Mais uma noite normal de Reinildo, o “chato” que vai voltar ao Estádio da Luz

Reinildo é conhecido por ser, em simultâneo, um jogador intratável no “um contra um” e, muitas vezes, falível no “onze contra onze”. Neste domingo, frente ao Real Madrid, confirmou-o.

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Reinildo em duelo com um adversário, a sua especialidade SALVADOR SAS / EPA
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Neste domingo, no derby de Madrid entre Atlético e Real (1-1), saltou à vista algo que não é novo, mas que deve ser realçado no rescaldo desta partida, até por estarmos a poucos dias do duelo entre Benfica e Atlético na Liga dos Campeões.

Andou por lá – e vai andar na Luz também – um rapaz chamado Reinildo Mandava. O nome não soa a imponente e é daqueles por quem ninguém dá nada – e ninguém deu nada por ele durante anos –, mas que ele teima em contrariar.

Numa palavra, pode dizer-se que é um “chato” – futebolisticamente, mas não só. Estamos a falar de força física para “morder” os adversários e não os deixar virar de frente para o jogo, de velocidade tremenda para ir atrás deles quando é ultrapassado, de bons timings de desarme e de força no jogo aéreo, na intercepção e no um contra um defensivo. Defensivamente, ele tem tudo. No fundo, é um chato para quem quer que o encare – e Di María, Aursnes e Tomás Araújo poderão ser os próximos.

Mas Reinildo também é conhecido por ser um jogador de falhas de concentração frequentes. É, em simultâneo, um jogador intratável no "um contra um" e, muitas vezes, falível no "onze contra onze".

Neste domingo, frente ao Real Madrid, foi novamente isto. Fez mais um jogo defensivamente competente no um contra um, com vários duelos ganhos, mas falhou no golo de Militão, deixando o central livre de marcação ao segundo poste, num cruzamento vindo do lado oposto (vídeo em baixo).

É certo que não foi responsabilidade total do moçambicano, porque acabou por ser atraído à natural tentação de disputar a bola com um adversário que poderia finalizar, mas também não foi especialmente inteligente ao escolher deixar Militão abandonado.

Este jogo é, por isso, uma boa síntese do ex-lateral do Benfica.

Passou pelo Benfica

Mas não é apenas no futebol que Reinildo chateia os demais. Para quem insiste em não dar nada por ele, Reinildo também é um “chato” – porque teima em contrariar quem o faz.

Veio de uma vila pobre em Moçambique, onde fazia 50 minutos a pé para ir treinar-se e, quando saía do treino, cansado e com fome, sabia que não ia comer. Quem cresceu ali não era suposto dar jogador, mas deu.

Quando foi contratado pelo Benfica ao Ferroviário da Beira também pouco deram por ele, deixando-o na equipa B, no Fafe, no Covilhã e na BSAD. Não era suposto Reinildo ter chegado a um campeonato de topo, mas chegou. No Lille não começou bem e não era suposto conseguir ser opção para uma equipa de Champions, mas foi.

É difícil entender como é que alguém chega ao topo do futebol europeu vindo de um meio tão pobre, sem uma boa escola futebolística – cresceu no Ferroviário – e sem especial fulgor nas primeiras aventuras fora do seu país. Mas é fácil perceber isso quando se vê Reinildo jogar.

Apesar de ter começado a carreira como lateral-esquerdo, faz sentido que Diego Simeone o tenha visto como um jogador para um trio de centrais. Aos 30 anos, Reinildo não tem “perfume” técnico para ser um lateral desequilibrador, seja no cruzamento, seja no drible. Para quem quer um lateral ofensivo, Reinildo poderá parecer curto.

Mas para quem joga com três centrais é difícil encontrar alguém mais adequado do que o moçambicano: tem técnica razoável para central, tem velocidade essencial para o central que joga pela esquerda e tem todos os predicados defensivos que se pedem a esse jogador.

Aos 30 anos, não é crível que as falhas de concentração deixem de existir e que passe a ser o defesa mais fiável do mundo. Mas boa sorte a quem o desafiar no "um contra um". Di María, Aursnes e quem mais que apareça na meia-esquerda do Atlético são bons candidatos a terem uma noite de “folga” na Champions. Folga forçada pelo homem que não dá nada a ninguém.

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