PSP tem de “fazer as pazes” com os bairros, diz líder do policiamento de proximidade

“Tem de se falar com as pessoas e temos de as escutar. Houve um incidente grave? Houve. Então e o resto? As outras pessoas não têm necessidade da polícia? Têm. Vamos abandoná-las? Não pode ser.”

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Aurora Dantier coordena o Policiamento de Proximidade do Comando Metropolitano de Lisboa Daniel Rocha
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A subintendente Aurora Dantier avisou este sábado que a PSP tem de "fazer as pazes" com os bairros da periferia de Lisboa, face aos desacatos desencadeados pela morte de Odair Moniz por um agente na Cova da Moura, concelho da Amadora.

Em declarações à Lusa após a intervenção no primeiro congresso da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), na Faculdade de Direito de Lisboa, a subintendente que coordena as equipas de policiamento de proximidade de 11 divisões no Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) manifestou a sua convicção de que a PSP vai voltar a ser bem recebida no Bairro do Zambujal ou na Cova da Moura, mas admitiu que vai levar tempo.

"Temos de apaziguar. Temos de fazer as pazes e criar condições e estratégias. Não podemos catalogar que as pessoas que vivem no bairro são todas criminosas. Existe um grupo que faz com que o bairro tenha má fama, mas a maior parte das pessoas sai de manhã para trabalhar", afirmou, reconhecendo que a situação "ainda está muito quente" e que é preciso "voltar aos níveis anteriores" no relacionamento entre a polícia e a comunidade local.

Para Aurora Dantier, dos desacatos que aconteceram nos dias seguintes no Bairro do Zambujal, onde o cidadão cabo-verdiano morava, ao ambiente de tensão na Cova da Moura, onde Odair Moniz viria a morrer baleado por um polícia, a resposta da PSP deve passar por "voltar a entrar" nos bairros e falar com a população que também precisa da ajuda da polícia.

"Tem de se falar com as pessoas do bairro e temos de as escutar. Houve um incidente grave? Houve, mas as instituições estão a trabalhar. Então e o resto? As outras pessoas não têm necessidade da polícia? Não têm necessidade de protecção? Têm. Vamos abandoná-las? Não pode ser. Temos de acompanhar aquelas pessoas, que precisam da intervenção da polícia", frisou, avisando que, se tal não for feito, vai continuar a tensão entre agentes e comunidade.

Sublinhando que o incêndio de carros e de mobiliário urbano que se verificou ao longo da última semana em algumas zonas de Lisboa, como Benfica, "já não é um problema social" relacionado com o Bairro do Zambujal ou a Cova da Moura, a subintendente da PSP referiu que os responsáveis são "puros criminosos" e garantiu que a força de segurança continua no terreno e atenta a aproveitamentos "deste clima para poder fazer vandalismo".

Aurora Dantier, de 59 anos, não quis comentar posições políticas em torno deste caso, mas salientou que "as pessoas deviam ser mais ponderadas naquilo que dizem", ao notar que nas últimas duas semanas "houve muita gente que aproveitou o palco da comunicação social e depois acabou por incendiar certas questões". "Isso foi muito mau. A PSP é que tem de apagar o fogo", disse.

A subintendente assumiu ainda que há resistência na PSP ao policiamento de proximidade junto destas comunidades, "porque nem todos compreendem este papel de estar próximo das pessoas de forma diferente", sobretudo entre os agentes mais velhos, que foram "formatados para uma polícia repressiva", mas deixou um alerta: "Se a polícia não entra, não participa ou não está na comunidade, há outros grupos e outros fenómenos que ocupam o espaço".

Questionada sobre as razões que limitam a expansão das acções de policiamento de proximidade da PSP, a subintendente apontou à escassez de meios humanos e ao maior número de valências a cargo dos agentes, que redundam numa intervenção mais reactiva do que preventiva face aos problemas.

"Temos de cumprir tudo e vai-se reduzindo de um lado e do outro. [A polícia] não é elástica. Ou entram mais pessoas ou vamos ter de fazer uma avaliação do que temos e, provavelmente, teremos de cessar algumas tarefas", concluiu.