Correio da Feira suspende publicação após 127 anos de actividade

Administradores do jornal de Santa Maria da Feira afirmam que “há um contínuo desrespeito pela profissão de jornalista”, com cada vez menos leitores interessados na “imprensa profissional”.

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O Correio da Feira enfrenta o possível fim após 127 anos de publicação DR
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O jornal Correio da Feira anunciou hoje a sua "suspensão por tempo indeterminado" após 127 anos de actividade na cobertura da actualidade do concelho de Santa Maria da Feira, justificando a medida com a insustentabilidade financeira da publicação.

A decisão foi comunicada a assinantes, leitores e anunciantes em carta pública assinada por Jorge Andrade e Paulo Fonseca, que são há 13 anos os administradores do órgão de comunicação social do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto, editado em papel com periodicidade quinzenal e disponível também em versão online.

Referindo que a sua "primeira prioridade" é para com a defesa dos direitos dos funcionários da casa, os administradores da publicação explicam: "Obrigámo-nos a analisar, com os trabalhadores, as possibilidades que surgiram para manter em banca o Correio da Feira. Não tendo sido viável, resta-nos manter a decisão que há muito havíamos deixado claramente esclarecida junto da equipa, na certeza de que seria insustentável que o jornal voltasse a subsistir de um mensal patrocínio dos seus administradores".

Jorge Andrade e Paulo Fonseca atribuem as dificuldades financeiras do quinzenário aos mesmos problemas que afectam a generalidade da imprensa local e regional, nacional e internacional. "O número de assinantes é insuficiente para manter um jornal em actividade. Diariamente há desistências. Cada vez há menos e menos leitores interessados em assinarem ou manterem a sua assinatura na imprensa profissional", explicam.

Considerando que "há um contínuo desrespeito pela profissão de jornalista", acrescentam que poucos leitores - "e, por isso, insuficientes - estão interessados em pagar para se fazer informação profissional e isenta".

Os administradores do Correio da Feira orgulham-se, ainda assim, do trabalho desenvolvido nos últimos 13 anos: "Pegámos num jornal moribundo e prostituído, e fizemos dele um jornal profissional, isento e livre. (...) Contudo, há que confessar que o que mais nos satisfez, e a única razão que nos empurrou para a continuação quando a lógica empresarial nos ordenava o encerramento da empresa, foi sempre o gosto de, ao entrar diariamente nos escritórios, observarmos a jovem equipa entusiasmada com os afazeres da sua arte".

Nelson Costa, o jornalista que dirigia o quinzenário, admite no seu editorial que a decisão já era "ponderada há muito", mas prefere realçar o orgulho no desempenho da sua equipa. "Somos, há alguns anos, o único jornal [de Santa Maria da Feira] que cumpre a missão de divulgar o que melhor (e muito) por cá se faz e também a de escrutínio, pois a democracia local não se esgota nos periódicos actos eleitorais", argumenta.

Citando o jornalista e escritor colombiano Gabriel García Márquez, que defendia que "a ética deve acompanhar o jornalismo como o zumbido acompanha o besouro", Nelson Costa lamenta depois a pouca valorização da carreira que escolheu, antecipando dificuldades.

"Numa profissão que vive num longo e permanente estado de emergência - maltratada por quem não faz a menor ideia do que ela representa (...) e por vezes também por quem dela vive -, não sei se terei a oportunidade de voltar a exercer a profissão que tanto me apaixona, mas certamente continuarei a escrever e a seguir este caminho que é a vida com o "zumbido do besouro" no meu ouvido", promete.