nada disto é reversível. Poderá ser atrasado? Talvez. Mas a direcção é clara”, afirmou na COP29 Podesta, que sucedeu a John Kerry, o primeiro enviado especial dos EUA para o clima do Presidente Joe Biden.
“O âmbito de apoio ao IRA é maior do que poderíamos imaginar, muito por causa dos créditos fiscais que garante. Acho que deve sobreviver”, comentou David Waskow, director para a acção climática internacional do think tank World Resources Institute, numa conferência de imprensa online sobre o dia de abertura da COP29.
Podesta recordou a coligação criada depois de, na primeira presidência, Donald Trump ter tirado os EUA do Acordo de Paris, We Are Still In: "Tem cerca de 5000 entidades, entre estados, nações nativas-americanas, organizações não-governamentais, universidades, etc, e vai continuar", afirmou.
A China que avance
Em resposta a perguntas de jornalistas, Podesta desafiou, ou mais propriamente intimou, a China a cortar as suas emissões de gases com efeito de estufa com uma ambição que corresponda ao necessário para limitar o aquecimento global a 1,5 graus acima do que se estimava ser a temperatura média do planeta antes da Revolução Industrial.
“Eles [China] têm um papel importante e espero que o façam”, afirmou Podesta.
A China é também chamada a cumprir as suas obrigações para financiar a acção climática nos países mais pobres e também mais vulneráveis às alterações climáticas — o tema mais quente desta conferência.
Os países mais ricos, e que historicamente mais contribuíram com emissões para a atmosfera, querem que a China contribua, porque, apesar de ter sido classificada como um país em desenvolvimento na Cimeira do Rio, em 1992, quando foi assinada a Convenção sobre as Alterações Climáticas, o seu PIB distancia-a já deste grupo, bem como o seu nível de emissões.
“Este já não é o mundo de 1992”, salientou Podesta. Na verdade, a China é já um contribuinte significativo para a acção climática internacional. Um estudo do World Resources Institute estima em 4,5 mil milhões de dólares por ano o montante com que Pequim contribuiu entre 2013 e 2022. “Isto é igual a 6,1% do valor do financiamento climático atribuído pelos países desenvolvidos durante o mesmo período”, diz o documento.