Governo e oposição reivindicam vitória nas eleições legislativas da Geórgia

Resultados provisórios apontam para triunfo do partido do poder, mas há sondagens que não lhe atribuem a maioria. Votação é vista como uma escolha entre a aproximação à Rússia ou à UE.

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Apoiantes do Sonho Georgiano, no poder há 12 anos, clamam vitória nas ruas de Tbilissi Zurab Javakhadze / REUTERS
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O Sonho Georgiano (SG) foi o mais votado nas eleições legislativas da Geórgia realizadas neste sábado, segundo as primeiras projecções e os resultados provisórios divulgados pela Comissão Eleitoral do país do Cáucaso. Diferentes sondagens à boca das urnas apontam, no entanto, para desfechos contraditórios, que deixam em aberto a possibilidade de a oposição conseguir impedir uma maioria parlamentar do partido que está no poder há 12 anos.

De acordo com os resultados apresentados pelas autoridades eleitorais, com 70% dos votos contabilizados, o SG chegava aos 53% e a oposição aos 44%. A emissora Imedi TV, próxima do partido no poder, estimou que este conseguiu recolher 56% dos votos.

Mas os inquéritos levados a cabo pelos canais Formula e Mtavari Arkhi, mais próximos da oposição, apontam para uma vitória sem maioria. De acordo com estas sondagens, são os partidos opositores que chegam, em conjunto, à maioria dos 150 membros do Parlamento.

Mesmo alcançando a maioria parlamentar, as quatro forças opositoras (Unidade-Movimento Nacional, Coligação para a Mudança, Geórgia Forte e Gakharia pela Geórgia) têm muitas divergências entre si, pelo que ainda é cedo para se perceber como é que poderiam colaborar juntas contra um hipotético SG minoritário.

Quando ainda faltam algumas horas para se conhecerem os resultados finais, tanto multimilionário Bidzina Ivanishvili, fundador do SG, como Salome Zurabishvili, Presidente e crítica do Governo, como Tina Bokuchava, líder do principal partido da coligação Unidade-Movimento Nacional, reivindicaram, ainda assim, a vitória dos respectivos campos políticos.

“As sondagens à boca da urna indicam uma margem de vitória impressionante de 10% para a oposição. Acreditamos que a população georgiana votou claramente a favor de um futuro no coração da Europa”, reagiu Bokuchava, citada pelo Guardian.

“A Geórgia Europeia está a vencer por 52%, apesar das tentativas de manipulação das eleições e sem os votos da diáspora”, escreveu Zurabishvili no X (antigo Twitter).

“É uma situação muito rara no mundo o mesmo partido conseguir alcançar um tal sucesso numa situação tão difícil. Este é um bom indicador do talento do povo georgiano”, disse, por sua vez, Ivanishvili, pouco depois de conhecidas as primeiras projecções. “Garanto-vos que o nosso país alcançará muito sucesso nos próximos quatro anos”, assegurou, citado pela Reuters.

O SG diz que garantiu 90 dos 150 membros do Parlamento, bem acima dos 76 necessários para a maioria.

As eleições deste sábado na Geórgia foram tratadas pelos analistas e pelos opositores ao Governo georgiano como uma escolha entre a aproximação do país do Cáucaso à Federação Russa e a um modelo político autoritário ou à União Europeia e à democracia.

O SG e o próprio Ivanishvili já admitiram, por exemplo, proibir todos os partidos opositores depois deste acto eleitoral, cuja participação superou os 58%, segundo as autoridades.

Apesar de a adesão da Geórgia ao bloco comunitário estar consagrada na sua Constituição desde o início do milénio e de o país ter recebido em Dezembro o estatuto de candidato, o SG desviou-o dessa rota, nomeadamente através da chamada “lei dos agentes estrangeiros”.

Aprovada em Maio pelo executivo de Irakli Kobakhidze, desafiando semanas de protestos maciços em Tbilissi e noutras cidades georgianas, a legislação obriga todas as organizações não-governamentais que recebam mais de 20% do seu financiamento do estrangeiro a registarem-se como entidades “ao serviço de potências externas”.

Para além das dúvidas sobre o resultado final, as eleições desde sábado ficaram marcadas por episódios de violência em várias mesas de voto. A emissora britânica BBC e o site de notícias europeias Politico deram conta de cenas de agressões e cenas de intimidação dirigidas contra eleitores e opositores políticos.

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