Presidente da Moldova com vantagem em eleições com “enorme interferência” russa

Segunda volta das presidenciais alvo de “esforço com grande potencial de distorcer o resultado”, segundo conselheiro presidencial.

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Maia Sandu, Presidente da Moldova DUMITRU DORU / EPA
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As autoridades da Moldova disseram que houve uma “enorme interferência” russa na segunda volta das eleições presidenciais, cujos resultados parciais apontavam para uma vitória, por pouco, da Presidente, Maia Sandu, contra Alexandr Stoianoglo, apoiado por um partido tradicionalmente pró-russo: com quase 97% dos votos contados, Sandu contava com mais de 53,4% dos votos, segundo o site da comissão eleitoral.

O conselheiro de segurança nacional da Presidente Stanislav Secrieru foi documentando na rede social X (antigo Twitter) casos do que descreve como “uma enorme interferência russa” na votação com “grande potencial de alterar o resultado”.

Mostrou várias imagens do que parecia ser transporte de eleitores organizado, que é ilegal na Moldova, mostrou uma imagem de um voucher para uma refeição num restaurante, dado a quem votasse em Moscovo, e falou de rumores, falsos, de alertas de ameaças de bomba em locais de voto em Liverpool, Northampton, Frankfurt e Kaiserslautern, que estão a ser investigados pelas autoridades britânicas e alemãs.

As votações na diáspora poderão favorecer a actual Presidente, que diz que o seu adversário é um “cavalo de Tróia” político para a Rússia na Moldova. Stoianoglo recusa a ideia e acusa Sandu de políticas divisivas no país que tem uma minoria russófona.

Stoianoglo afirmou que caso seja eleito presidente irá querer renegociar a importação de gás russo, mais barato, e que as ligações com a Rússia são importantes para o interesse nacional moldovo, segundo a agência Reuters. Disse ainda que se reuniria com o Presidente russo, Vladimir Putin, se essa fosse a vontade da população da Moldova.

Além de determinar a presidência, a eleição irá marcar o tom para as legislativas do próximo ano, com a possibilidade de o partido de Sandu perder a maioria.

“Hoje é uma eleição crucial para nós. Vamos para um lado ou para o outro. Não temos uma eleição assim tão importante há 30 anos”, disse Mihai David, 58 anos, que votou em Chisinau, à Reuters.

Sandu declarou, depois de votar, à população da Moldova que “ladrões” querem comprar o seu voto e o seu país, apelando a que preservem a independência da Moldova, cita a BBC.

A polícia esteve mais activa a tentar evitar uma repetição do que foi descrito como um grande esquema de compra de votos por um milionário que enfrenta um processo na Moldova e vive actualmente na Rússia, Ilan Shor, segundo a Reuters.

Shor prometeu, abertamente, através de mensagens nas redes sociais que pagaria a quem votasse de acordo com as suas instruções. Nega que tenha feito algo de errado, dizendo que o dinheiro é seu.

A Rússia rejeitou alegações anteriores, como tinham feito noutras ocasiões em que acusaram as autoridades moldavas de “russofobia”. “Recusamos de modo firme quaisquer acusações de que estamos a interferir de algum modo. Não estamos”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, citado pela BBC.

A conselheira Olga Rosca disse ao site Politico que as autoridades se tinham mobilizado “com uma abordagem dupla, [para] desmantelar a rede e desencorajar potenciais participantes”.

“Foram mobilizados todos os recursos”, continuou Rosca, “de agentes da lei a anúncios públicos em transportes e supermercados, a apelos da sociedade civil a jornalistas para ouvir as histórias de pessoas que escolheram não participar no esquema.”

Na primeira volta, há duas semanas, uma pessoa da produção da BBC ouviu uma pessoa perguntar, ao depositar o voto, a uma das pessoas da mesa, onde recolhia o dinheiro de pagamento.

A eleitora admitiu que lhe tinham oferecido dinheiro para votar de um certo modo, e estava sobretudo zangada porque o homem que lhe tinha prometido o dinheiro já não estava a atender os seus telefonemas, relatou na altura a emissora britânica. “Enganou-me!”, queixou-se.

*com Reuters

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