Na ONU pela última vez, Biden tenta acalmar a tensão no Médio Oriente

Joe Biden discursou pela última vez enquanto Presidente dos EUA.

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Joe Biden na ONU REUTERS/Mike Segar
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O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, dirigiu-se na terça-feira aos líderes mundiais nas Nações Unidas pela última vez enquanto chefe de Estado, declarando que a guerra da Rússia na Ucrânia falhou e que uma solução diplomática entre Israel e o Hezbollah do Líbano ainda era possível.

A quatro meses do fim do seu mandato, Biden subiu ao púlpito de mármore verde da Assembleia Geral das Nações Unidas com as guerras na Ucrânia, na Faixa de Gaza e no Sudão ainda em curso e que provavelmente durarão mais do que a sua presidência, que termina em Janeiro.

O Presidente procurou acalmar as tensões, numa altura em que a guerra de quase um ano entre Israel e os militantes palestinianos do Hamas na Faixa de Gaza sitiada ameaça agora o Líbano – onde Israel atingiu mais de mil alvos do Hezbollah na segunda-feira, matando quase 500 pessoas, incluindo mais de 30 crianças.

“A guerra em grande escala não é do interesse de ninguém. Mesmo que a situação se tenha agravado, uma solução diplomática ainda é possível”, disse à Assembleia Geral da ONU, composta por 193 membros. Sob uma salva de palmas, Biden apelou a Israel e ao Hamas para que concluíssem o acordo de cessar-fogo em Gaza e de libertação de reféns apresentado pelos EUA, Qatar e Egipto.

A presidência de Biden também tem sido dominada pela invasão da Ucrânia pela Rússia em Fevereiro de 2022. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, esteve na sala de audiências para ouvir Biden falar e enfatizar o apoio dos EUA ao seu país.

“A boa notícia é que a guerra de Putin falhou no seu objectivo principal. Ele decidiu destruir a Ucrânia, mas a Ucrânia ainda é livre”, disse Biden.

“Não nos podemos cansar, não podemos desviar o olhar e não deixaremos de apoiar a Ucrânia, não, até que a Ucrânia ganhe com uma paz justa e duradoura”, afirmou.

A Rússia controla pouco menos de um quinto da Ucrânia, incluindo cerca de 80% da região do Donbas. As forças russas começaram a invadir a cidade de Vuhledar, no Leste da Ucrânia, uma fortaleza que resistiu ao ataque russo desde o início da guerra, de acordo com bloggers de guerra russos e meios de comunicação estatais.

Tensão e colaboração com a China

Biden deve ouvir Zelensky sobre um novo plano de paz ucraniano, quando se encontrarem em Washington na quinta-feira. Fonte da Administração norte-americana disse que o plano é provavelmente muito parecido com os anteriores que pedem mais armamento e apoio para a luta da Ucrânia.

A constante tensão com a China e o Irão, que apoia o Hamas e o Hezbollah, tem consumido grande parte do tempo do Presidente. Biden disse na terça-feira que o progresso em direcção à paz no Médio Oriente poria o mundo numa posição mais forte para enfrentar “a ameaça contínua representada pelo Irão”.

“Juntos, temos de negar oxigénio aos seus representantes terroristas (...) e garantir que o Irão nunca, mas nunca, obterá uma arma nuclear”, afirmou. O Presidente assegurou que os Estados Unidos estão a tentar gerir de forma responsável a concorrência com a China, para que esta não se transforme em conflito.

“Estamos prontos para cooperar em desafios urgentes”, disse ele. “Recentemente, retomámos a cooperação com a China para travar o fluxo de narcóticos sintéticos mortais. Aprecio essa colaboração. É importante para as pessoas do meu país e de muitos outros em todo o mundo.”

Biden também dirigiu palavras fortes aos líderes das partes beligerantes do Sudão: “Acabem com esta guerra agora.”

Desafios para o próximo Presidente

A Ucrânia e a Rússia, Gaza, o Irão e a China são desafios para o próximo Presidente, quer o sucessor de Biden seja a sua vice-presidente, Kamala Harris, uma democrata, ou o ex-presidente Donald Trump, um republicano.

A abordagem de Harris à política externa é muito semelhante à de Biden, embora a candidata tenha adoptado um tom mais duro em relação às dezenas de milhares de mortes de palestinianos e à crise humanitária na Faixa de Gaza devastada pelos ataques israelitas. Trump, que professa tendências mais isolacionistas, tem pouco entusiasmo quanto a apoiar a batalha da Ucrânia para expulsar os invasores russos e é um firme apoiante do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que tem relações desgastadas com Biden.

Biden tem manifestado um apoio firme a Israel no seu esforço para eliminar os militantes do Hamas de Gaza, mas até agora não teve êxito na sua tentativa de negociar um acordo de cessar-fogo em troca de reféns e não se vislumbra qualquer avanço.

Sob a liderança de Biden, os Estados Unidos canalizaram milhões de dólares em armamento americano para a Ucrânia e mobilizaram a solidariedade da NATO para apoiar Kiev. Mas o conflito está, em grande parte, num impasse, com a Rússia a agarrar-se a partes do Leste da Ucrânia que tomou no início da guerra.