Arqueólogos descobrem nova gravura rupestre com mais de 20 mil anos no vale do Ocreza

É o segundo cavalo representado sem cabeça a ser ali encontrado. Hoje, mais de 100 gravuras estão identificadas no vale do Ocreza, com diversas tipologias e cronologias.

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Um exemplar de arte rupreste junto à descoberta de uma quarta gravura com mais de 20 mil anos, que representa a figura de um cavalo, e que foi descoberta no vale do Ocreza PAULO CUNHA/LUSA
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Uma quarta gravura com mais de 20 mil anos, que representa um cavalo, foi descoberta no vale do Ocreza, em Mação (Santarém). Em declarações à agência Lusa, a investigadora e arqueóloga Sara Garcês, do Instituto Politécnico de Tomar e do Instituto Terra e Memória, em Mação, disse que a arte paleolítica encontrada gravada na rocha é representativa de um cavalo sem cabeça, a exemplo da primeira gravura encontrada naquele vale, em 2000 (o "Cavalo do Ocreza"), e que, apesar de ser mais pequena em dimensão, pode indiciar "um padrão" de estilo rupestre.

"É bem mais pequena do que aquelas que temos estado a encontrar, e também não mostra evidências de ter cabeça, o que é bastante peculiar [este é o segundo cavalo representado sem cabeça a ser ali encontrado, dizem os arqueólogos]. Começamos a achar que, neste vale em particular, é um padrão, uma escolha de estilo não representar a cabeça dos animais", disse.

Destacando "a forma e a figura do cavalo" representado, a arqueóloga classificou-o como "muito interessante" pela novidade.

A primeira gravura paleolítica encontrada no vale do Ocreza foi um cavalo sem cabeça, em 2000, e foi também a primeira encontrada abaixo do Côa e na área do complexo de arte rupestre do vale do Tejo. Poucos meses depois, arqueólogos portugueses e internacionais referenciavam mais de 50 gravuras no vale do rio Ocreza de cronologia mais recente, que originaram visitas turísticas à zona.

Hoje, mais de 100 gravuras estão identificadas no vale do Ocreza, com diversas tipologias e cronologias. Quatro das quais remetem para o Paleolítico Superior: a do "cavalo do Ocreza"; a de um painel com vários animais, incluindo um auroque, em 2021; de novo um auroque, em 2023; e agora, em 2024, outro cavalo.

"O facto de sentirmos que este vale tem um potencial arqueológico bastante grande fez-nos começar este novo projecto muito direccionado para as figuras do Paleolítico e mostra que, em contexto de escavação, é possível encontrar este tipo de figuras; o vale do Ocreza tem apresentado cada vez mais evidências de que, debaixo dos sedimentos, as gravuras também se encontram", destacou Sara Garcês. A arqueóloga referia-se a um trabalho de prospecção que decorre até 2026 no fundo do vale, com um tipo de rocha composto por xistos, "extremamente fácil de gravar e que mostra uma conservação bastante boa das gravuras".

O arqueólogo da Universidade Autónoma de Lisboa Telmo Pereira, que participa com Sara Garcês na coordenação dos trabalhos de prospecção, destacou à Lusa a "imensa satisfação" pela descoberta e a importância de um "olho treinado" para o que se procura, dadas as dificuldades impostas pela luminosidade, com as gravuras a serem perceptíveis apenas em determinadas horas do dia.

"É sempre um momento especial, porque elas normalmente não são assim [descobertas] de caras... Este, como era mais pequeno e até está numa posição mais discreta, não o vimos logo, até porque é muito mais fácil encontrar estas gravuras quando a luz é rasante", disse o investigador.

"Existem ali várias gravuras que, a determinadas horas do dia, podemos estar a olhar para a pedra e não as vemos. Há uma que tem uma particularidade: tem ali meia hora onde se vê mesmo muito bem, e durante o resto do dia praticamente não se vê. Portanto, tendo isso em conta, foi mesmo ganhar o dia", declarou.

Segundo o arqueólogo, o objectivo agora é associar às gravuras artefactos com sedimentos ou outra matéria que possam ser datados. "Portanto, associar, digamos assim, um acampamento, mesmo que fosse temporário, a essa arte rupestre", afirmou. "Esse será o próximo objectivo (...), encontrarmos esse acampamento que nos permita fazer a associação entre a idade, os artefactos, a arte rupestre e o comportamento das pessoas e a sua sobrevivência em determinado período, que sabemos que provavelmente terá sido de crise climática."