Sindicato dos médicos rejeita que linhas telefónicas sejam “solução mágica” para as urgências

“Se não há médicos para atribuir às pessoas, quem é que são os médicos que vão atender estas crianças? São os mesmos que já estão em sobrecarga?”, afirma Nuno Rodrigues, secretário-geral do SIM.

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Nuno Rodrigues, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) lembra que existem zonas com cerca de 40% de utentes sem médico de família Daniel Rocha
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O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) rejeitou que as linhas telefónicas sejam uma "solução mágica" para resolver as dificuldades das urgências e questionou a eficácia do plano apresentado esta terça-feira perante a falta de médicos de família.

"Nós não achamos que essas linhas telefónicas sejam uma solução mágica para resolver os problemas", adiantou à Lusa o secretário-geral do SIM, numa reacção ao plano de reorganização para as urgências de obstetrícia/ginecologia e pediatria hoje apresentado em Lisboa.

Relativamente à criação da linha SNS Criança, uma das medidas que consta do plano elaborado pela Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, Nuno Rodrigues referiu que a posição do sindicato é a mesma que manifestou sobre a SNS Grávida, criada recentemente no âmbito do plano de emergência do Governo para a saúde.

"Mais de 70% das grávidas foram encaminhadas na mesma para um serviço de urgência", salientou o dirigente sindical, que vê ainda "com dificuldade que haja médicos que consigam dar resposta" aos dois novos centros de atendimento clínicos pediátricos previstos para Lisboa e Porto.

Depois de referir que será ainda necessário perceber os detalhes do plano, Nuno Rodrigues alertou que em Lisboa e Vale do Tejo e na região Oeste existem zonas com cerca de 40% de utentes sem médico de família.

"Se não há médicos para atribuir às pessoas, quem é que são os médicos que vão atender estas crianças? São os mesmos que já estão em sobrecarga?", questionou o secretário-geral do SIM, para quem, neste momento, o importante era aumentar a contratação de especialistas, criando condições para ficarem no Serviço Nacional de Saúde.

"Um plano com boas intenções"

"Parece um plano com boas intenções, mas que carece de uma aplicabilidade prática principalmente nas regiões que não têm médicos de família", afirmou.

De acordo com o plano, que será nesta fase implementado em Lisboa e Vale do Tejo, na região Oeste e Península de Setúbal, as grávidas terão sempre de ligar para a Linha SNS Grávidas antes de recorrerem à urgência hospitalar de ginecologia e obstetrícia.

É recomendado que a grávida ligue para a Linha SNS 24 e, caso seja triada com a pulseira verde (pouco urgente), será encaminhada para uma consulta aberta hospitalar em 24 horas.

Já se for triada com pulseira azul (não urgente) será enviada para uma consulta aberta nos cuidados de saúde primários no dia útil seguinte ou para uma consulta normal.

No caso de a grávida se dirigir pelo próprio pé à urgência será aconselhada a ligar para a linha SNS 24. Caso não queira ligar, será observada por um enfermeiro especialista em saúde materna e obstétrica.

Relativamente à pediatria, o plano prevê a criação de uma Linha SNS Criança para desviar das urgências os casos não urgentes, enviando-os para consultas agendadas nos centros de saúde.

No caso das pulseiras azuis (não urgentes), serão marcadas consultas nos cuidados de saúde primários em 48 horas, enquanto as situações de pulseiras verdes (pouco urgentes) serão encaminhados para a chamada "consulta aberta" nos centros de saúde, para que a criança possa ser vista em 24 horas.

Nas urgências devem ser apenas vistos os casos encaminhados por outras unidades hospitalares, pelos assistentes ou pelo INEM.