Vinho do Porto Dalva: “As pessoas é que são a alma dos vinhos”

A Dalva tem no seu vinho do Porto Very Old Tawny 50 anos a essência de uma história secular e distinta, marcada essencialmente pelas pessoas que lhe deram corpo - e alma.

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Foto de João Bernardino

Depois de conversarmos com José Manuel Sousa Soares, o enólogo da Granvinhos, percebemos melhor o que quis dizer com “as pessoas é que são a alma dos nossos vinhos” - e não são “as pessoas de agora”, nota. Se há uma certa mística nesta ideia, também há muitas horas de alquimia real. A marca Dalva, reconhecida pela tradição na produção de vinho do Porto, tem origem numa história secular com uma evolução marcada pelo compromisso com a qualidade e com a inovação. Ao longo dos anos, há marcos incontornáveis que contribuíram para imprimir um carácter único aos seus vinhos. Até a distribuição cuidadosa, focada em lojas especializadas, reforça o posicionamento da marca. Mas, além disso, tem nas pessoas que criaram e cuidaram dos seus vinhos o principal ingrediente.

Uma viagem de séculos em forma de brinde

Descrever o perfil de uma casa, no que ao vinho do Porto diz respeito, tem que ver com a história e tradição da empresa que o produz e com características distintivas como o terroir das suas vinhas, mas também com os enólogos que vão mantendo essa identidade. A Dalva nasce em 1933, depois de Clemente da Silva fundar a C. da Silva e começar a dar forma ao sonho de criar uma casa de vinhos de excelência. “O perfil estava determinado há muitos anos”, explica José Manuel Sousa Soares, enólogo das marcas do grupo há mais de quinze. “Quando cheguei, os vinhos que hoje fazem a imagem da Dalva já cá estavam, já estavam a envelhecer nas nossas caves, a maioria deles”. Então, o que faz um enólogo se os vinhos já estão criados?

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Foto de Vasco Maia Lopes

O recém lançamento do vinho do Porto Dalva Very Old Twany 50 anos é a prova de que há um legado que vive nessas garrafas. Para apreciar a complexidade deste Porto, deve ser bebido sozinho e fresco. “No nariz, sobressaem os aromas evoluídos a fruta, em especial ameixas e figos secos, amêndoas torradas, com um lado especiado a caril” é a descrição de prova da marca. Singular, de esperar múltiplas sensações a surgirem na boca, “combinadas com acidez viva e notas cítricas frescas”. Intenso e equilibrado. Mas é mais do que isso: apreciar um vinho, especialmente os mais velhos, tem que ver também com o que gira à sua volta. José Manuel Sousa Soares foi o fiel guardião desta preciosidade.

Enólogos, guardiões do tempo

Os vinhos são mantidos em pipas e requerem cuidados contínuos. Anualmente, esses vinhos são tratados e analisados – tanto quimicamente quanto pela prova sensorial – para acompanhar a sua evolução. Caso algum vinho não evolua conforme o esperado, é retirado desse lote específico. Esse processo de acompanhamento e preservação é fundamental para manter a qualidade dos vinhos. “Vamos fazendo, vamos criando, vamos acompanhando e preservando”, partilha José Manuel Sousa Soares sobre o desafio dos enólogos, especialmente os que trabalham com o vinho do Porto.

Quando se juntou à Granvinhos, o enólogo trabalhou lado a lado com uma equipa que estava na casa há 40 anos, seguindo a tradição de preservar e criar vinhos para o futuro. A essência do vinho do Porto está justamente na capacidade de produzir vinhos que só serão consumidos pelas gerações futuras. Um exemplo do trabalho de continuidade, de manutenção dos vinhos, são os vinhos do Porto brancos secos (dry white) que estavam armazenados, mas não faziam parte do portefólio. Ao descobrir esses vinhos, “percebi que eles estavam prontos para serem engarrafados e consumidos”, confessou José Manuel Sousa Soares, que agora tem vinhos do Porto brancos secos com 10, 20 e 40 anos.

“O mais importante é o carinho”

Quando destaca os vinhos do Porto brancos secos, o enólogo refere também que, quando foram lançados, eram únicos no sector devido à sua complexidade e idade. A filosofia da Dalva foi disruptiva ao lançar estes vinhos gastronómicos, desafiando a tradição de que o vinho do Porto é apenas um aperitivo ou um vinho de sobremesa. Parece simples, mas, como recorda, foi algo inovador – um caminho que a Dalva tem feito. No caso destes Portos, o facto de terem menos açúcar que os vinhos clássicos faz com que acompanhem bem uma entrada ou até um prato, “são prazerosos de consumir” e revelam um perfil diferente, completou Elsa Couto, directora de marketing e comunicação da marca.

Nos vinhos mais jovens, ficamos a saber, quer sejam brancos, tintos ou rosés, o importante são as uvas. Nos vinhos mais velhos, como os brancos secos e outros ainda mais velhos, “o mais importante é, sobretudo, o carinho que a gente tem no acompanhamento e preservação das suas características”, confessa José Manuel Sousa Soares. O vinho do Porto é coisa de muito longo prazo, e esse carinho é o que faz com que o vinho tenha tempo – e se o vinho não tiver tempo, fica efémero.

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