Montenegro atira ao PS: “As eleições são só daqui a quatro anos” e “os troikistas são os socialistas”

No encerramento da Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, o primeiro-ministro negou querer eleições antecipadas e declarou que a única instabilidade é a da oposição.

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Luís Montenegro, à chegada para a sessão de encerramento da Universidade de Verão do PSD, numa unidade hoteleira de Castelo de Vide Nuno Veiga / LUSA
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O primeiro-ministro voltou a rejeitar que o Governo esteja "em campanha eleitoral" e, atirando à oposição e em particular ao PS, defendeu que as medidas que tem adoptado não são eleitoralistas, mas necessárias. Para Luís Montenegro, a interpretação é simples: quem fala em medidas eleitoralistas "é quem quer eleições". Procurando aliviar a pressão sobre o Governo, Montenegro sacudiu o ónus da responsabilidade de uma nova crise política e de uma ida antecipada às urnas. Para o PSD e para o Governo, "as eleições são só daqui a quatro anos", asseverou, acusando a oposição de "desorientação", "irresponsabilidade" e "instabilidade".

"A minha intenção é estar aqui durante quatro anos, a cumprir o Programa do Governo, com tolerância democrática para negociar algumas decisões [com outros partidos]", prosseguiu. Montenegro lembrou até que, à revelia do Governo, PS e Chega têm aprovado medidas no Parlamento que já estão a condicionar o próximo Orçamento do Estado, nomeadamente com a proposta de descida do IRS, que é "diferente do que o Governo queria".

"O Orçamento já está muito condicionado pelo conluio entre o PS e o Chega: vamos ter uma descida do IRS diferente do que o Governo queria e mais cara, abolição de portagens de uma forma que é injusta em si mesma e descida do IVA da electricidade", argumentou, acusando os dois partidos de agora se quererem "desvincular" das responsabilidades que tiveram no aumento da despesa.

O primeiro-ministro lembrou que o Programa do Governo "teve a aprovação do Parlamento e não foi rejeitado", isto é, não teve qualquer moção de censura. Por isso, a única responsabilidade pelo clima de crise política é a oposição, afirma o primeiro-ministro. Do lado do Governo, garantiu Montenegro, "não há nenhuma instabilidade política", nem ameaça de eleições antecipadas.

"A única instabilidade política é da oposição, que passa a vida a dizer tudo e o seu contrário, fala antes do tempo e é impulsiva", acusa o primeiro-ministro, depois de o seu antecessor, António Costa, ter dito que, "seguramente", não será por culpa do secretário-geral do PS que as negociações orçamentais não serão bem-sucedidas.

OE2025: "Estamos a tempo, em tempo e no tempo"

À crescente dramatização da oposição em torno da viabilização do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), Montenegro respondeu com o calendário político. "Em Julho combinámos que voltaríamos a reunir-nos em Setembro. E agora o líder do PS sente-se desrespeitado porque ninguém lhe disse nada em Agosto?", questionou, referindo-se ao pedido de informação orçamental feito por Pedro Nuno Santos e cujas respostas do Governo (que seguiram para todos os partidos com assento parlamentar) foram consideradas insuficientes.

À pressa do PS, Montenegro acrescentou críticas à forma "imatura e precipitada" com que, nesta sexta-feira, o Chega anunciou que se iria retirar das conversas em torno da viabilização do OE2025, invocando "negociações secretas" entre o PS e PSD (numa alusão à correspondência que teria sido trocada entre o líder do PS e o Governo, e que Montenegro desmentiu).

"De onde é que vêm estes fantasmas? De onde vem tanta desorientação? O que é que verdadeiramente os move?", continuou o primeiro-ministro.

Uma vez que a proposta orçamental do Governo apenas terá de ser entregue na Assembleia da República a 10 de Outubro, o líder do PSD defendeu que o executivo ainda tem margem temporal para negociar com os partidos. "Estamos no tempo, em tempo e a tempo de discutir", vincou.

Tendo em conta que os deputados do PSD e CDS são apenas 80, para conseguir aprovar o OE2025, o Governo AD precisa de uma abstenção dos 78 deputados do PS ou de um voto favorável dos 50 deputados do Chega.

O líder do PSD avisou que "o país está com o Governo" e deixou uma provocação, que, embora não tenha tido destinatário, foi directa a Pedro Nuno Santos: "O que não sabemos é se a oposição vai estar com o país", atirou, pedindo que não bloqueiem o trabalho deste executivo.

"Este Governo não precisa de eleições para governar ou se relegitimar. Temos o suficiente para cumprir o nosso programa, assim haja responsabilidade política", declarou o líder social-democrata, sem se referir aos socialistas.

"Os troikistas são os socialistas"

Na sua intervenção, o primeiro-ministro defendeu ainda a escolha de Maria Luís Albuquerque para a Comissão Europeia, rejeitando as críticas que a ex-ministra das Finanças seja o rosto da austeridade e devolvendo a responsabilidade da troika ​ao PS, que estava no Governo quando o pedido de apoio ao FMI, BCE e Comissão Europeia foi accionado, a 6 de Abril de 2011. Nessa altura, o chefe do executivo (demissionário) era José Sócrates. "Os troikistas são os socialistas", atirou Montenegro, o que lhe valeu um longo aplauso da sala.

"A história está mais do que ilustrada, sempre que houve troika em Portugal, os pais e as mães das políticas de austeridade que as troikas trouxeram foram os governos do PS. É factual, não é sequer susceptível de oposição", afirmou. E aproveitou o argumento: "Então, se fosse eleitoralista, ia buscar um rosto da troika? Isso seria contraditório entre si", afirmou.

Quanto às medidas que têm sido anunciadas pelo Governo e pelo partido, nomeadamente na rentrée do PSD há duas semanas, Montenegro argumentou que, se este executivo tem espaço para tantas propostas que têm sido apelidadas de "eleitoralistas" pela oposição, é porque o anterior executivo "não as tomou antes".

O líder do Governo estranhou que as reacções da oposição tenham sido "tão negativas" quando as propostas apresentadas pelo Governo visam "melhorar a vida das pessoas", referindo-se às medidas anunciadas na Festa do Pontal, há duas semanas.

Já antes, também Carlos Coelho, ex-deputado e presidente da Universidade do PSD, tinha rejeitado as acusações de que o Governo esteja a usar recursos para fazer "propaganda" eleitoral.

Depois de Leonor Beleza ter aproveitado a Universidade de Verão do PSD para desfazer dúvidas acerca de uma eventual candidatura a Belém, o primeiro-ministro justificou a referência às eleições presidenciais que faz na moção estratégica global com a qual se recandidata à liderança do PSD. Para o líder do PSD, só "desonestidade, distracção ou imaturidade" poderiam justificar que um candidato a um novo mandato que dura dois anos ignorasse o calendário das presidenciais de Janeiro de 2026. "Haja bom senso, encarem-se as coisas com a naturalidade que têm", disse.

Depois de voltar a defender a qualidade dos quadros do PSD, Montenegro voltou a destacar a imparcialidade do actual e do anterior presidentes da República, antigos líderes do partido, Marcelo Rebelo de Sousa e Cavaco Silva. "Podem acusá-los de muita coisa, mas há uma que não podem: pôr em causa a sua isenção e a sua imparcialidade e a forma como nunca, nunca, nunca favoreceram o partido de onde vinham."

A universidade que "outros tentam replicar"

Numa sala cheia de jovens sociais-democratas, Luís Montenegro elogiou a iniciativa partidária que "os outros partidos tentam replicar" e vincou que o que discute durante a semana da Universidade de Verão do PSD, que está na sua 20.ª edição, "não cai em saco roto". "Muitas das ideias nasceram de discussões travadas na Universidade de Verão da JSD. Uma dessas ideias é que houvesse uma maior expressão da prioridade política que o Governo dá às políticas da juventude. Nada é mais expressivo do que ter um Ministério da Juventude", argumentou.

A intervenção de Luís Montenegro só começou depois de o primeiro-ministro dedicar uma palavra a todos os familiares e amigos "dos cinco militares que morreram a cuidar de todos nós". No final do evento, o primeiro-ministro seguiu para as cerimónias fúnebres das vítimas do acidente de helicóptero que na sexta-feira matou cinco militares da GNR.

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