Erradicação da pobreza: qual o papel das universidades?

O ensino superior pode intervir, não só por ser um centro de geração de conhecimento e como tal de influência, mas também por ter a seu cargo a formação, não só de jovens, como ao longo da vida.

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Em 2015, a ONU apresentou a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, com o objetivo de promover um desenvolvimento global sustentável, assente em três pilares principais: ambiental, social e económico. Definindo 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a Agenda 2030 define prioridades e metas a atingir, criando alianças comprometidas entre nações e instituições públicas e privadas de diferente natureza. O ODS número 1, tem como meta erradicar a pobreza, caracterizada não só pela falta de rendimentos e recursos, mas por outras dimensões ligadas à inclusão e dignidade humana, como sejam a privação de acesso à educação, à saúde, ao saneamento e água potável e à segurança alimentar. Erradicar a pobreza, representa um dos maiores desafios da humanidade e passa por construir sociedades mais justas e inclusivas, modos de produção mais sustentáveis e uma melhor distribuição de riqueza.

Estes são desafios complexos que só podem ser superados através de ações multissectoriais, onde das ciências sociais e humanas às ciências exatas, ou do sector de produção primária ao ensino superior, todos podem contribuir. Neste domínio o ensino superior pode intervir a diferentes níveis, não só por ser frequentemente um centro de geração de conhecimento e como tal de influência, mas também por ter a seu cargo a formação, não só de jovens, como ao longo da vida. Portanto, para erradicar a pobreza, as Instituições de Ensino Superior (IES) têm a capacidade de contribuir a vários níveis:

Educação e desenvolvimento de competências: o primeiro passo para uma transformação efetiva consiste na sensibilização daqueles que serão os decisores e futuros líderes. Mais do que formar profissionais competentes, é fundamental formar cidadãos conscientes e comprometidos, que defendam políticas em prol das comunidades marginalizadas. Programas de voluntariado e atividades de sensibilização são alguns exemplos importantes nesse processo.

Investigação e apoio a políticas: as IES podem investigar as causas da pobreza e encontrar soluções inovadoras, e desse modo contribuir para desenvolver políticas locais, nacionais e globais, que sejam adaptadas e eficazes no combate à pobreza em diferentes contextos.

Território e envolvimento com a comunidade: as IES podem promover o empreendedorismo, incentivar a criação de empresas e estimular as economias locais. Deste modo, podem envolver as comunidades locais, fomentando desenvolvimento económico.

Diálogo e parcerias globais: as IES podem ser catalisadoras de parcerias entre setores, promovendo o diálogo entre sociedade civil, tecido empresarial e governo. Deste modo, podem facilitar o desenvolvimento de soluções integradas para os desafios sociais e económicos.

A colaboração das IES na erradicação da pobreza não é opcional, mas uma exigência moral. O seu potencial papel transformador faz destas líderes naturais na construção de um futuro mais inclusivo e próspero, comprometido com a dignidade humana e a justiça social.

Tal como afirmou Peter Hans Kolvenbach, S.J., "mais do que formar os melhores do mundo, queremos formar os melhores para o mundo". Este deve ser um mote inspirador das Instituições de Ensino Superior.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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