Novo ataque de Israel a uma escola em Gaza faz dezenas de mortos

Israel já atacou 85% das escolas da Faixa de Gaza. Operações israelitas intensificaram-se esta semana e têm feito diariamente muitas dezenas de mortos no Norte e no centro do enclave.

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Rescaldo de ataque israelita em Deir el-Balah REUTERS/Ramadan Abed
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Um ataque aéreo israelita a uma escola transformada em abrigo para deslocados da Faixa de Gaza fez nesta quinta-feira de manhã pelo menos 28 mortos, segundo o Crescente Vermelho Palestiniano, que transportou 54 feridos e diz temer que o número de mortes continue a aumentar. A escola atingida fica junto à sede do Crescente Vermelho.

Os ataques de Israel no enclave recrudesceram esta semana e têm provocado muitas dezenas de mortos por dia, principalmente no Norte, na região de Jabalia, onde teve início uma nova operação terrestre (para “impedir os esforços de reagrupamento do Hamas”) e a ONU diz que há 400 mil pessoas encurraladas pelas forças israelitas, e na cidade de Deir el-Balah, no centro do território, uma área que tinha sido considerada “zona humanitária segura”.

A escola Rafida, agora atingida, é precisamente em Deir el-Balah. O hospital dos Mártires de Al-Aqsa, nesta cidade, confirmou o número de mortos, e um jornalista da Associated Press contou os corpos que ali chegaram. Imagens divulgadas pela agência de notícias palestina Al-Quds mostram pessoas a tentar arrastar feridos até duas ambulâncias enquanto uma multidão corre de um lado para o outro, envolta numa espessa nuvem de fumo, e se ouvem gritos desesperados de mulheres.

“Antes do ataque, foram tomadas várias medidas para mitigar o risco de ferir civis, incluindo a utilização de munições precisas, vigilância aérea e informações adicionais”, afirmou um porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF) à Reuters. Como em anteriores ataques a escolas, as IDF dizem que esta abrigava um “centro de comando do Hamas”.

Corpos despedaçados

Tareq Abu Azzoum, jornalista da Al-Jazeera, garante que “não avisou o abrigo” e diz ter visto muitos corpos despedaçados, incluindo de “crianças e mulheres”.

Segundo dados compilados pela Al-Jazeera, Israel bombardeou cerca de 85% das escolas de Gaza desde que iniciou esta guerra devastadora, em resposta aos brutais ataques do Hamas, a 7 de Outubro do ano passado. Estes ataques, de acordo com o canal de notícias, “mataram centenas de crianças e deslocados palestinianos”. Só em Setembro de 2024, a OCHA (Gabinete da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários) contabilizou 17 ataques a escolas, 14 delas ocupadas na altura por deslocados.

Numa só semana de Agosto, segundo a ONG britânica Action for Humanity, sete escolas foram bombardeadas, uma por dia, todas repletas de civis deslocados.

Em Jabalia, os ataques das IDF continuam com a violência da véspera, dia em que fizeram pelo menos 60 mortos. Pelo menos dois jornalistas palestinianos foram mortos e vários ficaram feridos, incluindo dois operadores de câmara da Al-Jazeera que estão, segundo o canal, “em estado crítico”.

Já nesta quinta-feira, de acordo com a agência Wafa, 15 civis foram mortos “quando as forças de ocupação israelitas bombardearam as tendas das pessoas deslocadas”. Um vídeo que terá sido gravado logo depois deste ataque, e que foi partilhado nas redes sociais, mostra o caos no hospital Kamal Adwan, com médicos a tentarem tratar feridos deitados no chão.

Ultimato aos hospitais

Este hospital, em Beit Lahia, a dez minutos de distância de carro de Jabalia, é um dos três da região que receberam ordens de evacuação: as ordens das IDF foram dadas na terça-feira, com um ultimato de 24 horas. A funcionar apenas parcialmente, o Kamal Adwan foi alvo de um raide das forças israelitas em Dezembro do ano passado. Em Maio, depois de lançarem vários ataques nas proximidades do hospital, as IDF bloquearam o acesso ao edifício.

“Estamos sob cerco e somos o único hospital que presta cuidados a crianças no Norte de Gaza”, disse o director do hospital, Husam Abu Safiyeh, em declarações à BBC, na terça-feira. Numa nova conversa, já na quarta-feira, acrescentou: “Se este hospital deixar de funcionar, isso significa que muitos civis vão morrer – estes civis são mulheres e crianças inocentes.”

Tal como acontece em todo o Norte, desde dia 1 de Outubro que não chegam a este hospital alimentos, combustível ou qualquer material médico.

“Os Estados Unidos estão preocupados com a situação no Norte de Gaza, incluindo o anúncio por Israel de uma nova ordem de evacuação para várias comunidades. Estamos particularmente preocupados com o facto de os civis palestinianos não terem para onde ir em segurança”, afirmou a embaixadora de Washington na ONU, Linda Thomas-Greenfield, durante uma sessão do Conselho de Segurança dedicada ao Médio Oriente, na quarta-feira.

Referindo que “já existem relatos devastadores sobre as condições miseráveis da zona humanitária no Sul e no centro de Gaza, para onde fugiram mais de 1,5 milhões de civis”, Thomas-Greenfield nota que “estas condições catastróficas foram previstas há meses e, no entanto, ainda não foram resolvidas”. A embaixadora sublinhou ainda a sua preocupação “com as recentes acções do Governo israelita para limitar a entrega de bens em Gaza”.

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