A exibição pública de Salgado foi uma escolha da sua defesa
Aquilo que me pareceu mais insuportável não foi ver Ricardo Salgado a andar, mas o seu advogado Francisco Proença de Carvalho a falar.
Em primeiro lugar, queria discutir a ideia de humilhação. Qualquer figura pública que se apresente em tribunal para ser julgada por uma série de crimes sofre a humilhação própria de quem é suspeito de ser criminoso. Sempre foi assim e não vejo como possa vir a ser de outra maneira, ainda que essa pessoa seja posteriormente inocentada. Mas a ideia de que a humilhação é muito maior por Ricardo Salgado estar velho e ter Alzheimer, que parece ser partilhada por 99% da população portuguesa, não é definitivamente partilhada por mim. Recuso-me a admitir que um velho com Alzheimer seja uma vítima de humilhação só porque é velho e tem Alzheimer. A exibição da fragilidade humana não é nenhuma desonra; não é um estado que tenha de ser vivido longe de olhares públicos, como se fosse uma espécie de peste. Até ver, é mais ou menos assim que todos vamos acabar.
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