China dispara míssil balístico intercontinental para o oceano Pacífico

Foi o primeiro ensaio com um projéctil ICBM publicamente anunciado pelo Exército de Libertação do Povo desde 1980. Míssil DF-41 tem capacidade para transportar ogivas nucleares e para alcançar os EUA.

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Ensaio desta quarta-feira envolveu míssil intercontinental DF-41 (na imagem), projéctil com capacidade para percorrer até 15 mil quilómetros Thomas Peter / REUTERS
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O Ministério da Defesa da República Popular da China revelou nesta quarta-feira que a Força de Rockets do Exército de Libertação do Povo (ELP) levou a cabo um ensaio “bem-sucedido” com um míssil balístico intercontinental (ICBM), que foi disparado para o oceano Pacífico.

O ensaio envolveu o DF-41, um projéctil que está operacional desde 2017, que tem capacidade para transportar ogivas nucleares e que pode percorrer uma distância até 15 mil quilómetros: ou seja, em teoria, pode atingir a costa Oeste dos Estados Unidos.

Segundo o Ministério da Defesa chinês, o míssil transportava uma ogiva “simulada” que “aterrou com precisão na área marítima predeterminada” e que “alcançou o objectivo esperado”. “Este lançamento balístico faz parte de uma acção de rotina do treino militar anual da Força de Foguetões. Testa efectivamente o desempenho das armas e o equipamento e nível de formação dos soldados”, explicou o ministério, num comunicado citado pelo South China Morning Post, acrescentando que o ELP “notificou antecipadamente os países relevantes” da região sobre a realização do ensaio.

Citada pela Reuters, a Guarda Costeira japonesa confirmou que as autoridades chinesas emitiram um alerta na segunda-feira a dar conta da possibilidade de haver “detritos espaciais” no mar do Sul da China, a norte da ilha Luzon (Filipinas) e no Pacífico Sul.

Este tipo de anúncios públicos do Governo chinês sobre a realização de testes balísticos não é muito comum. Normalmente, os ensaios com equipamento militar desta categoria são levados a cabo em zonas isoladas da região autónoma chinesa da Mongólia interior.

De acordo com o South China Morning Post, a última vez que a China anunciou publicamente ter realizado um ensaio com um míssil ICBM foi em Maio de 1980. Nessa altura, foi testado um DF-5, que voou mais de 9000 quilómetros, antes de atingir um alvo definido no oceano Pacífico.

Neste sentido, a divulgação do lançamento do DF-41 nesta quarta-feira está a ser encarada pelos analistas como uma mensagem que Pequim quer enviar ao resto do mundo, numa região que tem assistido, nos últimos tempos, a ensaios balísticos vários, nomeadamente da Coreia do Norte e dos EUA.

“[Este teste] demonstra que a tecnologia de mísseis da Força de Foguetões está consolidada, que o desempenho é fiável e que possui fortes capacidades operacionais. Esta capacidade [balística] pode dissuadir certos países de tentarem exercer uma coerção nuclear contra a China”, considera o analista militar Song Zhongping, em declarações reproduzidas pelo jornal de Hong Kong.

Já Alexander Neill, especialista em Segurança no think tank Pacific Forum, diz que o ensaio balístico chinês pretende “exibir claramente que os meios de dissuasão estratégica” da China “continuam a funcionar”, particularmente após o alegado escândalo de corrupção que abalou a Força de Foguetões do ELP – que controla o arsenal de mísseis convencionais e nucleares do gigante asiático.

Em Agosto do ano passado, o Presidente chinês, Xi Jinping, substituiu dois dos seus mais importantes generais da Força de Foguetões e, dois meses depois, afastou o ministro da Defesa, Li Shangfu.

Segundo a Reuters, que cita dados divulgados no ano passado pelo Pentágono, a China tem mais de 500 ogivas nucleares no seu arsenal, incluindo 350 destinadas a mísseis ICBM, e prevê ter mais de mil ogivas até 2030.

Divulgado em Junho, o relatório anual do Programa sobre Armas de Destruição Maciça do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI), notava que a China está a expandir o seu arsenal nuclear “mais rapidamente” do que o resto do mundo.

De acordo com o SIPRI, os EUA e a Federação Russa possuem, entre si, cerca de 90% de todas (12.121 ogivas) as armas nucleares existentes, com ligeira vantagem para Moscovo.

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