João Ferreira acusa Moedas de incapacidade e PS de desistir de fazer oposição em Lisboa
Comício da CDU em Lisboa lança candidatura de João Ferreira à capital, com críticas a Carlos Moedas e também ao PS.
O candidato da CDU à Câmara Municipal de Lisboa, João Ferreira, acusou hoje o social-democrata Carlos Moedas de ser incapaz de gerir a autarquia e o PS de desistir de fazer oposição, assumindo-se como uma "força de alternativa" para a capital.
"A manifesta incapacidade da gestão [Carlos] Moedas em áreas cruciais ao bom funcionamento da vida na cidade coexiste com opções políticas que são contrárias aos interesses da esmagadora maioria daqueles que aqui vivem e trabalham", acusou João Ferreira, que falava num comício da Coligação Democrática Unitária (CDU) que junta PCP e Partido Ecologista "Os Verdes" - na capital do país, intitulado "Lisboa pelo direito à cidade".
Num longo discurso, no qual por vezes o gerador da energia falhou, o antigo eurodeputado e vereador na autarquia lisboeta acusou o actual executivo municipal de "manifesta incapacidade em assegurar a limpeza da cidade, uma eficaz recolha do lixo, o cuidado na manutenção do espaço público, a imprescindível requalificação das escolas da cidade, uma gestão racional do tráfego automóvel e do estacionamento, a adequada manutenção dos pavimentos, o cumprimento da legislação relativa ao ruído, entre outros exemplos".
"Mas além da incapacidade (e da incompetência, que também existe), há os efeitos concretos das opções políticas de fundo", criticou João Ferreira, que lamentou que sejam "metidos na gaveta projectos para construção de habitação acessível, que estavam prontos a avançar e que tinham sido feitos com a contribuição decisiva da CDU".
João Ferreira lamentou que não se intervenha sobre "as realidades que o exigem" na capital, como o turismo desregulado, as pessoas em situação de sem abrigo, a degradação ambiental ou a situação dos serviços públicos.
As críticas estenderam-se também ao PS: o vereador lembrou que "a gestão Moedas, PSD, CDS, contou desde a primeira hora com a opção do PS de viabilização de todos os orçamentos apresentados e das opções ali contidas sem impor condições".
O comunista acusou o PS de ter desistido de "uma firme oposição" a Moedas, mas também de "uma imprescindível autocrítica às suas próprias responsabilidades na condução dos destinos da cidade", não podendo "aspirar a mais do que essa alternância, essa mudança de lugares sem que ela corresponda a uma verdadeira alternativa".
O candidato defendeu que na autarquia se gasta "onde não se devia", nomeadamente "em propaganda em todo o lado e a toda a hora; a fingir que se substitui a acção do Estado central em áreas como a saúde, com efeitos perversos na fragilização dos cuidados de saúde prestados à população; na contratação externa daquilo que podia ser assegurado pelos serviços municipais, com garantia de qualidade e economia de recursos".
João Ferreira criticou "a negociata" para a iluminação pública, "só perturbada pela denúncia pública que a CDU fez do caso".
"A Câmara de Lisboa tem recursos como nunca teve para intervir sobre todas estas realidades. Orçamentos anuais acima de 1.300 milhões de euros, ao que se devem somar centenas de milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência. Se não fazem mais é ou porque não querem ou porque são incapazes. Não podemos ser complacentes com nenhuma destas duas razões", considerou.
O vereador comunista salientou que a CDU é oposição a Moedas "desde o primeiro dia" e a "força de oposição e de alternativa", afirmando que os lisboetas não têm de se conformar "com este caminho de alternância [entre PS e PSD], que nunca vai dar a uma verdadeira e necessária alternativa".
João Ferreira já tinha sido o candidato da CDU à Câmara Municipal de Lisboa nas últimas eleições autárquicas, em 2021, tendo na altura obtido 10,52% dos votos e dois mandatos.
Paulo Raimundo defende projecto da CDU
No comício, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, distinguiu o projecto autárquico da Coligação Democrática Unitária (CDU), nomeadamente para a Câmara Municipal de Lisboa, considerando que "diluído noutros, passaria a ser igual aos outros".
"Olhemos para este tempo com confiança, com audácia, com iniciativa, com alegria e com a certeza que é incomparável a nossa acção, a nossa intervenção e o nosso projecto, o projecto autárquico da CDU. Um projecto ao serviço do povo, um projecto que, diluído noutros, passaria a ser igual aos outros. E nós não queremos ser iguais aos outros e o povo de Lisboa não precisa que nós sejamos iguais aos outros", defendeu Paulo Raimundo.
Paulo Raimundo já tinha rejeitado coligações pré-eleitorais com o PS para as autárquicas de 2025, depois de em Junho o Livre ter convocado PS, BE, PCP e PAN para debater os desafios políticos próximos à esquerda, nomeadamente as autárquicas de 2025.
"Quando outras forças procuram eventuais candidatos, aqui estamos nós, com o candidato mais preparado e o melhor presidente que a população de Lisboa poderia e pode ter", defendeu Paulo Raimundo, perante os militantes comunistas presentes no comício na Ribeira das Naus.
O secretário-geral do PCP considerou que a CDU "é vanguarda" na defesa do poder local democrático, com "provas dadas como nenhuma outra força" política, afirmando que "é esta a convergência, é esta a frente, é esta a esquerda que importa reforçar".
Afirmando que "Lisboa precisa de mais CDU", Paulo Raimundo defendeu que "isto não vai lá com proclamações e processos de intenção, isto não vai lá com apaixonadas alternâncias de estilo aparentemente diferentes, mas infelizmente com práticas demasiado semelhantes", algo que se aplica às autarquias, mas também ao poder central.
O comunista defendeu que "são vários, profundos e graves os problemas" da "responsabilidade de sucessivos governos de PS, PSD e CDS, com Chega e IL a procurarem em cada momento levar mais longe a política de direita", que se sentem com "particular intensidade" na capital do país.
Raimundo acusou o actual executivo de aprofundar estes problemas "interessado em servir, não o povo, não os trabalhadores, não quem cria a riqueza, não os jovens, não quem trabalhou uma vida inteira, não os migrantes, mas sim os grupos económicos".
"O novo aeroporto continua a marcar passo, optando-se pela extensão de um aeroporto esgotado e a precisar de ser substituído com urgência, e que tem de sair da cidade de uma vez por todas", alertou.
Já sobre a crise da habitação, João Ferreira já tinha referido que em Lisboa "há 48 mil casas que estão vazias, sem incluir as casas de segunda habitação", e Paulo Raimundo seguiu a mesma linha de argumentação, afirmando que "o problema não é faltarem casas, é faltarem casas que as pessoas possam pagar".