O que fazer se for mordido por uma víbora? Casos são raros em Portugal

Mordedura de bombeiro em Castelo de Vide é caso raro no panorama nacional. Em 2023, houve apenas 27 casos de picadas ou mordeduras de víboras em Portugal.

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A víbora-cornuda é endémica em Portugal e Espanha, especialmente em regiões montanhosas e rochosas Luis Daniel Carbia Cabeza/Wikipedia commons
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Os casos de mordeduras de cobras ou víboras não são comuns em Portugal, no entanto, quando acontecem causam sobressalto. Como esta segunda-feira, quando um bombeiro ficou ferido depois de ser mordido numa das mãos por uma víbora em Castelo de Vide, no distrito de Portalegre. Depois de transportado para o hospital de Portalegre, o bombeiro foi transferido para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa – onde está a evoluir favoravelmente, disse fonte hospitalar à agência Lusa. O bombeiro, de 43 anos, não se encontra em estado grave”, a acrescentou a mesma fonte.

As mordeduras de víboras são pouco comuns, no entanto, segundo o Centro de Informação Antivenenos do INEM, houve 27 casos de ataques destas serpentes a humanos em 2023. O centro responsável por estas situações acrescenta até, na informação disponibilizada no seu site, que os seus dados “não revelam a existência de casos mortais” relacionados com mordeduras de cobras ou víbora, embora notem que “nem todos os casos chegam ao conhecimento” do centro.

Quais são as víboras que mordem as pessoas?

Em Portugal, estão presentes duas espécies de víboras venenosas como indica o Atlas dos Anfíbios e Répteis em Portugal, já datado de 2008. A víbora-de-seoane, característica da Península Ibérica e muito presente no Noroeste de Portugal e na Galiza; e a víbora-cornuda, dispersa por todo o território português, sendo a única previsivelmente presente em Castelo de Vide (e, portanto, a provável responsável pela mordedura do bombeiro).

Embora as mordeduras destas víboras não costumem ser letais, podem desencadear reacções alérgicas graves. “Das quatro espécies de serpentes com relevância clínica, as víboras (Vipera latastei e Vipera seoanei) são as mais preocupantes; podem causar doença grave e necessitam de abordagem hospitalar, monitorização e tratamento específico, incluindo soro antiveneno”, escrevem os autores de um trabalho publicado na Acta Médica Portuguesa no final de 2021.

É importante ainda notar a diferença entre as serpentes venenosas e não venenosas – em Portugal, apenas aquelas duas espécies de víboras são consideradas venenosas, o que não significa que sejam necessariamente letais. Por exemplo, estas duas víboras perigosas têm os olhos com a pupila vertical (como os gatos), enquanto as cobras inofensivas têm as pupilas redondas. Além disso, as escamas das víboras também são muito fragmentadas, enquanto as cobras tendem a ter escamas maiores. As víboras têm também uma cabeça triangular.

Mesmo sendo mordido por uma víbora, é preciso depois examinar clinicamente se mordedura foi eficaz ou não, ou seja, se deixou veneno em circulação ou se apenas mordeu.

As víboras e as cobras, embora possam parecer assustadoras (e provocar fobia a muitas pessoas) são essenciais nos ecossistemas, ajudando na agricultura ao comerem os roedores que rodeiam os terrenos. Por norma, estas serpentes fogem das pessoas ou, no máximo, fingem-se maiores do que são elevando-se no ar. Apenas quando perturbadas, pisadas ou tocadas se defendem mordendo quem elas crêem que as está a atacar.

Quão frequentes são estes casos?

Os casos de mordedura ou picada de cobras e víboras são escassos em Portugal. Segundos os dados do boletim mais recente do Centro de Informação Antivenenos do INEM, referente ao ano de 2023, entre os 26.035 casos identificados (em crianças e adultos), apenas 422 casos se devem a mordeduras ou picadas de qualquer animal. Os casos que envolvem víboras cingiram-se a 27 no ano passado.

Se recuarmos aos anos anteriores, em que os relatórios do Centro de Informação Antivenenos estão disponíveis online, os números são bastante similares: em 2022, houve 25 mordeduras de víboras; em 2021 foram 29.

Em 2021, por exemplo, um homem foi mordido por uma víbora-cornuda no seu jardim em Constância, tendo sido tratado através de um antídoto (antiveneno), como informou à época o Centro Hospitalar do Médio Tejo.

O que fazer em caso de mordedura de uma víbora?

As instruções do INEM são bastante simples: “Em caso de picada ou mordedura de cobra ou víbora contacte o Centro de Informação Antivenenos através do número 800 250 250.” Nesse contacto, poderá explicar o contexto da picada ou mordedura, será avaliada a gravidade da situação e dadas indicações sobre os procedimentos seguintes.

Ao contrário das cobras, em que a mordedura geralmente não tem consequências graves, o INEM alerta que caso seja uma víbora a situação pode ser “potencialmente grave”, com dor intensa no imediato e um inchaço progressivo na zona da mordida. Este inchaço pode levar a uma interrupção da circulação sanguínea, por exemplo na perna caso sejam mordidos aí – e motivando uma intervenção médica urgente.

No imediato, e apenas caso se preveja uma demora na resposta do INEM ou dos bombeiros, deve-se desinfectar a zona da mordedura, aplicar gelo no local e retirar qualquer peça de roupa mais apertada.

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