Porque nos mentiu Carlos Moedas?
Olhando para trás, reconheço que posso ter sido injusta – não contemplei a possibilidade de que, ao falar aos jornalistas, Carlos Moedas não fizesse ideia do assunto, preferindo inventar uma resposta.
Na última sessão da Assembleia Municipal de Lisboa, em que se debatia a informação escrita do presidente, Carlos Moedas ofendeu-se com uma intervenção do Bloco de Esquerda, informou que não responderia às perguntas e saiu da sala. A minha pergunta era simples: porque é que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa nos mentiu? E a pergunta mantém-se.
Vejamos os factos: o anterior executivo, liderado pelo PS, lançou um concurso e adjudicou à JCDecaux a substituição de mobiliário urbano. Ou seja, substituir as várias formas de divulgação de publicidade na cidade de Lisboa por suportes digitais durante, pelo menos, os próximos 15 anos.
O contrato com a JCDecaux foi assinado no dia 14 setembro de 2022 pelo executivo “Novos Tempos”, liderado por Carlos Moedas, não tendo ficado estipulados os locais onde os novos e luminosos ecrãs deveriam ser colocados, cabendo essa responsabilidade à Câmara Municipal de Lisboa. Quando, em setembro de 2024, os painéis começaram a ser instalados nas localizações aprovadas, gerou-se uma polémica: eram demasiado grandes, demasiado luminosos, demasiado perigosos para os automobilistas, o que valeu, inclusivamente, uma providência cautelar do Automóvel Clube de Portugal (ACP), alertando para que estes constituem “um risco enorme para a segurança de todos”.
Apercebendo-se da avalanche de críticas, Carlos Moedas socorreu-se de uma tática que já lhe é habitual: sacudiu a água do seu capote, atirando-a para cima do executivo que cessou funções em 2021, dizendo-se “refém” das decisões deste. Ora, esta estratégia não funciona quando há provas do contrário.
Num artigo publicado esta segunda-feira pelo Expresso, ficámos a saber que há trocas de emails entre a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a JCDecaux, e uma carta do concessionário que mostra a formalização das decisões relativas às localizações e dimensões dos malfadados painéis. Ficámos também a saber que houve localizações propostas que foram vetadas pela CML e que a mesma aprovou, em julho de 2024, as posições dos 13 painéis de grande formato, levando à lógica conclusão de que alguém perto de Carlos Moedas pousou os olhos neste assunto. Posto isto, fica difícil não deduzir que o presidente faltou à verdade.
Quando confrontado com estes factos, Moedas aborreceu-se, acusou o Bloco de lhe chamar mentiroso (o que é falso – referimos que, neste caso, mentiu), recusou-se a responder à pergunta e abandonou a sala, impossibilitando o debate democrático. Enquanto o presidente fugia ao confronto, os trabalhos de instalação dos grandes e luminosos ecrãs continuava em plena Segunda Circular, mesmo após Moedas ter informado que pedira a suspensão da colocação de mais painéis.
Olhando para trás, agora de cabeça fria, reconheço que posso ter sido injusta – afinal, não contemplei a possibilidade de que, ao falar aos jornalistas, Carlos Moedas não fizesse ideia do assunto, preferindo inventar uma resposta.
Seja por ser mentira ou incompetência criativa, pergunto novamente porque é que o presidente nos enganou. Temo continuar sem resposta.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico