O Brasil noivou e se casou com a direita

Seis partidos de direita saíram vencedores em 3.987 municípios brasileiros. Lula terá de se reinventar se quiser garantir um novo mandato. Brasil pode eleger um presidente conservador em 2026.

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As eleições municipais no Brasil, realizadas no domingo (06/10), deixaram claro: o país elegeu a direita como noiva e se casou com ela sem qualquer constrangimento. Os quase 150 milhões de eleitores que saíram de casa para votar, em maioria, se mostraram conservadores. Seis partidos de direita vão administrar 3.987 dos 5.569 municípios brasileiros, onde está o grosso da população do país. Esse número ainda pode aumentar daqui a três semanas, pois haverá segundo turno em 52 cidades, incluindo várias capitais.

O PSD de Gilberto Kassab fez 878 prefeituras de cidades que concentram aproximadamente 30 milhões de habitantes. Kassab é aliado de primeira hora do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, mas também fechou acordos com o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em seguida, aparece o MDB, cuja máquina está ramificada por todo o país, com 848 municípios. Na sequência, estão o PP, com 743 municípios; o União Brasil, com 578; o PL de Jair Bolsonaro, com 510; e o Republicanos, com 430. Só então surge o primeiro partido mais voltado à esquerda, o PSB, com 309. O PT vai administrar 248 cidades.

É evidente que o resultado das urnas deste domingo ditará os rumos das eleições presidenciais de 2026. Lula, que já demonstrou desejo de se candidatar à reeleição, terá de virar o jogo nos próximos dois anos, se quiser realmente continuar no Palácio do Planalto. O petista permanece bem avaliado — 51% dos eleitores o aprovam contra 45% que o reprovam —, mas ele não está conseguindo tirar proveito do bom momento da economia brasileira.

O desemprego é o menor desde 2014, o número de trabalhadores com carteira assinada é o maior da história, a renda real também é a maior que já se viu, o Produto Interno Bruto (PIB) cresce a um ritmo de 3% ao ano e a inflação está próximo da meta, de 3%. Contudo, o discurso carregado de fake news da extrema-direita por meio das redes sociais tem conseguido minimizar esses feitos. Lula sabe que a esquerda e mesmo o seu governo não têm conseguido vencer o debate. O eleitorado prefere embarcar no discurso fácil dos extremistas.

As urnas mostraram, também, a força do Centrão, que turbinou seus candidatos com as facilidades no manejo das verbas do Orçamento da União. Estima-se que os partidos que compõem o grupo mais fisiológico do Congresso brasileiro tenham liberado R$ 60 bilhões (10 bilhões de euros) em emendas para prefeitos aliados. Isso, sem falar do Fundo Eleitoral, de R$ 4,9 bilhões (816 milhões de euros), e do Fundo Partidário, de R$ 1,2 bilhão (200 milhões de euros), cujas maiores parcelas cabem a essas legendas. É possível dizer, inclusive, que, nesse contexto, o Centrão praticamente garantiu o comando da Câmara e do Senado, cujas eleições estão marcadas para fevereiro de 2025.

Ainda é cedo para se afirmar, porém, que a polarização diminuiu no Brasil, com a derrota de Lula e o enfraquecimento de Jair Bolsonaro, uma vez que a direita menos radical — espera-se — tenha ficado com a maior parte das prefeituras. O certo é que o conservadorismo, liderado pelos evangélicos, está cada vez mais forte no Brasil, a agenda progressista dos partidos de esquerda foi escanteada, Lula terá de se reinventar com um PT menos radical e a chance de o país ter um presidente de direita aumentou muito.

Uma nota final: o PL de Jair Bolsonaro disputará o segundo turno em nove capitais, com chances de vitória em sete. O PT estará na disputa em quatro, mas todas em desvantagem, sobretudo em São Paulo, onde apoia Guilherme Boulos, do PSol.

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