Ucrânia vai enfrentar o “teste mais duro” com o Inverno que se avizinha

Os bombardeamentos russos contra a infra-estrutura energética ucraniana têm deixado milhões de pessoas às escuras. No Inverno, a produção poderá ser manifestamente insuficiente para as necessidades.

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Transformador de electricidade destruído pela Rússia exibido no centro de Kiev Alina Smutko / REUTERS
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A Ucrânia deverá preparar-se para um Inverno complicado que será, provavelmente, o “teste mais duro até ao momento”, de acordo com a Agência Internacional para a Energia Atómica (AIEA), que deixou esta quinta-feira um apelo para que os aliados de Kiev ajudem o país a garantir a sua segurança energética nos próximos meses.

Os bombardeamentos russos dos últimos meses deixaram as infra-estruturas energéticas ucranianas em mau estado, obrigando a apagões frequentes que deixaram milhões de pessoas sem electricidade. A Rússia considera estes alvos legítimos por considerar que se trata de sistemas que auxiliam o esforço de guerra ucraniano, apesar de afectarem sobretudo a população civil – nos últimos tempos, Kiev também tem visado centrais de produção e distribuição de electricidade em algumas regiões russas.

No final do mês passado, a Rússia lançou um dos maiores ataques aéreos desde o início da invasão em larga escala disparando mais de 200 mísseis e drones que visaram, sobretudo, a infra-estrutura energética.

“O sistema energético da Ucrânia sobreviveu aos últimos dois Invernos graças à resiliência, coragem e engenho do seu povo e da forte solidariedade dos seus parceiros internacionais”, afirmou o director executivo da AIEA, Fatih Birol, através de um comunicado divulgado esta quinta-feira. “Mas este Inverno será, de longe, o teste mais duro até ao momento”, acrescentou.

Ainda antes do grande ataque do final de Agosto, a Ucrânia registava uma quebra de cerca de dois terços da capacidade de geração de energia em relação aos níveis prévios à guerra por causa da destruição e ocupação por parte da Rússia, segundo o mesmo documento da AIEA.

A agência da ONU alertou para o agravamento da situação com a aproximação do Inverno. “Arrisca-se o aparecimento de uma enorme lacuna entre o fornecimento disponível de electricidade e o pico da procura – trazendo consigo a ameaça de perturbações ainda mais graves nos hospitais, escolas e outras instituições fundamentais durante os rigores do Inverno”, lê-se no relatório.

A Missão da ONU de Monitorização dos Direitos Humanos na Ucrânia também chamou a atenção para o impacto dos bombardeamentos russos sobre o fornecimento de electricidade na Ucrânia, alertando para os riscos ligados à distribuição de água, tratamento de resíduos e saneamento, fornecimento de água quente, e para a saúde pública em geral.

“Há fundamentos razoáveis para acreditar que vários aspectos da campanha militar para danificar ou destruir as infra-estruturas civis de produção de electricidade e de produção e fornecimento de calor têm violado os princípios basilares do direito humanitário internacional”, afirmou este organismo.

Apesar de todos os alertas, a Rússia voltou a bombardear as infra-estruturas energéticas ucranianas nesta quinta-feira. As autoridades ucranianas disseram ter abatido 42 drones e um dos quatro mísseis disparados pela Rússia, não podendo evitar, no entanto, cortes de electricidade em dez províncias.

Para tentar mitigar os efeitos dos ataques aéreos russos, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu apoio por parte dos países europeus à Ucrânia na véspera de viajar até Kiev para se encontrar com o Presidente Volodymyr Zelensky.

“Temos de fazer tudo o que pudermos para manter as luzes acesas. E, com o Inverno a aproximar-se, devemos manter o corajoso povo da Ucrânia quente, assim como a sua economia em funcionamento”, afirmou Von der Leyen. A UE vai apoiar a Ucrânia com 160 milhões de euros, divididos entre 60 milhões destinados a ajuda humanitária e os restantes cem milhões para serem usados para reparar as infra-estruturas energéticas danificadas – esta parcela tem origem nos proveitos dos activos russos congelados.

Foi também anunciado que uma central eléctrica a petróleo vai ser desmantelada na Lituânia e transferida para ser reconstruída na Ucrânia.

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