O dia em que Aveiro despertou sob um manto negro e ficou praticamente isolada do país

Incêndios nos municípios vizinhos deixaram o ar irrespirável. As chamas também foram motivo de preocupação numa das zonas industriais da cidade.

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O manto de fumo ADRIANO MIRANDA
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Autarca de Aveiro foi ao terreno ADRIANO MIRANDA
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Ribau Esteves quer que autarquias possam limpar terrenos de quem não o faz ADRIANO MIRANDA
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A escuridão que tomou conta do céu e o intenso cheiro a fumo foram apenas os primeiros sinais de que aquele viria a ser um dia sinistro. Estradas cortadas, engarrafamentos, cancelamentos e contactos constantes com quem estava nos municípios vizinhos, mais concretamente em Albergaria-a-Velha, Oliveira de Azeméis e Sever do Vouga. A cidade de Aveiro ficou, nesta segunda-feira, coberta por um manto de fumo, chegando a estar, por várias horas, praticamente isolada — as três auto-estradas que passam pela região estiveram cortadas e algumas ligações de comboios foram interrompidas.

As chamas também flagraram no município, obrigando à evacuação de várias empresas e armazéns na Zona Industrial de Taboeira. Sobre este incêndio em concreto, o presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Ribau Esteves, não tardou a apontar o dedo a uma empresa em particular. “O aterro sanitário da ERSUC continua com as telas plásticas a céu aberto, levando a que as chamas projectassem para as estradas contíguas”, denunciou, em declarações ao PÚBLICO, depois de reparar que este foi o incêndio mais grave que deflagrou no município houve outros focos em Aveiro, referiu, por causa de projecções dos incêndios de Albergaria-a-Velha e Sever do Vouga.

Na zona industrial de Taboeira, os empresários não tiveram mãos a medir para proteger as instalações das suas unidades. À porta de uma empresa de produtos dietéticos, o PÚBLICO ouviu lamentos, por parte de um empresário que optou por não ser identificado, quanto à falta de limpeza dos terrenos envolventes. “E a boca-de-incêndio não tinha água”, denunciava, ao mesmo tempo que ia cortando, com a ajuda de alguns colaboradores, as ervas à beira da estrada.

Não muito longe dali, várias famílias caminhavam em direcção a uma zona mais afastada das chamas. As autoridades optaram por evacuar um acampamento da comunidade cigana, encerrando também uma escola daquela área. E também neste caso, as palavras que se ouviam era para criticar a falta de limpeza dos terrenos. “Estão tipo pólvora”, acusava Danilo, um dos elementos daquela comunidade.

Sobre a falta de água nas bocas-de-incêndio, Ribau Esteves reconhece que houve problemas de manhã houve um excesso de consumo durante várias horas , mas que a situação foi normalizada à tarde. Quanto à situação dos terrenos, adverte que é preciso criar “instrumentos legais para permitir que os serviços das câmaras possam entrar num terreno [privado] para o limpar. Não podemos estar dependentes de uma autorização do juiz. Temos de ter autoridade para o poder fazer”, insistiu, lamentando que pouco tenha mudado desde os incêndios de 2017. “Mudou a capacidade operacional, mas não a capacidade para fazer”, vincou.

Plano de contingência no hospital

Com vários focos de incêndio na sua área de intervenção, a Unidade Local de Saúde da Região de Aveiro, EPE (ULS RA), em coordenação com a protecção civil distrital, decidiu activar o seu plano de emergência externa, reforçando as equipas médicas e encaminhando os casos menos graves para os centros de saúde.

Ao longo do dia, em sequência dos incêndios activos na região, deram entrada no serviço de urgência do Hospital de Aveiro “cinco pessoas com queimaduras, tendo uma sido transferida para a Unidade Local de Saúde de Coimbra”, “três pessoas com dificuldades respiratórias, decorrentes da inalação de fumo” e “duas pessoas com traumatismos, decorrentes do esforço de combate aos incêndios”.

Já nas instalações dos cuidados de saúde primários, foram atendidas 27 pessoas em Aveiro, 57 pessoas em Albergaria-a-Velha e 44 na Branca freguesia localizada no município de Albergaria. Os números foram divulgados pela própria Unidade Local de Saúde da Região de Aveiro e dizem respeito apenas ao período até às 18h.

Com os cortes de trânsito nas A1, A25 e A17, foi difícil, durante esta segunda-feira, entrar ou sair de Aveiro os impactos fizeram-se sentir, também, nas estradas secundárias, nomeadamente na Avenida Europa (antiga Estrada Nacional 109), que atravessa o município de Aveiro. Um cenário que deixou o centro turístico quase vazio. Uma boa parte dos moliceiros permanecia no cais e os que foram navegando transportaram muito poucos turistas. “Já fizemos 13 viagens, mas várias delas foram só com dois passageiros”, lamentava Adriana Silva, da empresa Onda Colossal.

Nos hotéis, o cenário foi idêntico. “Tivemos dez cancelamentos até ao momento. Pessoas que não conseguiam chegar à cidade”, referiu Cristina Durães, directora do Hotel Moliceiro. Ao balcão do Turim Aveiro Palace Hotel, também já tinham chegado “um ou dois” pedidos de cancelamento.

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