Presidente da STCP demite-se do cargo de vogal não executiva da Metro do Porto

A STCP tem como maior accionista o município do Porto, cujo presidente já tinha instado a Metro do Porto a “não mentir” sobre atrasos nas obras.

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Na terça-feira, a STCP concluiu que a operação da linha 203 no canal do metrobus é "insegura, ineficiente e comercialmente desvantajosa" Nelson Garrido
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A presidente da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP), Cristina Pimentel, demitiu-se do cargo de vogal não executiva da Metro do Porto, alegando falta de confiança institucional e acusando o presidente da Metro de faltar à verdade.

"Considero que estão irremediavelmente comprometidas as relações de confiança exigíveis para a manutenção do cargo que ocupo no Conselho de Administração da Metro do Porto, SA", pode ler-se numa carta enviada por Cristina Pimentel ao presidente da Metro do Porto, Tiago Braga, com conhecimento à presidente da assembleia-geral da Metro, Luísa Salgueiro, ao presidente da Área Metropolitana do Porto, Eduardo Vítor Rodrigues, e ao presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, a que a Lusa teve acesso.

Em causa está um ofício do presidente da Metro do Porto enviado ao Grupo de Trabalho para Acompanhamento de Investimentos de Transporte Público (GT-AITP) da Assembleia Municipal do Porto, em que, segundo Cristina Pimentel, Tiago Braga procura "responsabilizar a STCP pelos atrasos e indefinições do projecto das futuras linhas de metrobus na cidade do Porto". Segundo a presidente da STCP, nomeada vogal não executiva da Metro, fruto da representação dos concelhos da Área Metropolitana do Porto na transportadora, Tiago Braga usou "argumentos que não correspondem à verdade", que a STCP refuta "veementemente".

"Ao longo das últimas semanas, sem que lhe possam ser imputadas quaisquer responsabilidades, porque verdadeiramente não as tem, nem nunca as teve, quer sobre o projecto de concepção e construção das infra-estruturas quer sobre o procedimento para o fornecimento do material circulante necessário à operação das futuras linhas de metrobus na cidade do Porto, a STCP tem visto o seu nome ser publicamente envolvido em afirmações proferidas pela Metro do Porto sobre o tema em questão", refere.

Tais afirmações "não correspondem à verdade", defende Cristina Pimentel, "pondo em causa as relações de confiança, colaboração e respeito mútuo que desde sempre nortearam o relacionamento institucional entre as duas empresas". Apesar de ter sido nomeada vogal não executiva da Metro pela representação do concelho do Porto via AMP, Cristina Pimentel afirma que não pode "dissociar" a sua presença na Metro do cargo de presidente da STCP, cargo que ocupa desde Março de 2022, "e das responsabilidades que lhe estão associadas". Cristina Pimentel nomeia especificamente as responsabilidades "decorrentes da sua exposição a qualquer risco reputacional que possa comprometer a sua missão e o mandato que lhe é conferido pelos seus accionistas".

A STCP tem como maior accionista o município do Porto (os restantes accionistas minoritários são Gaia, Matosinhos, Maia, Gondomar e Valongo) cujo presidente já tinha instado a Metro do Porto a "não mentir" sobre atrasos nas obras. Na terça-feira, a STCP concluiu que a operação da linha 203 no canal do metrobus é "insegura, ineficiente e comercialmente desvantajosa", e que as actuais condições comprometem o serviço e segurança dos passageiros.

"O nosso parecer é desfavorável à utilização do canal BRT ["Bus Rapid Transit"]", lê-se no parecer enviado ao grupo de trabalho da Assembleia Municipal, após testes realizados no dia 29 de Outubro com dois autocarros eléctricos da STCP. Já a Polícia Municipal do Porto concluiu que o sucesso da operação da STCP no canal do metrobus dependerá da "perícia do motorista" e que "não estão reunidas condições de segurança" para o funcionamento da estação da Casa da Música.

O metrobus do Porto será um serviço de autocarros a hidrogénio que ligará a Casa da Música à Praça do Império (obra quase concluída) e à Anémona (na segunda fase) em 12 e 17 minutos, respectivamente. Os veículos definitivos dos serviços custaram 29,5 milhões de euros. Já a empreitada do metrobus custa cerca de 76 milhões de euros. A Lusa contactou fonte da Metro do Porto e aguarda resposta.