O Minho é sinónimo de depressão para o Benfica
Os “encarnados” ainda não venceram fora de casa e já deixaram fugir cinco pontos em quatro jornadas. Pressão sobre Roger Schmidt está a tornar-se insustentável.
Começa a ser tradição: Roger Schmidt e o plantel do Benfica saíram do Minho debaixo de assobios, com lenços brancos à mistura, depois de mais uma queda aparatosa no campeonato. Foi um empate no terreno do Moreirense (1-1), salvo no tempo de compensação, de grande penalidade, que comprova que a versão 2024-25 é apenas o prolongamento em agonia da sombra de um candidato ao título que disputou boa parte da temporada anterior.
Sejamos claros: esta terá sido, porventura, a exibição menos cinzenta dos “encarnados” até agora. Os laterais profundos, com muita gente em zonas interiores, alguns toques episódicos de magia individual (Di María ou Kokçu) e mais presença na área contrária do que tem sido hábito. Insuficiente, ainda assim, por larga margem, para desmontar a organização defensiva de um Moreirense que soube esperar pelos momentos certos para explorar transições.
Percebe-se que, mesmo nos momentos em que o Benfica cria desequilíbrios, as coisas não fluem. O índice de acerto dos laterais nos cruzamentos é sofrível, o timing de desmarcação dos avançados não é respeitado, e as combinações curtas surgem à razão de três ou quatro por jogo. É pouco, muito pouco para um candidato ao título, que começa a ser confrangedoramente fácil de anular para qualquer equipa que seja capaz de preencher o corredor central.
O arranque da primeira parte e o início da segunda ainda mostraram alguma iniciativa, com Kokçu e Di María por dentro no habitual 4x2x3x1, de dois médios siameses (Leandro e Florentino), e Pavlidis a tentar combinar de costas ou a pedir a bola no espaço. Houve remates aos 1’ (Kokçu), 5’ (Di María), 15’ (Di María) e pouco mais.
Em troca, o Moreirense respondeu ao colocar Madson na cara de Trubin, deixando a nu as tremendas fragilidades do Benfica no momento da transição defensiva, e ao fazer um golo, após passe errado de António Silva, que se preparava para fixar 1-0 no marcador antes do intervalo. O lance acabou por ser anulado por falta sobre Leandro Barreiro, após indicação do videoárbitro, mas serviu para acentuar o desassossego dos adeptos “encarnados”, em larga maioria nas bancadas.
Roger Schmidt decidiu apostar em Renato Sanches logo no reatamento (saiu Florentino) e a equipa ganhou mais poder de choque no miolo e mais capacidade para variar o centro do jogo. Esteve perto do golo aos 51’, na melhor combinação da partida (Pavlidis, Di María, Prestianni), com o grego a rematar à figura; e aos 53’, com Di María a desaproveitar um dos raríssimos cruzamentos bem medidos por Álvaro Carreras.
Muita posse, muito volume, mas nenhuma clarividência no último terço. E despejar Marcos Leonardo, Arthur Cabral e até João Rego em campo, à procura de um fruto do acaso, também não ajudava a desenhar um caminho para a baliza de Kewin, que continuava confortável, mesmo nas bolas paradas — dimensão do jogo em que as “águias” são totalmente inoperantes.
Neste contexto, e com o risco crescente, havia terreno fértil para o Moreirense espreitar a sorte. E ela chegou aos 84’, quando um passe errado de Carreras abriu caminho a Ofori, cujo remate ainda contou com um desvio em António Silva para surpreender Trubin.
Restava continuar a insistir, mesmo que sem lucidez, e as visitas recorrentes à área minhota valeram um penálti (por falta sobre Barreiro) que Marcos Leonardo converteu, já aos 90+7’, perante os protestos veementes dos jogadores da casa. Um alívio? Não, apenas uma aspirina aplicada para curar uma depressão profunda.