“Não vejo como é que se melhora o jornalismo cortando meios à RTP”

Luís Filipe Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas, preocupado com corte de 250 pessoas na estação pública

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Luís Filipe Simões. presidente do Sindicato dos Jornalistas Rui Gaudêncio
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O Sindicato de Jornalistas foi envolvido no Plano de Acção para a Comunicação Social. Teve uma reunião com o ministro da tutela e duas com o secretário de Estado. Não constam muitas das suas propostas, como os incentivos fiscais, as bolsas jornalísticas, os vouchers.

O que pensa do Plano de Acção para a Comunicação Social apresentado esta terça-feira?
Tem algumas medidas positivas, como a oferta de assinaturas digitais a alunos do secundário, o incentivo à contratação de jornalistas, a duplicação do porte pago para os jornais regionais. Mas também tem uma parte que nos preocupa e até uma que nós consideramos alarmante. A RTP deixa de ter publicidade ao mesmo tempo que se abre caminho a rescisões de 250 pessoas. Não sabemos quantos serão jornalistas, mas alguns serão. [Fala-se na renovação do contrato de concessão de serviço público] sem que se suba a compensação, sendo que foi apresentado como um óptimo exemplo a BBC e o Reino Unido. Estamos a falar de coisas completamente diferentes e não vejo como é que se melhora o jornalismo cortando meios à RTP e já agora também à Lusa. E essa foi a parte que nos preocupou bastante.

Não falou em cortar postos de trabalho na Lusa…
Não, mas falou em reduzir o que é pago à Lusa nos meios [um desconto de 50% e 75% para órgãos de comunicação regionais e locais e um desconto entre 30% e 50% para órgãos de comunicação nacionais]. Parece-me um exercício complicado haver menos recursos, tendo a Lusa que manter a obrigação de prestar os serviços que presta.

De fora ficou a ideia que tem circulado de o acesso à Lusa passar a ser gratuito...
O que nos parece bem. Isso envolve alguns riscos. Há medidas que devem ser pensadas. Acredito que o que aconteceu hoje foi um bom ponto de partida, é o Governo a sinalizar a urgência do apoio ao jornalismo e à comunicação social, mas estamos longe de um ponto de chegada. O apoio à comunicação social tem de ser mais debatido, mais pensando.

Mais alguma preocupação?
É importante que o incentivo à primeira contratação signifique criação líquida de emprego. Há outra questão [uma retribuição mínima obrigatória igual ou superior ao nível remuneratório de Nível 6 do Quadro Nacional de Qualificações, isto é, 1120 euros]. Ora, 1120 euros muitas das vezes é o salário de jornalistas com 10 ou mais anos de experiência. Será que vai ganhar mais quem entra hoje? Isso levanta uma série de problemas. Por isso é que eu digo que é um bom ponto de partida e que temos que conversar muito sobre estas intenções de fazer um plano de defensa da comunicação social.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, também fez alguns comentários sobre o “jornalismo ofegante” e “perguntas sopradas ao ouvido”…
Creio que o primeiro-ministro foi, no mínimo, bastante infeliz. No dia em que ia falar do problema do jornalismo e da comunicação social, escolheu as perguntas recebidas pelo auricular ou lidas no telemóvel. Quem nos dera que esse fosse o problema do jornalismo, mas não é. As perguntas no telemóvel podem ter sido escritas pelos jornalistas que as lêem. Depois, provavelmente, para um primeiro-ministro não seria mau perceber que uma pergunta ao auricular pode resultar de um trabalho de equipa e que isso pode melhorar o trabalho. Não quer dizer que o jornalista está a ser um pé de microfone. E, portanto, creio que foi infeliz num dia em que está a falar da necessidade de apoiarmos o jornalismo e, desta forma, garantirmos a democracia.

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