Decisão histórica: povos indígenas vão ter órgão permanente para serem ouvidos em matérias de biodiversidade
O órgão consultivo é considerado um avanço no reconhecimento do papel que os povos indígenas desempenham na conservação da natureza. Plenário da COP16 da Biodiversidade continua pela madrugada dentro.
Os países presentes na COP16 da Biodiversidade, a cimeira das Nações Unidas sobre conservação da natureza, realizada na Colômbia, aprovaram esta sexta-feira, 1 de Novembro, o Programa de Trabalho sobre o Artigo 8J, uma medida para criar um órgão permanente de consulta dos povos indígenas sobre as decisões das Nações Unidas relativas à conservação da natureza.
O órgão consultivo é considerado um avanço no reconhecimento do papel que os povos indígenas desempenham na conservação da natureza a nível global, incluindo algumas das áreas mais biodiversas do planeta, de acordo com os defensores indígenas e ambientais.
O órgão consultivo — que também se estenderá às comunidades locais — ajudará a incorporar os conhecimentos e práticas tradicionais nos esforços de conservação, abrindo caminho para uma acção mais eficaz em matéria de biodiversidade para a concretização das 23 metas do Quadro Global para a Biodiversidade (GBF, na sigla em inglês).
Os países também concordaram em adoptar uma medida que reconhece o papel das pessoas de ascendência africana no cuidado com a natureza, o que, segundo a Colômbia, anfitriã da COP16, permitirá a essas comunidades um acesso mais fácil a recursos para financiar os seus projectos de biodiversidade e participar nas discussões ambientais globais.
A adopção da medida foi recebida com cânticos pelos activistas presentes. O chanceler colombiano Luis Gilberto Murillo afirmou que o avanço era particularmente importante para a América Latina e as Caraíbas. “Os nossos territórios, que cobrem grande parte das riquezas naturais do planeta, também têm sido o lar de pessoas de ascendência africana e povos indígenas cujas práticas sustentáveis são necessárias para enfrentar os desafios ambientais que todos partilhamos actualmente”, afirmou Murillo.
Sprint final
Quase 200 países marcam presença na cidade de Cali para a COP16, que começou a 22 de Outubro, com o objectivo de implementar o GBF de Kunming-Montreal, aprovado em 2022 na COP15, que visa travar o rápido declínio da natureza até 2030. Na quinta-feira, a Arménia foi e escolhida como anfitriã da COP17, que se realizará em 2026.
O plenário de encerramento da COP16, que começou às 22h (3h na hora de Lisboa), continua pela madrugada dentro e promete demorar mais algumas horas, tendo sido suspenso por meia hora às 3h15 (8h15 em Lisboa).
Estão ainda em falta decisões importantes, como os compromissos sobre medidas de financiamento, incluindo o mecanismo de Acesso e Partilha de Benefícios (ABS) do uso de informação de sequenciamento digital (DSI) dos recursos genéticos, assim como o mecanismo de acompanhamento das estratégias e planos nacionais de biodiversidade (apenas 44 foram apresentados até agora, entre as 196 partes da convenção).
Cerca da 1h da manhã (5h em Lisboa), o representante da República Democrática do Congo foi um dos primeiros a perguntar a Susana Muhamad, ministra do ambiente da Colômbia e presidente da COP16, se tinha previsão de quando terminaria a sessão plenária. “Obrigada pela sua questão. [Ficaremos aqui] Até à vitória”, respondeu Muhamad.