Nauseabundo

As direitas tradicionais e o centrão social-democrata que fazem a gestão da UE têm contribuído decisivamente para a banalização da agenda e do discurso racista.

Ouça este artigo
00:00
04:02

“Recuperar o controlo, garantir a segurança.” Poderia ser um slogan do "Brexit", ou de Trump, mas não: é o nome do programa securitário que outro liberal de serviço, Donald Tusk, deu ao anúncio de que a Polónia abandonará a Convenção de Genebra (1951) sobre direito de asilo. E fá-lo misturando, como sempre neste discurso, refugiados com migrantes. O primeiro-ministro da Polónia, que já foi presidente do Conselho Europeu (anos em que dizia aquelas vacuidades da eurocracia e que agora vem mostrar quão vazias eram), e que a UE apresentou como o homem que recuperara a Polónia para os “valores europeus”, depois de, em dezembro, ter posto fim a oito anos de governo da ultradireita racista e religiosa polaca, vem agora dizer: “Não respeitaremos nem implementaremos nenhuma ideia da UE se estivermos certos de que mina a nossa segurança. Ninguém me obrigará nem me convencerá a assinar o pacto migratório” – um documento, recorde-se, verdadeiramente nauseabundo que, apesar de prever a distribuição de refugiados que entrem em algum país da UE pelos vários Estados-membros, legaliza as práticas mais ofensivas dos direitos humanos dos refugiados e dos migrantes, prendendo requerentes de asilo em novos Guantánamos fora de território europeu (como agora faz a neofascista Meloni na Albânia). Nesta nova modalidade liberal de criticar a ultradireita ultrapassando-a pela direita, Tusk acha que o governo da ultradireita polaca foi o “mais pró-imigração da Europa” por ter permitido que o país se “inundasse” de imigrantes! Há hoje um milhão de estrangeiros no país, menos de 3% da população, e a enorme maioria dos quais bielorrussos ou ucranianos fugidos à guerra, pelo que só pode ser cinismo dizer que os polacos “têm um medo de carácter civilizatório” (que embuste!) dos imigrantes (El País, 12/10/2024).

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.