Várias viaturas e caixotes de lixo foram incendiados esta madrugada em bairros da cidade de Lisboa, disse este sábado à Lusa uma fonte do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB). Em comunicado, a Polícia Judiciária detalha que também se registaram tumultos no centro de Lisboa, anunciando a detenção de um suspeito de um crime de incêndio urbano no dia de sexta-feira na Rua de São Sebastião da Pedreira, após ter ateado fogo numa área com 16 contentores e ecopontos. O detido tem 23 anos.

A Polícia de Segurança Pública (PSP) registou 13 viaturas, cinco motociclos e sete caixotes do lixo incendiados. Foi ainda queimado um sofá em via pública, com pelo menos três fachadas de edifício danificadas pelas chamas. Houve uma detenção e foi identificado um suspeito.

Também em Setúbal, três viaturas ligeiras estacionadas na Rua Velha da Alfândega, em Setúbal, e vários caixotes do lixo no Barreiro, Moita e Montijo, arderam na última noite, de sexta-feira para sábado, disse à agência Lusa fonte da Protecção Civil.

Segundo o Comando Sub-regional de Emergência e Proteção Civil da Península de Setúbal, o alerta para as viaturas que se encontravam a arder na Rua da Velha alfândega, na Baixa de Setúbal, foi dado às 03h59 da última madrugada.

Em conferência de imprensa, o superintendente Luís Elias diz que a instabilidade tem diminuído nos últimos dias, adiantando que os mais recentes actos de vandalismo são "isolados e cometidos por pequenos grupos de indivíduos".

A PSP está em alerta este sábado, devido às duas manifestações que vão percorrer o centro de Lisboa. A primeira é promovida pelo movimento Vida Justa para reclamar justiça pela morte de Odair Moniz, que morreu depois de ter sido baleado por um agente da PSP, e a outra foi convocada pelo Chega "em defesa da polícia". Luís Elias admite que a polícia foi informada através de notícias da comunicação social de que o movimento Vida Justa alterou o final do percurso – reduzindo o risco de confrontos e violência.

Depois de confirmar esta informação com a autarquia, a PSP alterou o planeamento de acompanhamento a esta manifestação. Luís Elias pede ainda aos promotores de ambas as manifestações que informem as autoridades sobre potenciais grupos que se infiltrem nestes ajuntamentos apenas para criarem desacatos.

Em declarações à RTP em Benfica, onde várias viaturas foram incendiadas, Carlos Moedas fez esta tarde um apelo de união aos lisboetas, pedindo às forças políticas que não polarizem a população.

"Estamos unidos com estas pessoas que ficaram sem os seus carros e bens. Há um senhor que estava com as filhas no rés-do-chão e teve de fugir pela parte de trás [do edifício] com o pânico do que estava a acontecer. Estou aberto ao diálogo com todas as pessoas, para que este tipo de acções não aconteça. Não resolvem nada, apenas criam situações destas para a cidade", apela o autarca lisboeta.

Viaturas incendiadas no centro

O primeiro alerta para os distúrbios desta madrugada foi recebido pela 1h e o último às 5h33, disse a fonte oficial do RSB de Lisboa, adiantando que os incidentes ocorreram nos bairros de Benfica, Lumiar, Alvalade, Alcântara e Marvila.

Questionado sobre quantos bombeiros foram deslocados durante a madrugada, a mesma fonte disse não saber precisar, mas explicou que, para cada ocorrência, é enviada uma viatura com seis bombeiros.

Segundo informação da PSP, na zona de Benfica, as viaturas incendiadas terão sido na Avenida Gomes Pereira, Rua Pery de Linde, Rua José dos Santos Pereira, Rua da Venezuela, Rua Dr. José Sebastião Silva e na zona do Calhariz de Benfica, num total de cerca de uma dezena de situações. Foram remetidos mais detalhes para a conferência de imprensa da PSP agendada para as 12 horas.

Desde a noite de segunda-feira registaram-se desacatos no Zambujal e, desde terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados autocarros, automóveis e caixotes do lixo. A PSP registou 123 ocorrências, deteve 21 cidadãos e identificou outros 19. Sete pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade.

A desordem pública aconteceu na sequência da morte de Odair Moniz, de 43 anos, na madrugada de segunda-feira, quando o homem foi baleado por um agente da PSP.

Segundo um comunicado divulgado pela PSP na segunda-feira, o homem pôs-se "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e "entrou em despiste" na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca". Esta versão está, contudo, a ser contraditada por testemunhas, embora já tenha sido reafirmada pela PSP.

A Inspecção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.

Notícia actualizada às 12h45: acrescentadas declarações de Carlos Moedas