Quem quer mais umas eleições antecipadas?

O presidente do Governo Regional da Madeira colocou-se nas mãos do Chega em Maio. Era uma viagem sem porto seguro.

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Vivem-se tempos acelerados e atribulados em que a noção de estabilidade política é cada vez mais incerta. Haver eleições antecipadas quase que se tornou o novo normal em Portugal. Tem acontecido no Governo da República (em 2011 com a demissão de José Sócrates, em 2022 com o chumbo do Orçamento do Estado e em 2024 com a demissão de António Costa), no Governo Regional dos Açores (em 2024 com o chumbo do Orçamento Regional) e na Madeira (em 2024 com a demissão de Miguel Albuquerque).

Há poucas semanas, o país esteve à beira de mais uma crise política que podia ter desaguado em novas eleições, se o PS não tivesse anunciado que viabilizaria o Orçamento do Estado para 2025. O país aplaudiu e suspirou de alívio com a decisão, fazendo fé na sondagem do PÚBLICO-RTP-Católica que indicava que uma esmagadora maioria, 76%, queria o Orçamento aprovado e evitar novas eleições legislativas antecipadas.

Agora, tudo se encaminha para mais uma crise, mas na Madeira. O Chega apresentou uma moção de censura ao governo de Miguel Albuquerque que terá o apoio do PS e previsivelmente do JPP. A queda do actual governo é certa, o que abre a porta a duas opções: ou há eleições antecipadas ou o PSD decide substituir Miguel Albuquerque por outro líder (o que parece ser mais difícil de acontecer).

Albuquerque, que nas últimas eleições de Maio teve a maioria mais estreita alguma vez conquistada pelo PSD na região, está literalmente a ser empurrado por quem já lhe deu a mão, como é o caso do Chega, que depois das eleições de Maio com a abstenção permitiu-lhe continuar a governar, e do próprio CDS, com o qual já se coligou e que defende abertamente a sua substituição.

Desde as eleições de Maio, já foram constituídos arguidos três secretários regionais, Finanças (Rogério Gouveia), Saúde e Protecção Civil (Pedro Ramos) e Equipamentos e Infra-Estruturas (Pedro Fino), sob suspeitas de criminalidade económica e financeira. Esta semana foi conhecido um outro processo que envolve o secretário da Economia, Turismo e Cultura, Eduardo Jesus. E é por isso que a situação na Madeira se está a tornar insustentável.

Miguel Albuquerque, já arguido ele próprio num processo de corrupção, foi a eleições e foi o legítimo vencedor, mas aceitou formar governo numa situação de grande fragilidade, colocando-se nas mãos do Chega. Se este partido lhe tira o tapete, não pode queixar-se de mais ninguém. Albuquerque sabia que em Maio estava a embarcar numa viagem sem porto seguro.

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