Autoridades israelitas investigam “fuga” de informação suspeitando-se de assessor de Netanyahu

Vários suspeitos estão deitos por divulgação, e alteração, de documentos confidenciais que serviram para apresentar uma versão coincidente com a do primeiro-ministro.

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Benjamin Netanyahu numa cerimónia numa base militar Amir Cohen / REUTERS
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Um escândalo sobre a divulgação de documentos confidenciais envolvendo um porta-voz do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, está a abalar a política do país e indignou as famílias dos reféns que estão ainda na Faixa de Gaza.

Segundo o diário israelita de grande circulação Yediot Ahronot há quatro questões no caso: a divulgação de documentos confidenciais, o permitir o acesso de um assessor sem autorização de segurança a documentos que lhe deveriam estar vedados, negligência em relação ao tratamento de documentos confidenciais, e utilização de documentos para influenciar a opinião pública sobre um acordo de reféns.

Os detalhes do caso têm vindo a público a conta-gotas por causa de uma ordem de não divulgação.

Mas esta foi parcialmente levantada, permitindo uma primeira ideia do caso que, segundo o tribunal, comprometeu várias fontes de segurança e pode ter prejudicado o esforço de guerra de Israel.

Na sexta-feira, um tribunal confirmou a detenção de várias pessoas no âmbito da investigação de uma suspeita de “violação da segurança causada pelo fornecimento ilegal de informações confidenciais”. Pensa-se que um deles é um porta-voz de Netanyahu.

Netanyahu negou qualquer conduta errada por parte de qualquer funcionário do seu gabinete e afirmou, em comunicado, que só teve conhecimento da fuga de informação através dos meios de comunicação social. Muitos analistas referiram, segundo o diário Times of Israel, que Netanyahu tem assessores no seu círculo próximo que não são formalmente empregados pelo seu gabinete.

O tablóide alemão Bild publicou, a 6 de Setembro, um documento sobre uma estratégia de negociação do Hamas, apresentando-o como exclusivo, segundo a Reuters. O diário The Guardian escreveu que também foi publicado um artigo no britânico The Jewish Chronicle.

Segundo o Guardian, os suspeitos divulgaram algumas partes de documentos da estratégia do Hamas encontrados pelo Exército israelita em Gaza, e manipularam ou editaram outra parte do material. A versão manipulada seria semelhante a afirmações de Netanyahu.

Os artigos foram publicados poucos dias depois de seis reféns israelitas terem sido encontrados num túnel do Hamas no Sul de Gaza, executados pelos captores, provavelmente pela aproximação de tropas israelitas do local dias antes.

Estas mortes levaram a grandes protestos em Israel e as famílias dos reféns acusaram Netanyahu de impedir o avanço das conversações de cessar-fogo por motivos políticos. Ainda há cerca de cem pessoas em Gaza, estimando-se que mais de 30 já não estejam vivas.

“Por outras palavras, o assessor de Netanyahu estava (alegadamente) e a levar a cabo espionagem dentro das Forças de Defesa de Israel e a usar (alegadamente) o material obtido ilegalmente para levar a cabo uma campanha de desinformação sobre o público israelita com o timing de sabotar negociações para um cessar-fogo e sabotar os protestos das famílias dos reféns”, resumiu na rede social X (antigo Twitter) o jornalista Anshell Pfeffer, da revista britânica The Economist.

Numa outra sessão, este domingo, sobre a investigação do serviço de informação interna Shin Bet, da Polícia e do Exército, o tribunal autorizou uma libertação de um suspeito, mas manteve a detenção dos restantes quatro.

Questionado sobre a investigação, o Bild disse que não comentava as suas fontes. Acrescentou que “a autenticidade do documento foi confirmada pelas Forças de Defesa de Israel imediatamente após a publicação”, cita a Reuters.

Já o Guardian diz que o Jewish Chronicle se retractou e despediu o jornalista que escreveu o artigo.

Depois de começar uma investigação ao que aconteceu temendo que a publicação do artigo pusesse em risco a recolha de informações em Gaza, o Exército anunciou mais tarde que não tinha conhecimento “da existência deste documento”, diz o Guardian.

No sábado, algumas das famílias juntaram-se a uma acção em tribunal de jornalistas para levantar a ordem de não reportar sobre o assunto.

“Estas pessoas têm vivido uma montanha russa de rumores e meias-verdades”, disse a advogada que as representa, Dana Pugach.

“Durante o último ano têm esperado ouvir alguma informação sobre as negociações para a libertação destes reféns. Se alguma dessa informação foi roubada de fontes militares, então achamos que as famílias têm o direito de saber qualquer detalhe relevante”, declarou.