Pedro Nuno afasta-se do Orçamento e zurze comentadores do PS que defendem viabilização

Secretário-geral endurece tom em relação a Montenegro e pede a partido que fale “a uma só voz” sobre Orçamento. Tabu sobre viabilização vai durar até votação na generalidade a 31 de Outubro.

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O secretário-geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos RODRIGO ANTUNES
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Um raide explosivo contra a proposta de Orçamento do Estado do Governo, a posicionar o PS na oposição ao Executivo, e a fazer críticas ásperas aos militantes do PS que, nos seus espaços de comentário ou em entrevistas, têm defendido a viabilização. Foi com estas três linhas de argumentação que o secretário-geral do PS passou o fim-de-semana, discursando nos congressos federativos de Braga e Coimbra (sábado) e em Lisboa este domingo.

As críticas ferozes ao Orçamento “que nunca será do PS” não implicam que qualquer decisão sobre a viabilização das contas do Estado já tenha sido tomada. O suspense em torno de qual virá a ser a decisão final do PS vai continuar.

Com o partido dividido entre o voto contra e a abstenção (divisão que o secretário-geral assumiu em entrevista ao JN/TSF), o secretário-geral tenciona atirar uma decisão só para o fim do mês. Pelo caminho, Pedro Nuno Santos escapa a uma chuva de críticas que aconteceriam certamente no Congresso do PSD, marcado para o próximo fim-de-semana em Braga, se a decisão fosse a do voto contra.

No congresso federativo de Coimbra, Pedro Nuno assumiu que o “processo orçamental é complexo” e pediu, como já tinha feito na véspera, um PS a “uma só voz”.

“Não são comentadores como os outros”

O secretário-geral do PS afirmou que o actual processo orçamental que o país vive "é um processo complexo para o PS", defendeu o seu direito a "dizer aquilo que entende" tal como todos os militantes e instou os socialistas a apresentarem-se "unidos publicamente". Salientou que os militantes do PS “não são comentadores como os outros” e aludiu à “responsabilidade dos que têm acesso ao espaço mediático” – “que vocês não têm, disse, apontado para a plateia. No sábado, tinha convidado os comentadores “a descerem do pedestal”.

À tarde, perante os militantes da federação urbana de Lisboa, como que procurou justificar o tipo de discurso que tem feito para dentro do partido, salientando que, apesar de acompanhadas pelas televisões, estas são "reuniões partidárias". Lembrou que o partido tem "grande intervenção pública" e "dirigentes com grande capacidade e espaço de intervenção pública", mas até parece haver quem se esqueça que o PS é feito de militantes muito diversos, que todos "trabalham para defender o partido, os seus princípios e valores".

"É importante que saibamos ouvir os militantes e respeitá-los", afirmou, recusando que alguma vez tenha estado em causa a "liberdade interna de cada um". "O PS é um partido que conquista a liberdade lá fora e garante-a cá dentro." Por isso, todos podem dizer o que pensam, "incluindo o secretário-geral”, disse, repetindo uma espécie de aviso que fizera nos discursos anteriores.

Sobre si, disse também ter a "obrigação de liderar um combate externo e de liderar também, internamente, o PS", defendeu que os socialistas têm que "actuar e intervir na unidade, sempre", porque todos "são necessários" - unidade pela qual "pugnará", prometeu assim como pelo "direito de cada um dizer o que pensa" e a poder, depois ser contradito a seguir. E elogiou a "capacidade de lutar e o orgulho" dos membros do partido em serem "socialistas sempre - durante a governação e durante a oposição".

Mais do que as entrevistas e comentários de Sérgio Sousa Pinto ou Francisco Assis na sexta-feira – favoráveis à viabilização do Orçamento – a mais dura intervenção contra o secretário-geral foi feita na RTP pelo antigo ministro José António Vieira da Silva, que nas directas apoiou José Luís Carneiro.

Vieira da Silva afirmou que “depois de tudo o que se passou não é expectável nada diferente do que a aprovação do Orçamento”, que “não seria compreensível para ninguém que houvesse um bloqueio”. Mas, numa alusão à relação do secretário-geral com os partidos à sua esquerda, foi mais longe e deu a entender que o Orçamento do Governo PSD/CDS é melhor do que seria um de Pedro Nuno Santos aliado ao Bloco, ao PCP e ao Livre: “Não estou de acordo que um qualquer frentismo de esquerda apresentasse melhor orçamento do que este.”

E Vieira da Silva foi o único socialista comentador que veio este domingo criticar as palavras de Pedro Nuno Santos, afirmando-se “estupefacto”. Em declarações à Rádio Observador, afirmou que “as pessoas que falam não falam em nome do partido. Agora, os militantes do Partido Socialista não estão impedidos. Não pende sobre eles nenhuma espécie de norma de silêncio. Isto não é próprio de uma democracia.”

Nos discursos de Pedro Nuno neste domingo houve também lugar para a polémica das reuniões entre Luís Montenegro e os partidos à direita que tem sido alimentada pelo líder do Chega nos últimos dias. "A direita portuguesa é uma confusão e não é de confiança como temos dito desde a campanha. Não tem capacidade de se entender, não tem capacidade de formar maiorias", apontou o secretário-geral do PS. "A troca de galhardetes de acusações de mentir entre dois líderes partidários é uma vergonha para a política nacional, para todos nós."

Desafio a Montenegro para explicar reuniões

Sem querer entrar pelo caminho de quem tem ou não razão nesta contenda, Pedro Nuno tem insistido num ponto: "Temos um primeiro-ministro que grita a todos os ventos 'não é não' quando bastava uma reunião para dizer: 'André, não é não, nós não vamos negociar contigo.'" Por isso, o líder socialista deixa uma crítica a que se tenham feito "várias reuniões durante o processo de negociação orçamental", aproveitando para lamentar que se façam exigências ao PS e "se esmiúcem os comentários do secretário-geral do PS" ao mesmo tempo que é "incompreensível que não se exija o mesmo do primeiro-ministro".

Deixou, assim, uma espécie de desafio a Montenegro para que venha a público explicar-se, já que "até agora não disse muito sobre o tema" além de uma publicação imediata numa rede social dizendo ser "mentira" que tenha proposto ao Chega um acordo para integrar o Governo. Quem entretanto entrou igualmente no assunto foi Rui Rocha: o líder da Iniciativa Liberal confirmou que também se reuniu com o primeiro-ministro a 15 de Julho (a data indicada por André Ventura), mas sem ter havido qualquer referência a acordos para o orçamento ou de governação.

Pedro Nuno aproveitou para uma alfinetada aos liberais: "Ao dia de hoje, tenho dificuldade em perceber qual é o papel da Iniciativa Liberal na vida política portuguesa. O que se tem revelado é um partido sem autonomia face ao PSD, sem uma alternativa, transformados numa guarda pretoriana do primeiro-ministro e do Governo."

Ganhar Braga, Porto e Coimbra. E Lisboa?

O circuito pelas estruturas federativas deste fim-de-semana chegou ao fim e, depois de colocar como objectivos directos ganhar as câmaras de Braga, Penafiel, Porto (que classificou de cidade mais importante do país) e Coimbra, Pedro Nuno Santos não foi, afinal, tão assertivo sobre Lisboa. Chegado ao congresso da federação da área urbana de Lisboa, no domingo ao fim da tarde, sobraram as críticas ao actual presidente da autarquia, o social-democrata Carlos Moedas, mas faltou o foco entusiasmado na vitória no município da capital, trocado pelo objectivo maior de, "daqui a um ano, continuar a ser a primeira força política autárquica do país".

Depois de uma derrota nas legislativas e uma vitória nas europeias (além de duas derrotas nas regionais da Madeira e dos Açores), as autárquicas são uma espécie de tira-teimas para a liderança de Pedro Nuno Santos. A renovação das federações é um dos passos nesse caminho para o "momento alto da democracia local" das autárquicas. Sobre Lisboa, criticou Carlos Moedas por apenas se preocupar com a comunicação, pelo "autoconvencimento" do autarca, e também pela falta de higiene e dificuldades de mobilidade na cidade.

O que tem Moedas para apresentar, então? "Algumas casas não foram foi lançadas por ele", sinaliza Pedro Nuno, entrando no seu próprio "quintal", mas conseguindo escapar a nomear-se. "De todas as casas que foram entregues na cidade de Lisboa, nenhuma é da sua responsabilidade. É do Partido Socialista, é de António Costa, é do Fernando Medina."

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