Metáforas da profissão docente

O ‘ser’ professor é um ‘ser pessoa’, que é fonte, farol, ponte e caleidoscópio.

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As metáforas, além de serem figuras de linguagem, refletem e moldam a forma como as pessoas percebem e interagem com o mundo. Neste Dia Mundial do Professor propomos um olhar para metáforas associadas à profissão docente.

Partimos da metáfora ‘ser professor é ser fonte (de conhecimentos)’. A metáfora da ‘fonte’ destaca o domínio profundo do conhecimento factual, conceitual e procedimental relacionado com uma área científica. É uma visão que valoriza o que Tardif, no livro Saberes Docentes e Formação Profissional, chamou de ‘saberes disciplinares’, essenciais para a docência.

A orientação dos estudantes para a construção de conhecimentos e a compreensão do seu papel na sociedade, contudo, exige do professor outros saberes: conhecimentos pedagógicos relacionados às estratégias e metodologias de ensino e avaliação. Neste âmbito, ‘ser professor é ser farol (que guia)’; e aqui temos uma metáfora que sugere um alerta: contrariamente à associação da profissão docente ao modelo de vocação, os saberes pedagógicos precisam de ser arduamente (re)construídos.

Para além da ‘fonte’ e do ‘farol’, o professor é também ‘ponte’. A ponte une, conecta e expande caminhos. Este papel, de estimular as interações e as vivências, é destacado por autores fundacionais em Educação, como Vygotsky, que argumenta que o desenvolvimento cognitivo do estudante está interligado às relações que estabelece – em grande medida – mediadas pelo professor.

Chegamos à metáfora ‘ser professor é ser caleidoscópio’, que ilustra a natureza multifacetada das responsabilidades inerentes à prática docente. Esta complexidade implica um olhar sobre o desenvolvimento profissional, para que seja uma preocupação permanente. É diante deste caleidoscópio que a Universidade Católica Portuguesa se tem empenhado e destacado. O Católica Learning Innovation Lab (CLIL) tem procurado promover uma agenda transformativa de desenvolvimento profissional dos seus professores, através de uma combinação de práticas e de contextos variados. Essa abordagem está alinhada à busca pelo reforço das competências e da motivação dos profissionais da educação, prioridade do quadro estratégico para a Cooperação Europeia no domínio da Educação e da Formação.

Essas (e outras) metáforas mobilizam uma riqueza de significados sobre o ‘ser’ professor, mas nenhuma delas – sozinha – captura a natureza plural, complexa e social dos saberes docentes. Daqui decorre uma reflexão fulcral: uma definição necessária no Dia Mundial do Professor advém de uma afirmação bastante literal, algumas vezes referida na literatura, mas nem sempre reconhecida: o ‘ser’ professor é um ‘ser pessoa’. Um ‘ser pessoa’ que é fonte, farol, ponte e caleidoscópio. É, portanto, um ser bastante exigido e exigente; um profissional autêntico no âmbito da sua complexidade. Por isso (e por muito mais), merece ser celebrado e precisa de ser (mais) valorizado.

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