Nunca houve tantos incêndios na Amazónia em Agosto nos últimos 14 anos

Desde 2010 que não havia tantos focos de incêndio na floresta amazónica brasileira em Agosto. El Niño contribuiu para a seca extrema que potenciou este fenómeno.

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Bombeiro do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais luta para apagar incêndio no estado do Amazonas Adriano Machado/REUTERS
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O número de queimadas na Amazónia brasileira no mês de Agosto foi o maior desde 2010, mostram dados de uma instituição pública divulgados no domingo. Uma seca recorde que está há vários anos a assolar a floresta contribui muito para este resultado.

No ano passado, as chuvas chegaram tarde e foram mais fracas do que o habitual, por causa do padrão meteorológico El Niño. Potenciado pelas alterações climáticas, este fenómeno cíclico deixou a floresta tropical especialmente vulnerável aos incêndios.

Também o Pantanal, uma zona naturalmente ainda mais húmida que a Amazónia, está a ter um ano negro: cerca de 2,3 milhões de hectares do Pantanal foram consumidos por incêndios desde o início de 2024, segundo dados actualizados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Isto significa que mais de 15% deste bioma brasileiro, que abriga flora e fauna únicas – incluindo espécies ameaçadas de extinção –, foram total ou parcialmente afectados pelas chamas este ano.

Os fogos tiveram início no final de Maio – o que é invulgarmente cedo para esta zona húmida, persistiram durante Junho e Julho, e, agora, em Agosto, ganharam proporções excessivas. Devido à seca extrema, que transforma em combustível o que devia ser matéria molhada, os incêndios no Pantanal brasileiro estão a trazer de volta memórias trágicas de 2020, quando o bioma foi atingido pelos piores fogos de que há memória.

Satélites detectaram 38.266 focos de incêndio na Amazónia brasileira em Agosto, mais que o dobro do que no ano anterior e o maior número para este mês desde 2010, revelam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Com a explosão das queimadas, os chamados “rios voadores”, que levam a humidade da floresta amazónica para outras regiões do continente, transformaram-se num imenso corredor de fumo que pode ser visto até do espaço. Ao longo de Agosto, o fumo espalhou-se por outras zonas do Brasil, a milhares de quilómetros de distância, atingindo pelo menos 11 estados, salienta a WWF-Brasil.

Os dados de Agosto, que mostram o valor máximo dos últimos 14 anos, surgem depois de, em Julho, os focos de incêndio na Amazónia terem já sido os mais elevados nas últimas duas décadas.

É de salientar que, embora estes dados sejam o indicador mais rápido que se pode ter da quantidade de incêndios na Amazónia, que normalmente atingem o pico entre Agosto e Setembro, não dão indicações sobre a intensidade do fenómeno.

Com muita frequência, os incêndios na floresta naturalmente húmida começam em explorações pecuárias, onde a selva foi convertida em pastagens para a criação de gado.

O ar mais quente e a vegetação mais seca criaram condições para que os incêndios se propaguem mais rapidamente e ardam com maior intensidade e durante mais tempo. A desflorestação também reduziu a capacidade da floresta tropical de produzir chuva e humidade.

Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil, disse numa avaliação inicial dos dados de Agosto feita na semana passada que os incêndios foram causados por uma combinação de meteorologia, alterações climáticas e acções humanas.

"A região onde detectámos fumo concentrado em Agosto coincide com o chamado 'arco do desmatamento', que inclui o Norte de Rondónia, o Sul do Amazonas e o Sudoeste do Pará", disse. Estas são as áreas dos estados da Amazónia onde a desflorestação mais tem avançado.

"Isto indica que, para além das alterações climáticas e do El Niño, as mudanças no uso do solo produzidas pelos seres humanos tiveram um papel central no aumento dos incêndios", afirmou Helga Correa.

Dados divulgados no fim de Agosto pela MapBiomas estimam que o Brasil perdeu 33%, ou 281 milhões de hectares, de matas naturais, superfícies de águas e áreas não naturais, como praias e dunas, desde 1500, início da colonização portuguesa. Desse total, 55 milhões de hectares foram destruídos na Amazónia.

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