Circularidade: descubra o que pode fazer pela economia (e muito mais)
Por que razão estender a vida útil dos equipamentos ajuda o ambiente? É para dar resposta a esta e a outras questões que acontece o Innovators Forum’24. O mote é, precisamente, a circularidade.
O ritmo a que a sociedade actual produz e consome bens e produtos é alucinante e num só dado é possível ver o problema que a humanidade enfrenta: em apenas seis anos, foram consumidas mais de 500 mil milhões de toneladas de materiais em todo o mundo, quase o equivalente ao consumo total do século XX.
Face ao gigantesco desafio que este dado enuncia, é importante que nenhum actor se subtraia à responsabilidade de tentar inverter uma tendência que coloca sob enorme pressão os recursos naturais do planeta.
Este é um dos pilares fundamentais da actividade do grupo Sonae e, como tal, estabeleceu a "Circularidade" como tema central da edição deste ano do Innovators Forum, evento focado na partilha de conhecimento sobre áreas de impacto social.
Sónia Cardoso, directora de Sustentabilidade da Sonae SGPS, explica o que é este conceito que tem por base, por exemplo, a ideia de estender a vida útil dos equipamentos.
"Quando falamos de circularidade, referimo-nos a um modelo económico que visa manter os produtos, materiais e recursos em utilização durante o maior tempo possível", diz a responsável, acrescentando que a alternativa passa, por isso, por "uma abordagem que valoriza a redução, a reutilização, reciclagem e regeneração dos recursos”. O objectivo é claro: “Repensar o consumo, reduzir o desperdício e a pressão sobre os ecossistemas e recursos naturais."
Profunda conhecedora dos temas da gestão ambiental aos quais se dedica há praticamente 30 anos, a Sonae tem, de resto, desenvolvido várias iniciativas alinhadas com o conceito de circularidade.
Por exemplo, a MC, dona do Modelo Continente, disponibiliza serviços e produtos em segunda mão em áreas como o vestuário, bicicletas, puericultura e ferramentas eléctricas, "abrangendo mais de 150 tipos diferentes de produtos em três lojas-piloto", diz Sónia Cardoso.
Já a Worten, através do programa Resolve, que oferece serviços de reparação para dispositivos electrónicos, recondicionou até agora mais de 154 mil artigos.
Por fim, a Salsa lançou o projecto Infinity, que permite a reparação e reutilização de calças de ganga, tendo conseguido recuperar mais de duas mil peças em 2023 numa iniciativa que aposta também na literacia do consumidor: "Este projecto ilustra como a circularidade pode ser implementada de forma prática, contribuindo não só para a redução de resíduos, mas também para a sensibilização das pessoas sobre a importância de um consumo mais responsável", remata Sónia Cardoso.
Gestos que parecem simples, mas com um impacto substancial: "Segundo o Circularity Gap Report 2024, estima-se que a transição para a circularidade possa reduzir as emissões de gases com efeito de estufa até 40% e gerar dois milhões de empregos até 2026", assinala Sónia Cardoso.
O aspecto económico é, aliás, importante. Por um lado, as empresas "não são apenas responsáveis pelo desenvolvimento de produtos, mas também por influenciar boas práticas nas cadeias de abastecimento e por moldar comportamentos e escolhas dos seus clientes", descreve Sónia Cardoso.
Por outro, a própria questão da circularidade abre novas oportunidades comerciais: "A circularidade não é apenas uma responsabilidade ética, mas também uma oportunidade estratégica que impulsiona a inovação, a eficiência operacional e a diversidade de negócio", resume.
É nesse contexto que surge o Innovators Forum'24.
Inspirar. Inovar. Impactar
Será no próximo dia 27 de Novembro que especialistas nacionais e internacionais se juntam para o Innovators Forum'24 no Pátio da Galé, em Lisboa, para debater o estado actual da Economia Circular.
Num evento para o qual são esperados 400 participantes, as expectativas da organização são as mais elevadas: "O impacto esperado é significativo e multidimensional: inspirar os participantes a adoptarem práticas circulares nas suas organizações e, ao mesmo tempo, fomentar colaborações estratégicas que promovam a implementação de soluções mais sustentáveis", assinala Sónia Cardoso.
Para cumprir esse desígnio, a Sonae contará com o contributo de nomes como Ivone Bojoh, CEO da Circle Economy Foundation, responsável pela edição anual do Circularity Gap Report, Raphaël Masvigner (Circul’R), Marta Brazão (Circular Economy Portugal), Ana Barbosa (IKEA Portugal) e Gunther Pauli (empreendedor e criador do modelo "The Blue Economy").
Sob o mote "Inspirar. Inovar. Impactar.", todos os contributos são bem-vindos e é por isso que aos especialistas com projectos pioneiros na área, se juntam empresários, autarcas (como Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa) e organizações da sociedade civil.
"Será uma oportunidade única para inovar, inspirar e impactar, pois a economia circular não é o futuro – é o presente, e estamos prontos para agir em conjunto, na construção de um amanhã melhor para todos", remata Sónia Cardoso.