PSD e PS em paralelo e rumo ao abismo

Neste jogo infantil de avanços e recuos, ninguém mostra vontade de encontrar um compromisso com seriedade.

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Em lampejos, como aconteceu neste fim-de-semana, o PSD e o PS parecem querer assumir as vestes da responsabilidade política, jurando a todos que estão disponíveis para negociar o Orçamento do Estado. Só que, dois passos adiante, rasgam as mesmas vestes na pira do interesse partidário, esquecendo o país que assiste atónito.

No domingo, Pedro Nuno Santos foi claro nas condições do PS para negociar, mostrando o que levava para cima da mesa: a discussão do IRC e do IRS Jovem. Só que, passados quatro dias, aquilo que parecia ser um princípio de conversa era, afinal, uma posição irredutível, sem margem para negociar duas medidas emblemáticas do executivo.

No mesmo domingo, Luís Montenegro afirmou que este era o “tempo de discutir”, mas precisou de esperar quatro dias e de ouvir o PS mostrar a sua faceta irredutível para vir dizer que, afinal, estava disposto a negociar o IRC e o IRS Jovem.

Neste jogo infantil de avanços e recuos, ninguém mostra vontade de encontrar um compromisso com seriedade e tentar evitar o abismo que será o país caminhar para um novo processo eleitoral ou ser governado a duodécimos. Ambos parecem cegos ao desgaste que irá sofrer o sistema, para aproveitamento dos populistas, se, desgastados e cansados, os portugueses forem votar e se, como não se fartam de mostrar as sondagens, desgastados e cansados delas saírem sem que o PSD consiga uma maioria de direita que não tenha de contar com o Chega (que, certamente, não é igual ao PRD) e sem que os socialistas obtenham uma maioria de esquerda.

Se não for em nome do país, ao menos em nome do seu interesse próprio, os dois partidos podiam tentar perceber que ainda é muito cedo para qualquer um deles ser decisivo nas urnas em vez de caminharem em paralelo para o abismo.

Nota da DE

Os que melhor o conheciam já escreveram, como Vasco Câmara, que, com a morte de Augusto M. Seabra, desapareceu “o mais criativo, cosmopolita, culto e abrangente da sua geração” e o “crítico prodigioso, brilhante muito para além do seu tempo”, como lembrou Nuno Pacheco. A forma como o PÚBLICO surgiu e a referência de jornalismo que se tornou deve muito à sua alma irrequieta, ao seu intransigente sentido cívico e à inteligência imensamente culta que partilhou com os leitores. Neste momento de dor e de vazio, para todos os que tiveram o privilégio de com ele privar ou de o ler, queremos aqui deixar o testemunho da nossa inextinguível gratidão.

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