Israel envia aviões para resgatar adeptos em Amesterdão. Há cinco feridos e 62 detidos
Adeptos do Maccabi Telavive agredidos após jogo contra o Ajax, depois de desrespeitarem minuto de silêncio pelas vítimas das cheias em Espanha. Israel fala em perseguição contra judeus.
Israel ordenou esta sexta-feira, 8 de Novembro, o envio de dois aviões para Amesterdão para socorrer adeptos do Maccabi Telavive, na sequência de confrontos que provocaram cinco feridos e 62 detenções à margem de um jogo da Liga Europa. Esta quinta-feira, dia da partida, registaram-se confrontos em vários pontos da capital neerlandesa entre israelitas e grupos de apoio à causa palestiniana. Foram arrancadas bandeiras da Palestina nas áreas frequentadas pelos visitantes, com os israelitas a entoarem cânticos de apoio à ofensiva militar em Gaza.
O minuto de silêncio de memória às vítimas das cheias em Valência foi desrespeitado – por Espanha ter cortado a compra e venda de armamento a Israel. Depois do jogo, os adeptos do Maccabi foram perseguidos, agredidos e, em alguns casos, obrigados a gritar “Free Palestine” [Libertem a Palestina, em português] sob ameaça de agressões.
“O primeiro-ministro ordenou o envio imediato de dois aviões de socorro para ajudar os nossos cidadãos”, indicou, em comunicado, o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, acrescentando que este encarou o “terrível incidente com a maior seriedade”.
Em reacção à onda de violência, a UEFA já repudiou os acontecimentos de Amesterdão, prometendo agir disciplinarmente assim que forem apurados os detalhes destes confrontos. A entidade que gere o futebol europeu espera agora que as autoridades identifiquem os responsáveis, aguardando o desenrolar da investigação liderada pelas autoridades neerlandesas. Também Portugal se juntou à condenação dos acontecimentos desta quinta-feira, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, a considerar "crucial promover a tolerância e o respeito, combatendo o anti-semitismo e todas as formas de discriminação".
Os confrontos deram-se na quinta-feira à noite no centro de Amesterdão, depois do jogo de futebol que opôs o Ajax e o Maccabi Telavive, com o resultado de 5-0 para o clube neerlandês. Durante o minuto de silêncio pelas vítimas das cheias em Valência, adeptos dos israelitas proferiram cânticos contra a comunidade árabe, um protesto contra a decisão espanhola de não vender armamento a Israel.
Israel e Espanha têm uma relação tensa, com Benjamin Netanyahu a manter vazia a embaixada israelita em Madrid desde que os espanhóis reconheceram a Palestina como Estado.
O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Saar, está a caminho dos Países Baixos. O Presidente israelita, Isaac Herzog telefonou ao rei Guilherme para exigir que este tomasse as medidas necessárias para “pôr termo à terrível onda de ódio anti-semita”, segundo um comunicado do gabinete presidencial, no qual apelou a todos os israelitas que o desejem que deixem o país.
Vídeos partilhados em grupos ultra no Telegram mostram adeptos inconscientes a serem pontapeados já no chão, atropelamentos em via pública e outros actos de violência contra os israelitas. A polícia tentou proteger e escoltar os adeptos visitantes de volta ao hotel, mas não conseguiu evitar as agressões.
Na quinta-feira, numa publicação na rede social X (antigo Twitter), a polícia neerlandesa disse estar “particularmente vigilante”, depois de ter relatado vários incidentes, incluindo uma bandeira palestiniana arrancada de uma fachada “por pessoas desconhecidas”.
Durante a tarde, cerca de uma centena de apoiantes israelitas reuniu-se na Praça Dam — rodeados por forte presença policial — antes de se dirigir para o Estádio Johan Cruyff, no Sudoeste de Amesterdão. Foi nesta praça que começaram os momentos de tensão, com ataques de manifestantes pró-Palestina contra os adeptos israelitas.
Na quarta-feira, a presidente da câmara de Amesterdão, Feme Halsema, proibiu uma manifestação de apoio à Palestina que ia decorrer junto ao Estádio Johan Cruiff por recear “problemas”. A manifestação pró-palestiniana, a condenar a visita do clube israelita, foi transferida pela câmara municipal de Amesterdão para uma localização mais afastada, por razões de segurança.
Israel fala em “pogrom anti-semita”
O Presidente de Israel disse esta sexta-feira que as agressões supostamente levadas a cabo por manifestantes pró-palestinianos contra adeptos de uma equipa de futebol de Israel nos Países Baixos foram um “pogrom anti-semita”. “Vemos com horror, hoje de manhã, as chocantes imagens que, desde 7 de Outubro, esperávamos não voltar a ver”, disse Isaac Herzog, que comparou o ocorrido nos Países Baixos com os ataques de membros do Hamas de 2023 em que morreram 1200 pessoas em território israelita.
O termo russo “pogrom” designa desde o século XIX a agressão e perseguição deliberada contra um grupo étnico, sobretudo judeus.
O novo ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Gideon Saar, disse, após contactos com as autoridades de Haia, que pelo menos dez pessoas ficaram feridas, considerando os incidentes “bárbaros e anti-semitas”. “Espero que as autoridades dos Países Baixos actuem de imediato e tomem as medidas necessárias para proteger, localizar e resgatar todos os israelitas e judeus atacados”, disse o chefe de Estado de Israel.
Anteriormente, o primeiro-ministro de Israel ordenara o envio “imediato de dois aviões de resgate” para retirar os cidadãos israelitas e exigiu às autoridades dos Países Baixos “actuação firme e rápida” contra aqueles que provocaram as agressões.
O chefe do executivo de Israel esteve, entretanto, em contacto telefónico com o primeiro-ministro dos Países Baixos, Dick Schoff a quem pediu garantias de segurança a todos os israelitas que se encontram no país. Em comunicado, Benjamin Netanyahu agradeceu a Dick Schoff por ter classificado os incidentes nos Países Baixos como um “acto anti-semita”.
Notícia actualizada às 13h21: acrescentado comunicado da UEFA sobre violência em Amesterdão