Unicef confirma 35 crianças mortas no Líbano. Novo ataque de Israel faz seis mortos

Novos ataques surgem um dia depois dos bombardeamentos que provocaram 492 mortos no Líbano.

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Milhares de pessoas procuram abrigo após ataques de Israel REUTERS/Amr Abdallah Dalsh
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A Unicef confirmou, nesta terça-feira, que pelo menos 35 crianças morreram nos ataques de Israel ao Líbano no dia anterior, em que terão morrido perto de 500 pessoas. Segundo as autoridades de Israel, foram lançadas cerca de duas mil bombas nas últimas 24 horas. Já nesta terça-feira, morreram pelo menos seis pessoas num novo ataque nos arredores de Beirute. Milhares continuam a sair dos locais atingidos pelas forças israelitas, procurando abrigos, por exemplo, nas escolas que permanecem encerradas. Na chegada a Nova Iorque, para participar na Assembleia Geral da ONU, Masoud Pezeshkian, Presidente do Irão, não afastou, para já, qualquer potencial envolvimento do Teerão no conflito, alertando contra novos focos de instabilidade que possam trazer “consequências irreversíveis” para a região.

As forças armadas israelitas afirmaram na terça-feira ter atingido dezenas de alvos do Hezbollah no Sul do Líbano durante a noite, um dia depois de terem lançado uma vaga de ataques aéreos contra as instalações do grupo apoiado pelo Irão, tendo causado 492 mortes entre militantes do Hezbollah e civis, no dia mais mortífero desde o fim da guerra civil do país. O Exército israelita afirmou ter atingido uma célula militante do Hezbollah e a sua artilharia e tanques bombardearam outros alvos do Hezbollah no Sul. A polícia do Norte de Israel afirmou que foram encontrados fragmentos de mísseis interceptores em várias zonas. Nas redes sociais, a Força Aérea de Israel confirmou ter lançado no Líbano cerca de duas mil bombas nas últimas 24 horas.

Já durante a tarde de terça-feira, Israel levou a cabo mais um ataque aéreo, desta vez em Dahieh, nos arredores de Beirute. Segundo a Reuters, o alvo seria Ibrahim Qubaisi, um dirigente do Hezbollah, mas a aviação militar israelita acabou por visar um bloco de apartamentos onde viviam civis. De acordo com o Ministério da Saúde do Líbano, do ataque resultam pelo menos seis mortos e 15 feridos. No local estão ainda equipas médicas para resgatar pessoas que ficaram presas nos escombros.

Na manhã de terça-feira, o Hezbollah afirmou ter atacado vários alvos militares israelitas, incluindo uma fábrica de explosivos a 60km de Israel, com rockets Fadi. O Hezbollah afirmou ainda ter atacado a fábrica de explosivos por volta da 4h da manhã locais (1h00 em Portugal continental) e o aeródromo de Megiddo três vezes durante a noite.

Após quase um ano de guerra contra o Hamas em Gaza, na fronteira sul, Israel está a mudar a sua atenção para a fronteira norte, onde o Hezbollah tem disparado rockets contra Israel em apoio ao Hamas, também apoiado pelo Irão. Os ataques do início desta semana seguem-se às explosões de milhares de pagers usados pela milícia xiita libanesa apoiada pelo Irão e de walkie-talkies, na semana passada, que, além de terem matado dezenas de militantes do Hezbollah, fizeram também vítimas entre civis, incluindo crianças.

As autoridades libanesas afirmaram que os ataques aéreos israelitas no Líbano, na segunda-feira, mataram cerca de 500 pessoas e obrigaram dezenas de milhares de pessoas a fugir em busca de segurança.

Abrigos em escolas

Após algumas das mais intensas trocas de tiros transfronteiriças desde o início das hostilidades, em Outubro, com a eclosão da guerra de Gaza, Israel avisou a população libanesa para deixar as zonas onde, segundo as autoridades, o movimento armado estava a armazenar armas. Famílias do Sul do Líbano carregaram carros, carrinhas e camiões com pertences e pessoas jovens e idosas. As auto-estradas para norte ficaram bloqueadas.

O ministro libanês que coordena a resposta à crise, Nasser Yassin, disse à Reuters que tinham sido criados 89 abrigos temporários em escolas e outras instalações, com capacidade para mais de 26 mil pessoas, à medida que os civis fugiam do que chamou “atrocidades israelitas”.

Os militares israelitas afirmaram ter atingido o Hezbollah no Sul, no Leste e no Norte do Líbano, incluindo lançadores de rockets, postos de comando e infra-estruturas dos militantes do grupo. A Força Aérea israelita atingiu cerca de 1600 alvos do Hezbollah no Sul do Líbano e no vale de Bekaa.

O Ministério da Saúde do Líbano informou que pelo menos 492 pessoas foram mortas, incluindo 35 crianças, e 1645 ficaram feridas. Segundo um funcionário libanês, este é o maior número diário de mortes causadas pela violência desde a guerra civil de 1975-1990.

Morreram 35 crianças

A representante executiva da Unicef, Ettie Higgins, confirmou que o ataque de Israel na segunda-feira vitimou um total de 35 crianças. “É mais do que o número total de crianças mortas no país durante 11 meses de guerra, que foi de 22”, disse, de acordo com o jornal El País, citando dados do Ministério da Saúde do Líbano.

Higgins deu ainda conta de que a Unicef criou 87 novos abrigos em escolas e colégios no Líbano para acolher a população deslocada. “As escolas tiveram de fechar e algumas nunca puderam abrir para o início do novo ano lectivo devido ao conflito.”

A representante da Unicef naquela região lamentou ainda que o conflito agrave a situação geral no Líbano, “um país mergulhado numa crise económica e política, que ainda lida com as consequências da explosão no Porto de Beirute em 2020, a covid-19 e o quinto ano de uma crise económica que aumentou a pobreza geral da população”. ​

Irão fala em “consequência irreversíveis”

O Presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, durante um encontro com jornalistas depois de chegar a Nova Iorque para participar na Assembleia Geral das Nações Unidas, disse não querer ser “causa de instabilidade no Médio Oriente”, uma vez que o mesmo traria consequências “que seriam irreversíveis”.

“Queremos viver em paz, não queremos a guerra”, acrescentou, segundo escreve a Reuters. “É Israel que procura criar este conflito total.” Questionado sobre se o Irão vai envolver-se directamente no conflito, Pezeshkian foi evasivo, respondendo apenas que o “Irão vai defender qualquer grupo que esteja a defender os seus direitos e a si próprio”.