Activista da caça à baleia Paul Watson pede asilo político a França

Detido na Gronelândia, a aguardar decisão sobre se será extraditado para o Japão, Paul Watson escreveu uma carta ao Presidente francês Emmanuel Macron.

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Lamya Essemlali, presidente da Shepherd France, mostra foto numa conferência de imprensa com os advogados de Paul Watson CHRISTOPHE PETIT TESSON /EPA
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O activista anticaça à baleia Paul Watson, detido na Gronelândia e a aguardar possível extradição para o Japão, onde pode ser condenado a uma pena de até 15 anos de prisão, pediu asilo político em França ao Presidente Emmanuel Macron.

O anúncio foi feito pela Fundação Capitão Paul Watson na quarta-feira. O americano-canadiano Watson, de 73 anos, fundador do grupo conservacionista Sea Shepherd, foi detido quando o seu navio atracou no porto de Nuuk, na Gronelândia, a 21 de Julho, no cumprimento de um mandato de captura da Interpol pedido pelo Japão.

Desde então, está detido na Gronelândia, uma região autónoma dinamarquesa, enquanto a Dinamarca decide se o extradita para o Japão.

Carta a Macron

“Paul está muito ligado a França, país que tem o segundo maior território marítimo no mundo, e que é muito importante para a conservação do oceano. Paul vive actualmente em França com a sua família”, disse a presidente da Sea Shepherd France, Lamya Essemlali, citada pela Associated Press. Paul Watson terá escrito uma carta para o Presidente Emmanuel Macron.

O Japão emitiu um mandado internacional de captura há mais de uma década, pedindo a detenção de Paul Watson sob a acusação de ter invadido uma embarcação japonesa no oceano Antárctico em 2010, obstruindo a sua actividade e causando ferimentos e danos materiais.

A Sea Shepherd enfrentou muitas vezes os navios baleeiros japoneses, que continuaram a caçar baleias apesar de isso ter sido proibido por uma moratória imposta pela Comissão Baleeira Internacional em 1986, que aplica a Convenção Internacional para a regulação da Actividade Baleeira, assinada em 1946. Apesar de ter assinado a moratória, o Japão invocou uma excepção nos acordos, que permite a caça para “fins científicos”.

Essa actividade foi durante anos contestada não só por ambientalistas, como por vários Estados. Em 2014, na sequência de uma queixa da Austrália, o Tribunal Internacional de Justiça, o órgão máximo judicial da ONU, considerou que a caça que o Japão promovia na Antárctida era apenas um programa comercial disfarçado de científico. Em 2019, o Japão abandonou a Comissão Baleeira Internacional para se dedicar livremente à caça à baleia.

Capitaneando embarcações de defensores das baleias, Watson foi ao encontro dos navios baleeiros japoneses no mar, para dificultar a sua actividade e impedir a morte dos grandes cetáceos ameaçados de extinção, com uma organização que se tornou famosa, a Sea Shepherd. Estas tentativas de impedir a actividade nipónica recebiam sempre grande atenção mediática.

Por isso, críticos da detenção de Watson sublinham o carácter político desta perseguição judicial: a prática da caça à baleia no Japão, internacionalmente proibida, tem sido continuada por vontade e pressão dos governos conservadores japoneses, que a defendem como parte do património cultural nipónico.

No início deste mês, a detenção de Watson foi prolongada até 23 de Outubro.

Watson, que nega todas as acusações de que é alvo, pode ser condenado até 15 anos de prisão se for extraditado para o Japão e aí julgado, segundo os seus advogados.