Gastos com a defesa na Rússia atingem valores recordes

O orçamento do Kremlin prevê novos aumentos com o sector militar, que terá direito a uma fatia que supera a despesa com pensões, educação e saúde, indicando que invasão irá prolongar-se.

Foto
Vladimir Putin tem reiterado a confiança de que a Rússia irá alcançar todos os seus objectivos na Ucrânia MIKHAIL METZEL/SPUTNIK/KREMLIN / POOL / EPA
Ouça este artigo
00:00
03:45

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A Rússia prevê aumentar para valores recordes os gastos com a defesa no próximo ano, dando indicações de que o Kremlin espera que o conflito na Ucrânia não se resolva politicamente no curto prazo.

A proposta de orçamento para a defesa enviada esta segunda-feira para a Duma, a câmara baixa do Parlamento russo, aponta para uma subida de 25% dos gastos com o sector militar em 2025. O Governo russo espera gastar 13,5 biliões de rublos (131 mil milhões de euros) com a defesa, um valor que está ao nível da despesa durante a Guerra Fria, segundo o New York Times.

Em termos relativos, a defesa representa mais de 32% do orçamento federal para 2025, o que supera o total de gastos com pensões, educação e saúde.

“Estamos a chegar a um ponto em que os canhões se tornam mais importantes do que a manteiga”, disse a ex-funcionária do Banco Central russo Alexandra Prokopenko, que actualmente é investigadora do Carnegie Russia Eurasia Center, num vídeo citado pelo New York Times. “A prioridade é a guerra em curso na Ucrânia e a reposição de arsenais e o potencial militar do país”, explicou.

As perspectivas orçamentais indicam que o regime de Vladimir Putin está definitivamente a adoptar uma economia de guerra, na qual os principais sectores económicos se organizam em torno do conflito em curso na Ucrânia.

O Kremlin estima que as receitas do Estado aumentem para mais de 390 mil milhões de euros no próximo ano face a 350 mil milhões este ano, baseando-se numa subida em quase todos os impostos e a um crescimento geral da economia que tem sido estimulada pela produção da indústria militar.

Os analistas ocidentais acreditam que a economia russa apresenta fragilidades que foram acentuadas pela invasão da Ucrânia. Um dos principais efeitos tem sido a subida da inflação que levou em Setembro o Banco Central a aumentar a principal taxa de juro para 19%, agravando a situação de muitas famílias com créditos bancários.

Ao mesmo tempo, a guerra tem gerado escassez de mão-de-obra em vários sectores – o desemprego está nos 2,4% – obrigando a subidas de salários e a uma consequente subida dos preços.

Novos recrutas

Esta semana, o Governo russo também anunciou o alistamento de 133 mil jovens que nos próximos meses vão cumprir o serviço militar obrigatório. Esta leva junta-se aos cerca de 150 mil que já se tinham alistado durante a Primavera, na ronda anterior, explica o Moscow Times.

Um período mínimo de serviço militar é obrigatório na Rússia para todos os homens entre os 18 e os 30 anos, e o seu incumprimento pode levar a penas de prisão. Por lei, os recrutas podem ser enviados para zonas de combate por um período máximo de quatro meses, mas Putin garantiu publicamente que os jovens que fizessem o serviço militar não seriam enviados para combater na Ucrânia.

Grupos de militares disseram ao Moscow Times que, apesar de não haver uma garantia legal, as chefias das Forças Armadas russas têm tentado evitar enviar recrutas para a Ucrânia para não criar uma má imagem pública.

Na frente de batalha, as forças russas alcançaram um importante progresso rumo ao objectivo declarado de ocupar todo o Donbass, no Leste da Ucrânia, depois de terem conseguido entrar na cidade de Vuhledar. A informação foi confirmada pelo próprio governador da província de Donetsk, Vadim Filashkin, citado pelos media ucranianos.

A Rússia tem tentado tomar esta localidade desde o início da invasão em larga escala, iniciada há mais de dois anos e meio, e agora parecem ter finalmente quebrado a defesa ucraniana.

Perder o controlo sobre Vuhledar “ameaça a segurança de toda a porção Sudoeste da província de Donetsk que ainda não está sob ocupação”, dizia no mês passado ao Kyiv Independent o analista do Center for European Policy Analysis, Federico Borsari. A cidade é descrita como um importante ponto logístico para as forças ucranianas na região.

Associada aos avanços russos junto à cidade de Pokrovsk a partir do Leste, a tomada de Vuhledar pode permitir que as forças russas rodeiem as unidades ucranianas nesta região, avisa o mesmo especialista.

Sugerir correcção
Ler 10 comentários